Prólogo

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São Paulo — Brasil

Sua mais antiga lembrança era a da total escuridão, junto ao som irritante de um aparelho hospitalar. Não saberia precisar por quanto tempo ficara presa naquilo, mas recordava-se com clareza do momento em que seus olhos se abriram, enfim encontrando a luz fluorescente do recinto. Como primeira visão, um homem vestido de branco, uma mulher de quarenta e poucos anos e uma menina que não deveria ter mais de treze ou catorze anos.

A cabeça doeu. Uma dor aguda, acompanhada pela sensação de desespero. E isto apenas piorou quando a mulher ao lado de sua maca começou a chorar e segurou-lhe a mão com tanta força que a agulha que levava soro para sua veia pareceu entrar ainda mais, causando-lhe outra dor incômoda.

— Minha filha, que bom que acordou!

— Maria Eduarda? — chamou a voz do médico, do lado oposto da cama onde a mulher estava. Como não obteve a atenção da jovem, ele repetiu. — Maria Eduarda?

Ela o olhou, confusa. Sorrindo, ele indagou:

— Como se sente? — Fez uma pausa. Novamente, não obteve qualquer resposta. — Não consegue falar, Maria Eduarda?

— Maria Eduarda... — ela repetiu, de forma fraca. Fechou os olhos por alguns segundos, tornando a abri-los em seguida. — Quem é Maria Eduarda?

Todos na sala pareceram assustados com a pergunta. Ela olhou para a mulher ao seu lado e a dor em sua cabeça pareceu aumentar.

— Quem é você? — questionou, desnorteada.

E esta era a sua primeira lembrança.

Aos dezenove anos, sua vida acabava de começar.


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