Capítulo 19

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ANNA

Já estou cansada dessa história massante e sem fim. É a segunda vez que deixo de me valorizar por causa de um menino. O pior é que foi pelo mesmo menino. Das duas vezes que fiquei depressiva. "Eu odeio o Jorge". Falo para mim em voz alta, tentando me convencer de que é verdade. Mas não é. Esse negócio de sentimento é tão confuso que me irrita. Queria ter a minha varinha aqui, e mudar a ordem das coisas.

Faz exatamente dezessete dias que não vou à escola. Minha mãe foi até lá dizer que estou viajando. Claro que ninguém acreditou, mas também não interferiram. As pessoas não sabem o que eu vi. Ninguém sabe o que aconteceu. Nem na escola, nem em casa. Naquela noite eu precisava esquecer. Eu precisava fingir que aquilo não tinha sido verdade. E a primeira coisa que me veio a mente foi sair da festa de Nátalie. Sérgio viu meu estado, mas não perguntou absolutamente nada. Simplesmente ficou ao meu lado, o tempo todo. Todo mesmo. Eu virei bicho naquela festa. Bebi tanto que não lembro de nada. Lembro só que acordei na casa de Sérgio. Mas não rolou nada entre nós. Ele disse que eu usei todos os tipos de bebida que estavam a disposição. Depois comecei a ficar fora de mim e dançar de maneira provocante com todo mundo. Sempre com um copo na mão. Fiquei chocada quando ele falou que eu tirei minha roupa e entrei na piscina só de langerry. Perguntei o que Nátalie estava fazendo esse tempo todo e ele simplesmente falou que ela deixou de ser a atração da festa, por isso saiu irritada. Mas tenho quase certeza de ter visto ela lá o tempo todo.

Esses dias eu tenho ficado no meu quarto maior parte do tempo. Saio apenas para comer. Minha mãe vive me perguntando o que está acontecendo. Dizendo que eu não posso abandonar os estudos. Tenta de todas as formas me animar, mas ela não pode mudar o que eu vi. Queria muito contar a ela, porém, é muito humilhante contar essa história para alguém. Por mais que eu saiba que ela vai me apoiar, não consigo contar nada a ela. Jessy já veio aqui também, mas não falei com ela. Ela deve pensar que eu estou com raiva ou algo assim. Eu estou com raiva, isso é fato, mas não com raiva dela. Estou com raiva de Jorge e principalmente, de mim. Eu fui a culpada, eu me deixei levar. Seria muito mais fácil se eu tivesse aceitado ele e Nátalie como namorados logo quando eu soube. Mas o que vivemos em Godava foi tão intenso, que não consegui. Parecia verdadeiro, sincero... não quero mais pensar sobre isso. Já que eu fui a principal pessoa que fez as coisas mudarem, vou fazer voltar ao normal. Antes, quando eu não queria saber do Jorge, malmente percebia a existência dele na escola, eu era mais feliz. Na verdade, os momentos que eu passei com ele foram os mais felizes e marcantes da minha vida, mas como isso não vai mais acontecer, irei simplesmente voltar ao passado e fingir que nada mudou. Não vai ser fácil para mim, mas tenho que tentar, doa a quem doer. É assim que começa. A antiga Anna estava se lixando para os sentimentos dos outros, portanto esse é o primeiro passo. Não quero prejudicar ninguém... droga! Na verdade, eu não ligo para ninguém. Só eu importo. Eu sou o centro. Eu quero. Eu posso. Eu consigo. Dane-se o resto.

A antiga Anna não passava um final de semana sem fazer compras. Sempre meu closet estava cheio, recentemente doei umas roupas para uma casa que cuida de pessoas em tratamento de câncer. Isso não posso deixar de fazer. Aquelas pessoas humildes não têm nada a ver com meus problemas. Assim que eu puder vou doar mais coisas além de roupas.

Eu preciso começar a pensar no meu futuro, qual área de trabalho irei seguir. Por enquanto me encontro em uma afinidade incrível com o meio ambiente. Não sei se minha mãe irá concordar e aceitar que não irei suceder ela em sua clínica. Mas não posso seguir em um área à qual não me identifico.

Decido ir para aula hoje. De cabeça erguida e fingindo que não me importo com nada. Quando finjo, esqueço, me sinto melhor.

****

Depois de colocar minha melhor roupa casual. Coloco os óculos escuros e vou para a escola. Chegando ao estacionamento, travo o carro e sigo para o corredor dos armários. Minha entrada não foi tão impactante quanto das outras vezes, até porque todos aqui me viram servindo na festa de Nat... okay, okay. Eu tenho que esquecer isso. Abro meu armário e pego os livros correspondentes às primeiras aulas. De repente, alguém me cutuca pelas costas.

- Anna, a culpa foi toda minha. Me desculpe. Por favor não deixe de ser minha amiga. Eu gosto muito de você...

- Hey, hey! - Interrompo-o até ela parar de falar. - Por que eu estaria com raiva de ti? Você não fez nada demais.

- Você não atende o celular. Sua mãe disse que você não queria falar com ninguém. Eu não sabia mais o que pensar. Eu não caí nessa história de que você viajou para outro estado. O que houve de fato? - Mudo de expressão quando ela me pergunta o que aconteceu. Bem... eu não posso esconder dela.

- Eu meio que fiquei muito mal por ter visto Jorge na cama com Nátalie na festa dela. Por isso resolvi me isolar de todos. - Respiro fundo para não chorar com a lembrança. - Mas isso não importa. Agora estou aqui de cabeça erguida. - Falo sorrindo falsamente.

- Eu não acredito! Me explica isso direito. Quero detalhes. - Ela me olha suplicando minha resposta.

- Nunca mais toque nesse assunto, tudo bem? - Digo meio grossa. - Eu já esqueci. Eu já esqueci. Eu já esqueci. - Repito baixo e rápido. - Vamos? - Sorrio de novo.

- Você está... diferente. - Jessy me observa. - Não diferente estranha. Na verdade, você está muito normal. Mas normal do seu jeito de antigamente. Antes daquele garoto aparecer.

- Você precisa saber organizar suas palavras.

- Ah! Você entendeu.

Ela notou a diferença. Jorge também vai notar. Não me importo mais com os sentimentos de ninguém. Da última vez que fiz isso, acabei me dando mal.


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