Dezessete

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São quase 04:30hrs da manhã e nós quatro saímos da Galaxy's rindo alto lembrando das coisas que aconteceram durante a noite – como, por exemplo, dois caras que brigaram pela atenção de uma garota e nem perceberam quando ela saiu beijando um terceiro.

-É por isso que eu sempre venho a Galaxy's quando estou de mau humor – Marcos diz apoiando o braço direito cobre os ombros de Aline.

-Por isso, e também por causa da Jeff – Aline diz sorrindo, Jeff é uma bartender da Galaxy's, ela e Marcos sempre se pegam atrás do balcão quando a gente vai à boate.

-É, não posso negar que esse é um ótimo motivo. – Ele ri.

Vamos andando pela rua conversando e indo em direção a casa de Marcos e Aline.

-Acho que a gente está errando o caminho, Thomás – João diz rindo.

-Não, nós não estamos errando o caminho – respondo. – Nós vamos levar Marcos e Aline a casa deles.

-O que vamos fazer amanhã? – Aline pergunta quando paramos na entrada da sua casa.

-Vamos ao festival das bandas, obviamente – Marcos diz bocejando.

-Isso mesmo – digo. – Então vão dormir logo que nós vamos aproveitar intensamente o dia de amanhã.

João e eu vamos andando pela rua em silêncio até que ele decide que quer conversar:

-Por que saiu da cozinha hoje mais cedo? Eu sei que você não foi tomar banho.

-Eu saí porque meu pai quer fazer essa pose de ótima família na frente sua e de seu tio – respondo simplesmente. – Eu e meu pai nunca nos demos bem, mas para as pessoas de fora nós somos... éramos como melhores amigos. Mas depois do que ele fez eu não estou disposto a fazer esse papel.

Continuamos a andar em silêncio até que, dessa vez, eu decido que quero conversar:

-Como é a sua relação com o seu pai?

-Não existe relação, eu não tenho pai – ele diz sorrindo. – Quer dizer, é claro que foi preciso a parte de um homem para que eu nascesse, mas um pai de verdade eu não tenho. Minha mãe teve a mim e o meu irmão por inseminação artificial.

-Tudo bem, me conte todos os detalhes dessa história – digo sorrindo.

-Minha mãe sempre sonhou em ter filhos, minha avó diz que desde muito pequena ela já dizia que queria ser mãe – ele conta. – Mas o tempo foi passando e ela não encontrou nenhum homem que fosse bom o bastante para ser o pai de seus filhos, então ela decidiu que seria mãe independente de ter um homem ao seu lado ou não, então ela decidiu tentar a inseminação artificial.

Ele para pôr um momento quando precisamos atravessar correndo a rua para não sermos atropelados por um carro.

-Toda a família à apoiou (exceto a irmã da minha avó, mas ninguém nunca se importou com a opinião dela) – ele diz rindo. – Ela conseguiu engravidar na primeira tentativa, o que foi realmente muita sorte, e então o meu irmão nasceu; quase três anos depois ela ainda não tinha encontrado "o homem perfeito" quando decidiu fazer outra inseminação artificial e eu vim ao mundo.

-Você e seu irmão são muito diferentes um do outro? – Pergunto. – Digo, a aparência.

-Quando escolheu o perfil dos doadores minha mãe queria que fossemos bem diferentes mesmo (é, minha mãe é bem louca) – ele diz sorrindo. – Mas nós puxamos muita coisa dela, a nossa grande diferença está no nosso biótipo e nos cabelos.

-Toda essa história da sua mãe é bem... Diferente. – Digo e sorrio ao lembrar do que ele falou no dia que me conheceu.

-Sim, mas de toda forma o que eu aprendi com a história da minha mãe é que, ao contrário do que a sociedade diz, nós homens não somo assim tão essenciais na vida de uma mulher.

Depois de alguns minutos andando nós chegamos em casa, quando entramos João sobe direto para o quarto e eu vou até a cozinha beber um pouco de água.

-Achei que vocês haviam decidido ido dormir na casa da Aline e do Marcos – meu pai diz assim que eu entro, ele está sentado em um dos bancos junto ao balcão com o computador e um monte de papéis à sua frente.

-Decidi que eu poderia me deitar sob o teto dessa casa pelo menos por mais alguns dias. – Abro a geladeira e pego uma garrafa pequena de água.

-Thomás, por favor... – Ele diz.

-Por favor? – Digo me segurando para não gritar. – Eu já não estou fazendo o que você me pediu e ainda posando de bom filho para seus convidados? Não tem ninguém aqui agora, pode voltar à ser você mesmo e não se importar com nada mais além de seus negócios.

Saio da cozinha completamente irado e subo a escada depressa indo para o meu quarto, depois de beber toda a água na garrafa me deito e fico olhando para o teto sem conseguir dormir até que a luz do sol que entra por minha janela começa a queimar meu braço direito.

A Inútil Capacidade de Ser ReceosoOnde histórias criam vida. Descubra agora