Eu sou America

49 9 0
                                    

Max, o garoto esguio de cabelos extremamente negros e olhos azuis, levantou da cama ainda fraco, dores excruciantes das quais a origem ele não tinha a mínima ideia percorriam seu corpo. Barulhos de risadas e conversas alheias corriam pela casa até chegarem ao andar de cima, onde ficava o quarto de paredes brancas com uma decoração que ia de diversos posters de bandas famosas ate prateleiras de livros empoeirados, a casa parecia cheia. Aos poucos o garoto caminhava lentamente tateando a parede e tentando não cair, a cada passo uma dor aguda entupia suas costas, não conseguia lembrar de nada, nem como havia dormido, nem sequer como havia chegado em casa. Quando alcançou a metade do corredor que levava até a escada de acesso do primeiro andar tudo a alcance de seus olhos começou a girar e na tentativa precipitada de erguer o pé para um curto passo, sentiu a mão escorregar da parede e foi direto ao chão, caindo em uma posição que não favorecia seu braço já bastante dolorido.

– Harrrr... – O enorme estrondo do corpo do garoto atingindo a piso de madeira e o grito repentino que nem mesmo ele tinha alguma expectativa de que conseguiria soltar fizeram as conversas no andar de baixo cessarem e em dolorosos e extensos segundos era possível ouvir passos rápidos subindo os degraus da longa escada de madeira que rangiam de forma deliberadamente fraca e assim como já esperava se deparou com o sapato social inconfundível para si, seu pai, um homem de corpo atlético, com olheiras profundas e os mesmos cabelos extremamente negros do garoto estava de pé bem a sua frente.

– Max. Se acalma. – O homem pegou o garoto no colo e acomodou ele em seus braços, com os corpos colados como não fazia desde que tinha no máximo oito anos e desceu as escadas devagar, com o maior cuidado que o Max já vira o mesmo ter um dia e repousou ele em uma poltrona velha que se encontrava bem ao lado de uma lareira que no momento não ostentava nem sequer um fiapo das chamas normalmente exibidas no local, logo em seguida passando direto para a sala de jantar, de onde no mesmo momento ouvira ressonar a voz de sua mãe, mas também vozes ainda desconhecidas para ele.

– "O que aconteceu Damian?! Foi Max?! Meu filho está bem?!" – A mãe do garoto que era uma mulher alta e magra, de cabelos curtos e olhos azuis que ressaltavam seu rosto fino de curvas delicada, vociferou em um certo tom de preocupação. –

– "Ei, Diana, Amor, calma, ele apenas tentou levantar e acabou caindo no corredor, só isso, ele vai ficar bem." – O homem disse tão rápido que em certo momento Max teve a impressão de que o pai iria engasgar como já havia acontecido várias vezes quando era colocado sobre certa pressão que vinha quase que sempre de sua mãe. –

– Isso é um alívio para nós. – Uma voz grossa e desconhecida que aparentava ser masculina disse em um tom tão baixo que Max mal conseguira escutar apesar da proximidade minima entre os dois cômodos. Logo em seguida um tipo estranho de apito começou a ecoar pela casa, o primeiro pensamento de Max, é claro logo depois da vontade de gritar pelos espasmos, foi no simpático treinador Finn Hudson que coordenava suas aulas de educação de física e que tinha um apito de tom parecido, mas raciocinou melhor e notou que seria quase impossível ele estar alí, assim notando que o apito vinham da chaleira de ferro que sua mãe frequentemente utilizava para preparar chá. Em pouco tempo o apito desapareceu e ele pode ouvir passos mansos, junto de outra voz estranha, só que essa parecia ser feminina, limpa e bem agradável, o que por incrível que pareça acabou lembrando a ele a cantora Pop Adele. – "Então Diana, nós estávamos observando e parece que a vizinhança é bem calma." –

