Seus pulmões ardiam de dor e seu coração martelava em disparada. Isso era comum, já fazia tempo que se acostumara com aquela rotina, viver de guarda, reagir e eliminar. Sempre alerta, esse era o preço a se pagar, mas esse valor acabara de aumentar e ele não estava disposto a continuar bancando aquilo.
Ela estava no chão. O Corpo inerte pesava sobre suas pernas. Sua mão estava ensanguentada e o cabo da faca brotava do crânio arruinado da besta. Ela tinha os olhos arregalados, não pelo fato de matar ou de estar naquele lugar. Finalmente havia acontecido e ela não conseguia acreditar que fora daquela forma.
Os dois eram sobreviventes, um dos poucos espécimes que restaram na face da terra, talvez fossem os últimos, mas isso não importava. Talvez fosse dever deles procriar, restauras a raça humana, mas não tinham tempo para isso. Estavam sempre em alerta, caminhavam dia e noite, estavam sempre ocupados tentando sobreviver.
O problema de não ter mais nada a se fazer no mundo é que as opções se esgotam. Norte, Sul, Leste ou Oeste, não importava mais, não havia mais o que procurar ou do que se arrepender. Por onde quer que caminhassem encontrariam apenas a morte por isso que decidiram voltar, se haveriam de morrer que fosse aonde foram felizes, mesmo que essa palavra não fizesse mais sentido algum. Voltaram para casa, uma pequena cidade ao sul. Ela continuava a mesma, algumas casas haviam sido consumidas por incêndios outras pelo tempo, os carros se amontoavam inúteis nas ruas e avenidas, mas ainda podia se ver os restos do passado, as ruinas da humanidade que viveu antes do caos.
-Bom! É aqui. - Ele disse ao ver a antiga casa de sua parceira, estava em frangalhos, mas ainda restavam fragmentos de uma vida naquelas paredes.
-É - Era difícil olhar para a estrutura e não se lembrar, ela podia ouvir sua avó incomodada com as crianças que corriam e berrava dentro da casa. -Vovó com o joanete inchado usava um cabo de vassoura para se empurrar na rede. -Ela sorriu baixinho. Aquilo era perigosos, lembranças despertavam sentimentos e eles sempre vinham acompanhados de morte.
-Eu lembro. -Ele degustou aquela lembrança com poucas risadas, era como se lembrasse de uma sobremesa que lhe adoçou a boca.
Naquele tempo depois do mundo não havia muitas regras, tudo havia mudado. Não havia leis e as que existiam e que eram comandadas pela natureza eram brutais. Os dois seguiam apenas três regras que os levaram ate ali: matar era sobreviver, caminhar era sobreviver e esquecer é sobreviver, as três regras se resumiam em uma palavra que se desrespeitada era punida com a morte, viver sempre em alerta.
A casa foi uma armadilha. Eles se traíram ao voltar. Era inevitável lembrar, sorrir. O passado era doce e agradável, era caloroso, era tranquilizador. Ela Olhava a casa de bonecas na casa de uma amiga, algumas quadras de distancia da sua, a amiga devia ter falecido nos primeiros meses, isso não importava mais naquele momento o que importava era aquela casa de bonecas e as lembranças que nela havia impregnadas. Ela estava em outra realidade quando o homem saltou sobre ela. Ele vestia aquilo que um dia fora um terno, que agora se resumiam a trapos. A pele era pálida e cheia de veias negras que lhe subiam pelo pescoço, seus olhos leitosos eram selvagens e o crânio cheio de hematomas estava carcomido pelo tempo em vários pontos. Ela se virou com agilidade. Agarrou o pescoço, logo abaixo da mandíbula da besta, para que ela não pudesse desferir nenhuma dentada próxima ao seu corpo, esticou os braços para mantê-la longe e clamou por seu parceiro.
Ele subiu a escada correndo e acertou um tiro na costela magra assim que entrou no cômodo, isso atraiu a atenção da besta, ela aproveitou a deixa, sacou a faca e a cravou na nuca, foi a surpresa que a fizera erra o golpe e isso lhe seria cobrado. A besta caiu sobre ela e continuou a se mexer. Com um berro de fúria ela fincou a faca na moleira da besta, arrancou a faca e tornou a cravar, fez isso até perceber que estava completamente coberta de sangue.
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O ultimo homem da terra
Short StoryNo mundo mergulhado no caos um homem recebe a missão de preservar consigo os últimos resquícios de seu tempo e manter se vivo.