Tic Tac

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- Rosana! Rosana! - A voz de Gancho invadia meu subconsciente como uma melodia suave.

Segui o som de sua voz, e ela parecia me conduzir, era possível sentir a presença dele, o calor que irradiava do seu corpo alcançando o meu, seus dedos entrelaçados invisíveis ao olho mas tão visível ao coração.

Caminhei ouvindo o som da voz de Gancho deixando o medo se esvair como se a voz dele tivesse o poder de me deixar imune ao medo e a todos os perigos.

Parei em frente a uma caverna sombria e escura, tantas pedras negras úmidas me cercando e nenhum luz pra me ajudar a enxergar aonde eu estava pisando. O som da voz de Gancho continuava a ser ouvida como um sussurro melódico, apoiei minha mão sobre uma pedra e então um brilho verde começou a circular por toda a caverna iluminando e dando vida a uma história escrita nas pedras, as letras elegantes se tingiram de verde fluorescente, me coloquei a ler rapidamente as escrituras destacadas na pedra escura; Contos de fadas!

A voz de Gancho se tornava cada vez mais forte, eu podia sentir suas mãos em meus braços me apertando como quem tentasse me despertar de um sono profundo, mas eu precisava ler, precisava terminar de ler os contos de fadas, me apressei ao notar que os finais estavam alterados, não haviam príncipes nas histórias, não haviam finais felizes.

A voz de Gancho desapareceu e um tic tac suave a substituiu, o som de ponteiros de relógio ecoavam pela caverna.

Meu instinto me dizia " Corra Rosana, corra!"
E dessa vez o obedeci, meus pés descalços pulavam as pedras escorregadias, a única iluminação era pela tinta verde que cintilava nas paredes, enquanto eu corria em busca da saída, as palavras se despreendiam e flutuavam no ar, dançavam silenciosamente uma valsa atrapalhada e penetravam no pingente da pulseira que meus irmãos haviam me dado.

Tic tac, tic tac...

O som ficava cada vez mais alto, mais próximo, o som do tempo me causando ansiedade, como uma alerta de que o meu tempo estava se esgotando.

Tão cliché quanto em filmes de terror a moçinha cair ao chão feito uma fruta podre assim eu me estabaquei, meu corpo chocou - se contra a pedra fria e quando meus olhos se abriram novamente eu estava de volta aos braços do meu Capitão Gancho!

Seus olhos alertas me deixaram apreensiva, Gancho olhava para o nada enquanto o tic tac ecoava pela densa floresta.

- Mas o que é isso? - Questionei.

- O crocodilo! - Ele blasfemou como se o nome fosse um palavrão.

- Mas você disse que era mito! - Afirmei enquanto me levantava.

- E você já devia ter aprendido a nunca acreditar em um pirata! Precisamos correr.

- Correr? - Perguntei incrédula. - Você é o capitão Gancho! Não corre de uma briga.

Gancho me encarou como se eu fosse uma maluca.

- Isso é o Crocodilo! Esse som é o do meu relógio que ele engoliu quando arrancou fora minha mão! Rosana ele não é o tipo de briga que eu quero enfrentar!

- Mas Gancho, por toda sua existência você tem fugido dele. Ele é seu único medo, você precisa enfrentá - lo.

- Nada de enfrentamento hoje, Ok?
Vamos correndo que é mais seguro.

Sua mão agarrou meu pulso e saímos correndo pela floresta enquanto o tic tac ecoava por todo lado, o som do relógio parecia uma cigarra encantada, parecia vir de todas as direções como se fosse pra despistar o quão próximo e em que direção ele estava.

Gancho me arrastava pela floresta, meus pés faziam barulho ao tocar as folhas secas no chão, os galhos atingiam - me nas partes descobertas do corpo abrindo leves ferimentos em minha pele.

Rosana A Herdeira Impetuosa Onde histórias criam vida. Descubra agora