– "Sim, é bem calma e agradável. É difícil acontecer algo perigoso ou até mesmo mais agitado por aqui." – A mãe de Max respondeu devagar em um tom agradável e no momento exato que encerrou a frase atravessou o arco alto que separava a sala de estar da sala de jantar, seguida por Damian, o paí do garoto e o casal mais estranho que Max já vira em sua curta vida, eram um homem alto de aspecto gorducho, sem sequer um fio de cabelo na lisa careca e uma mulher que parecia mais uma modelo do que uma dona de casa, cabelos loiros naturais que caiam pelo ombro e estendiam até sua cintura fina, olhos ainda mais azuis  que os de sua própria mãe e uma altura que por pouco não atingia os dois metros. Todos os quatro se sentaram nos dois grandes sofás da sala e a mãe de Max posicionou uma pequena bandeja com o um bule de chá que o garoto ainda não havia notado que ela carregava sobre a pequena mesa de centro que ficava bem entre os dois sofás. De repente todos viraram os olhares para ele, o que o fez sentir-se estranho e com uma vergonha que ele dificilmente sentia, parecia que eles esperavam um movimento ou até mesmo uma palavra dele. – O que foi? – Ele soltou as palavras em um tom baixo, quase de um sussurro, corando um pouco e todas riram levemente como se aquela situação tivesse, na real, alguma graça.

– "Como se sente filho?" – A mãe do garoto perguntou com sua voz dócil e tomou um gole de sua xícara de chá, ainda com o olhar fixo em seu filho. Ela esperava que o garoto dissesse algumas palavras de certa forma confortantes, mas mal sabia ela que Max nem sequer estava entendendo eles.

– Como deveria me sentir? – Ele arrasta as palavras quase que como em um murmúrio, tinha seu rosto ainda muito avermelhado, parecia um tomate naquele momento. Tentava puxar lembranças de alguma horas atrás, mas sua mente embaralhada tinha apenas alguns Flashs de memória extremamente embaçados que sozinhos não faziam sequer algum sentido, tudo isso era frustrante e até mesmo desesperador.

 
– "Ue, não sei. Talvez ruim de certa forma." – A mulher coloca a xícara de chá vazia e o prato de porcelana sobre a mesa de centro da sala, sua delicadeza com o conjunto era nítida, e já era de se esperar, eles vinham passando de geração em geração na família, todo o cuidado com aqueles artefatos era pouco aos olhos da matriarca da família. – "Você acabou de sofrer um grave acidente e escapou quase ileso, imagino que não se sinta nada bem meu filho." – Ela mantinha os grandes olhos claros fixos em Max, chegava a ser até mesma incomoda a maneira como a mulher olhava para o próprio filho.

– O que? Eu não estou entendendo vocês. – Suas mãos começam a tremer, não de nervosismo, mas de frio. Apesar de estar calor do lado de fora, a casa ainda era fria sem a lareira acesa. – Pra falar a verdade, eu não estou entendendo nada do que está acontecendo aqui. Quem são esses? – Agora sua voz começava a sair mais alta, mesmo com as dores ainda fortes já começava a recuperar sua consciência pouco a pouco.

– "Max, esses são o Sr. e a Sra. Rennert, eles são nossos novos vizinhos." – Enquanto Damian, o pai do menino, falava calmamente quase fazendo pausas, como se esperasse que o garoto degerice uma informação antes de soltar outra, o gorducho sorria de uma forma pomposa como se estivesse esperando a oportunidade para se apresentar, o que não demorou muito pra conseguir. – "É uma satisfação conhecer você Damian, eu sou John e essa é minha esposa Meredith. Sei que não começamos essa relação de vizinhos de uma maneira muito legal mas espero que possamos acertar isso." – Assim como seu marido a mulher sorriu para o menino e acenou.

– É legal conhecer vocês também, mas poderiam me explicar o que diabos aconteceu, ainda estou perdido. – Damian que já tinha a voz um pouco mais firme, mas que ainda continuava um tanto tonto, acertou seu corpo na poltrona, tentando se favorecer de alguma forma contra aquilo que amplamente afetava-lhe. Nesse momento um alto estalo aconteceu e a porta da sala se abriu rápido, fazendo um barulho pouco convencional. Por ela passou uma garota que parecia ser um pouco mais baixa que Max, de cabelos loiros lisos como raios e olhos azuis como o mar mais cristalino de Bahamas – "Olha só, a Bela adormecida acordou" – Apesar da doçura, sua voz carregava a mesma atitude forte de seu andar, cada passo dela era um terremoto na mente do garoto que mal conseguiu observar ela chegar, ainda se encontrava estático – "Ei, hello. Acho que ele ainda está um pouco mal" – Ela estalou os dedos duas vezes na frente do menino e ele despertou de seu estranho transe – Merda, eu estou bem, mas quem é você?

– "Eu? É verdade, ainda não fomos apresentados." – Ela abriu um sorriso, era brilhante e tão claro quanto seu tom de pele – "Eu sou America."

[...]

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Nov 28, 2017 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

AmericaOnde histórias criam vida. Descubra agora