Seus pequenos pés já doíam, era provável que o contato excessivo da sandália entre seus dedos já formavam calos neles. O sol escaldante daquela cidade era quase palpável, era difícil ate mesmo para se respirar, o ar entrava pelas narinas provocando uma sensação desagradável de ardor. O suor encharcava sua camiseta rosa, fazendo a mesma grudar no corpo magro e desengonçado. Os cabelos balançavam de acordo com o corpo dela, mas alguns fios insistiam em atrapalhar sua visão, já embaçada pelas lagrimas que insistiam em cair.
Correr.
Era apenas o que sua mente insistia em gritar para seu corpo. Correr antes que fosse tarde. Era ela contra o tempo, o pouco tempo que tinha. Como podia ter sido tão tola e se perdido assim? Seus pais não haviam notado sua falta? Sorriu irônica. Era obvio que não. Apesar de saber que sua mãe a tratava como uma boneca de vidro, estava preocupada demais com o que iria vestir em sua última noite naquela cidade escaldante, e seu pai, bem esse com toda certeza entraria em pânico, se fosse seu celular perdido, e não sua única filha de sete anos. Começou a sentir o pavor dominar seu corpo, não ligava se seus pés ficassem em carne viva, ela apenas não queria ser esquecida, não de novo. Era apavorante demais ficar só, por mais que estivesse acostumada com a ausência dos pais, não queria dizer que realmente estava só.
Tinha, alguns poucos amigos com quem contava, já era o suficiente. Mas naquela cidade, nada conhecia, nada ali tinha.Passou as costas das mãos nos olhos de uma forma desengonçada, a fim de enxugar as lagrimas que desciam e acabou esbarrando em algo, fechou os olhos bruscamente esperando o pior. Seu reflexo foi se apoiar com suas mãos tentando amortecer sua queda, se arrependeu ao senti-las arder pelo contato com a calçada quente. Caiu sentada, mas ainda assim não era menos doloroso. Abriu os olhos pra ver o que havia atingindo.
Arregalou os olhos quando viu um garoto, não mais velho que ela sentando na mesma posição que a mesma. O garoto resmungava baixo, se levantou com rapidez procurando lhe havia atingido. Seus olhos verdes opacos se prenderam na garota a sua frente ainda caída no chão. Sua pele era clara, mas era possível ver o rubor da garota que o fitava intensamente, ainda assustada, os cabelos, de uma cor exótica, eram rebeldes e alguns fios cobriam sua face.Rosa.
Essa era a cor de seus cabelos. Mas os olhos eram de um verde tão vivo que parecia ver a alma do garoto. Sem pensar porque estava sendo gentil, o garoto lhe estendeu a mão, para que ela pudesse levantar. A garota a frente piscou algumas vezes atordoada, antes de finalmente segurar na mão dele. Sentiu uma corrente percorrer seu corpo, e assim que estava de pé, o garoto largou sua mão bruscamente, ele também havia sentido essa corrente. O rosto do garoto a sua frente parecia de cera, ele era bem mais claro que ela, o nariz era reto e os lábios finos, não havia muita expressão em seu rosto e nem brilho em seus olhos.
Verde-águaEssa era a cor deles. Mas a cor que chamava sua atenção eram os cabelos escarlates. Vivos. E o Sol o deixava mais vermelho.
- Não acho que você seja cega.
O ruivo não sabia por que estava a falar com ela, ele não era muito sociável, na verdade não tinha amigos e nem família. Era do tipo que só respondia o que lhe perguntavam e usava poucas palavras.
Certa vez a diretora do orfanato ao qual o ruivo morava, relatou que ele precisava de ajuda especializada, não era normal um garoto de oito anos não falar, não interagir e não se expressar. O psiquiatra do orfanato afirmou que o menino sofria de Alexitimia, algo que o ruivo nem sabia que existia, um distúrbio que faz a pessoa não expressar suas emoções, seja na fala ou nas expressões corporais. Ele era frio apenas, era simples.
Mas saber disso só o deixava mais estranho aos olhos dos outros órfãos, que adoravam lhe ofender com apelidos.O louco estranho ruivo.
Ele já estava acostumado, não fazia diferença no final das contas.
- Me desculpe...
A menina sentiu seu rosto esquentar, os olhos dele, a fitava de uma forma penetrante a deixando nervosa. Ela não sabia que sensação era essa, mas era quente e aterrorizante ao mesmo tempo. - Eu sou Sakura. Haruno Sakura.
Ela estendeu a mão nervosamente ao ruivo. Que desviou seus olhos do rosto dela para mão estendida a sua frente. Não queria tocá-la de novo, não queria sentir aquela corrente novamente, mas seu corpo parecia não querer obedecê-lo. Apertou a mão dela, sentindo um choque percorrer sua mão indo ate o cotovelo, como se espelhasse por todo seu corpo ondas elétricas.
Jamais havia sentindo isso, mas era bom e assustador.
Assustador?
Mas ele não tinha medo, ele não sentia nada.
- Gaara.
Ele disse sem entender porque ainda estava ali. A garota sorriu fazendo pequenas covinhas se formarem em seu rosto e seus olhos verdes esmeraldas brilharem intensamente. Gaara não deixou de notar no rosto dela as marcas da lagrimas secas e sujas. Na verdade apesar de esta bem vestida a garota estava suja, não que ele estivesse melhor que ela. Suas roupas eram de segunda e bem maiores que seu tamanho, apesar de alto pela idade que tinha.
- Por que estava correndo?
O ruivo perguntou, já não se condenando por qual motivo estava a conversar com ela.
Normalmente eram as pessoas que lhe faziam perguntas e não ele.
- Ah! - a rosada arregalou os olhos se lembrando o motivo de seu desespero antes de esbarrar em Gaara - Eu tenho que ir!
Ela respondeu nervosamente. Gaara estreitou os olhos. Ela era estranha, talvez bipolar, pois seus olhos agora brilhavam, mas de agonia.
O ruivo a viu passar por ele e a mesma estancou se voltando bruscamente para ele.
Choque.
Sentiu seu corpo inteiro se eletrificar, pequenos braços o rodeavam. O calor e o perfume da rosada era doce misturado com o suor de seu corpo. Olhou, ainda petrificado, pra baixo, afinal ele era mais alto que ela alguns centímetros. O rosto dela colado em seu peito era reconfortante e quente.
A rosada fechou os olhos fortemente apertando o garoto contra si sentindo o coração do mesmo bater rápido, o que fez ela sorrir. Não se importava e nem entendia, por que estava fazendo isso, ela apenas sentia que tinha que fazer. Gaara levantou suas mãos um pouco e sem motivo algum ele apenas a abraçou de volta. Ele não queria que ela fosse, e nem sabia por que se sentia assim.- Eu nunca vou esquecer você!
O mundo parecia girar lentamente, era como se estivesse parando naquele momento. E voltando a rodar novamente com toda a velocidade quando a garota de cabelos rosa sumiu entre as ruas quentes de Suna.
Gaara fitou o nada, onde a menina havia sumido correndo. Ele se deixou suspirar e tocou com a mão direita seu peito esquerdo, seu coração estava acelerado, algo novo para ele.
Mas o que era isso? Era bom. Ele balançou a cabeça e voltou a seguir seu caminho, seu corpo estava ali, mas sua mente estava longe. Ele não era ninguém, apenas mais um órfão, mais um esquecido.
-Acho que você irar me esquecer Haruno Sakura!
(...)
- Finalmente garota, onde você estava? - uma mulher vestida elegante batia o pé perto de um carro, o vestido preto era colado, mas não havia muito detalhes e qualquer decote exagerado, o chapéu também preto lhe cobria os cabelos dourados escuros - Por Deus o que aconteceu com você? A mulher lhe olhava com nojo. A menina não estava nada parecida com ela, os cabelos uma bagunça, o rosto manchado e sujo, as roupas molhadas de suor e também sujas. Desde quando ela criava um animal e não uma garotinha.
Sakura não escutava sua mãe, apesar de a mulher não parar de falar um só minuto e culpar seu pai por ela ser diferente das outras garotas de sua idade e convívio. A menina levava no rosto um doce sorriso e olhos brilhantes.Gaara.
Esse era o motivo pela sua felicidade, o amigo que havia feito em Suna, a cidade pela qual ela não havia gostado devido o calor infernal, mas que agora ansiava em voltar a visitar. Antes ela estava perdida, mas agora não mais.
- Eu não vou esquecer você Gaara-kun!
The End
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Esquecidos
FanfictionVocê já se sentiu esquecido? Como se ninguém mais pudesse lhe enxergar? Como se você fosse o ultimo a ser escolhido, ou como sempre esquecido? E então você se encontra. Vocês se encontram. Dois lados de moedas. Duas vidas diferentes. Destino? Coinci...