Capítulo Único

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1975.

Preto.

O vestido era preto.

Uma perfeita ironia, na opinião de Andrômeda.

Aquela festa não passava de mais uma das milhares de tradições encravadas no sangue Black. A festa de noivado das três irmãs seria no mesmo dia, e todas elas estavam com vestidos pretos, só mudando o estilo.

Narcisa e Bellatrix tiveram a liberdade de escolher os seus vestidos, além dos noivos. Enquanto que Andrômeda não teve liberdade para nem um, nem para outro. Já não tinha a mesma preferência que antes, desde que começou a mostrar que não aprovava aquela ideia de superioridade dos sangues puros.

Seus pais, no início, pensavam que era uma fase. Depois de um tempo, perceberam que essa "fase" não passaria. Arranjaram um noivado entre ela e Sirius, pensando que, como se davam bem, isso serviria para manter a pureza de sangue, mas Sirius fugiu de casa, cortando as relações com a família.

Desde então, os seus pais olhavam-na como se fosse uma bomba de relógio. Andrômeda sabia bem que Bellatrix enchia a boca para contar mentiras sobre ela, querendo ver o circo pegar fogo.

Narcisa e Bellatrix estavam prometidas em casamento há bastante tempo, mas a tradição dizia claramente que deveriam esperar Andrômeda noivar também, para poderem fazer a festa de noivado. Além do mais, Narcisa era a mais nova das três, e não seria bem visto pela sociedade se a filha caçula se casasse antes da filha do meio.

Andrômeda achava essa tradição muito estúpida, como tudo na pureza de sangue.

— O seu vestido está em cima da cama, Andrômeda — disse Druella, ao pé da escada, a postura rígida, como se estivesse falando com uma visita — Bellatrix irá te ajudar com a maquiagem. Coloque um salto!

A última coisa que ela queria era ver o rosto debochado de sua irmã mais velha.

Nunca se deram bem, ela sempre teve um vício particular em ver as pessoas sofrendo, quando Andrômeda corria para socorrê-las. Narcisa fazia jus ao seu nome, importava-se somente quando as coisas lhe diziam respeito.

— Esse salto ficará bom em você — Narcisa entrou no quarto, sem olhá-la nos olhos.

— Obrigada — disse Andrômeda, sentindo-se triste por não ser mais "digna" do carinho da irmã mais nova, a quem sempre sentiu uma necessidade de proteção.

— Você deveria fazer alguns cachos em seu cabelo, mas soltos. Ficaria lindo! — ela acrescentou, deixando os sapatos ao pé da cama, e saindo, sem dizer mais nada.

Estando ali, olhando fixamente para o vestido, sem vontade alguma de se mover, ela nunca sentiu tanta falta de sua infância. Saudade de ter uma família mais carinhosa, que não se importasse tanto com o que as outras pessoas pensavam... E, principalmente, uma família que a permitisse escolher por quem se casar.

— Vamos logo com isso!

Ela virou-se para ver a Bellatrix, toda pronta. Ela conseguia arrumar-se perfeitamente em poucos minutos, uma habilidade não adquirida por Narcisa, que demorava horas para passar um rímel.

Andrômeda sentou-se no baú, que ficava na frente de sua cama dossel (como em Hogwarts), vendo como Bellatrix pegava a caixa de maquiagem, sem vontade, só esperando pelo momento em que começaria a ser importunada pela irmã.

Não precisou esperar muito tempo.

— Se nossos pais soubessem por quem você se apaixonou... — Bellatrix fez uma cara de desgosto — Eles já estão recorrendo ao casamento, desesperados para ver se você toma jeito. Só que você não tem mais jeito! Apaixonou-se por aquele sangue ruim da Hufflepuff. E você acha que ninguém sabe? Se os nossos pais soubessem sobre esse romance, nem o casamento te salvaria. A nossa família estaria na lama por gerações.

So ColdOnde histórias criam vida. Descubra agora