Pretty Woman - Jailey

Capítulo 18 - R.I.P

É aquele lance de a gente nunca acha que vai acontecer com a gente.

Eu nunca imaginei que aquela notícia chegaria em mim. Ou em qualquer categoria daquela. Era muito surreal. Surreal demais para pertencer a essa realidade.

Nunca tinha visto o Luther assumir aquela pose. Tristeza na sua forma mais limpa, intensa e verdadeira.

Mesmo que ele fosse todo durão e não nos visse mais do que apenas prostitutas. Cami era diferente. Pra todo mundo. Ela era especial. Ela era uma pessoa que conseguia cativar geral, até os corações mais duros.

Quando Luther bateu na minha porta e eu dei de cara com ele. Os olhos meios inchados e evitando direcionar os para os meus.

— Preciso conversar com você — ele falou sem enrolação.

— O que tu quer? — falei rude. Sem saber que as próximas palavras acabariam com tudo o que eu achava que estava certo e com tudo o que eu achava que tinha. As palavras seguintes, me fizeram ver a vida como ela e principalmente, a rapidez com a qual ela passa.

— Cami tava trabalhando para os lados da zona sul — ele entrou dentro do cubículo sem ter exatamente a permissão.

— E? Não vai achando que isso vai render mais dinheiro não. A zona sul é mais mão de vaca do que tu pensa.

— Hails?

— O quê?

— Um grupo de filhinho de papai se sentiu ofendido com a presença da Cami.

— E aí? Processaram ela?

— Não — ele suspirou. — Surraram ela.

Eu a encarei. Surraram? Meteram a porrada? Que história é essa? Cami é só uma garota, faz escolhas pra sobreviver. Ninguém vive isso aqui porque é divertido. O corpo dela e é ela quem decide o que fazer com ele. É complicado denais entender isso? Como alguém tem coragem de socar, chutar, bater em alguém como Cami? Só de olhar pra ela, a gente ver toda a fragilidade dela. É inumano.

— Em qual hospital ela tá? — suspirei. — Já foi internada?

— Hailey? — eu nem precisei olhar pa ele ou assentir. Ele sabia que eu estava ouvindo e eu sabia porque ele estava me chamando daquele jeito. A compreensão me atingiu mais rápido do que eu poderia desejar. — Surraram mesmo. Pra valer. Deixaram ela inconsciente e depois da inconsciência, acharam engraçado vê-la apanhando.

— O que quer dizer?

— Cami tá morta. Ela não resistiu.

O meu mundo começou a desabar. Devagarinho e depois de repente. As coisas grandes e as pequenas voltaram a mim. As coisas que deixei de falar, as coisas que ela nunca alcançaria, o sucesso, a faculdade dela. Coisas que haviam sido roubadas dela por puro capricho burguês.

E por fim, o que seria de mim? Era eu quem cuidava de Cami mas saber que ela estava ali pra mim, era reconfortante.

Aquela maluquinha.

Tiraram a vida dela por escolhas dela. Era demais pra que eu pudesse aceitar. Eu nem tinha o que aceitar... Porque ela tava morta. Roubaram toda a vida que ela tinha.

Eu desmontei no chão e comecei a chorar. Meio engasgada e depois todas as lagrimas que caiam como cascata dos meus olhos. Luther saiu. O luto dele era diferente. E ele não tinha vivido com Cani metade do que eu vivi.

Ela era a minha melhor amiga. E a maior coisa que eu conheci sobre o amor. Ela era tudo o que eu sabia sobre o amor até então. Ela me curou o suficiente pra viver por mim. Me ensinou a ser forte e a ser auto-suficiente, mas ela não me ensinou a ficar sem ela. Não me ensinou a dar adeus.

Ela nunca me julgou e por estar no meu lugar que eu e vivendo da mesma forma. Nós nos completávamos. Ela era minha melhor amiga e amizade não é algo que se explique. Era também a minha única família.

Ela me apresentou pra esse mundo, é verdade. Mas ela também me mostrou o lado bom da vida. O lado em que eu fazia minha escolhas, em que eu era responsável por mim. E o melhor de tudo, ela me deu oportunidade de conhecer o Justin. Mesmo que tivéssemos terminados mal, conhece-lo foi uma das melhores coisas que me aconteceu.

E agora, eu tinha perdido Justin e Cami. Agora era duas superações que eu tinha de dá.

Na verdade, esse foi o ponta pé inicial para que eu parasse de sobreviver e tivesse uma vida.

Viver e aproveitar isso.