Capítulo 3

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Jogando a casaca em cima da cama, Afonso suspirou. Só podia ser mesmo na Inglaterra e com a senhorita Daniela pra acontecer loucuras. Se ele tivesse enviado as cartas que escrevera para ela, não teria que fingir sobre um casamento. Não teria que fingir que não estava interessado nela quando estivessem sozinhos.

Agora que a decisão já havia sido tomada, não havia nada que pudesse fazer — e mesmo que ainda não tivesse falado com o Sr. Lexfinn, faria a mesma coisa seDaniela ainda precisasse — a não ser contar a “maravilhosa” noticia para seus pais. Ele sabia que a mãe dele exigiria explicações: perguntaria o motivo de ele não ter contado antes; então Afonso pensou em alguma coisa convincente. Afinal, ele não podia descer e dizer para a mãe que a senhorita Daniela iria se casar com o Sr. Blamer contra a vontade dela e, como Najla resolveu ajudá-la, ele também estaria no meio porque amava Daniela, e, para ajudá-la, iria se casar com ela. Mas, que não se preocupassem, o casamento deles seria extremamente casto, já que Daniela não o amava. E, terminaria dizendo, caso sua mãe tocasse no assunto netos: “Lamento, mamãe, mas Najla será responsável por te fazer avó.”.

Afonso sabia que o pai dele reclamaria sobre a continuação de uma das linhagens mais antigas da Inglaterra, mas quanto a isso não poderia fazer nada. A família Burmingham se extinguiria com a morte dele, mais ou menos em 40 anos. 

Mas não podia dizer nada disso. Afonso precisava pensar mais um pouco. Se dissesse aos pais que simplesmente se casaria com a senhorita Daniela, depois de alguns anos eles estranhariam ela não ter engravidado... Então ele diria que ela era estéril. Uma ideia ruim: não podia comprometer a reputação da senhoritaDaniela dessa forma. Considerou falar aos pais que ele não podia ter filhos, mas descartou a possibilidade: com certeza seus pais contratariam um médico e a farsa iria por água abaixo.

Então, o que ele faria?

Afonso passou a mão pelos cabelos. Tinha que arrumar uma desculpa, e rápido.

Pensou em dizer que a senhorita Daniela era uma jovem prendada e que ele precisava de alguém para organizar suas coisas enquanto estivesse fora, além de que já passara da idade de se casar e que as jovens moças solteiras já estavam ficando escassas.

Determinado, Afonso desceu as escadas e foi conversar com o pai — habitualmente sentado numa poltrona da biblioteca, lendo um livro.

Sentando-se ao lado do pai, Afonso pigarreou, fazendo o Burmingham mais velho colocar o livro de lado, numa mesinha de apoio.

— O que há?

— Pai, — Afonso tentou mostrar o máximo de certeza que conseguiu — eu gostaria que soubesse que conversei com o Sr. Lexfinn essa tarde, para pedir a mão da filha dele, a senhorita Daniela.

— Estou surpreso, meu filho. — comentou seu pai, com a maior naturalidade do mundo. — Juro que achava que não se casaria. De qualquer forma, Daniela Lexfinn é uma boa moça. Se o pai dela tiver juízo, certamente concederá a mão de Daniela a você. 

— O senhor pode contar para a mamãe? Eu não sei bem como contar isso a ela. — Afonso deu de ombros.

— Eu contarei — prometeu o pai — Daniela Burmingham — pronunciou, testando o som das palavras juntas, depois, abriu um sorriso, mexendo as mãos — Soa bem; parece que ela foi feita para se casar com um Burmingham. — terminou rindo.

— É, papai. Talvez ela realmente tenha sido. — concordou Afonso, perdido em pensamentos novamente.

***

Clarissa mexeu nas saias do vestido, sentando-se em frente ao marido, parado em pé perto da cadeira.

— Entenda o que está me pedindo para considerar, Sr. Lexfinn!

It Was Always You [EM PAUSA PARA REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora