Cinco

778 98 95
                                        

Eleanor acordou temendo acordar de um sonho, mas sorriu ao ver o teto de madeira, o papel de parede meio rasgado e os rostos curiosos de dois lindos garotos, mas aquilo a assustou também.
-Estavam me vendo dormir?! -Eleanor se cobriu com o cobertor.
-Estava muito interessante. -Disse John.
-Você dorme como uma pedra, Eleanor, estávamos te chamando há horas! -Paul disse jogando uma toalha para ela.
-Desculpe, a dança de ontem me deixou bem cansada. -Eleanor disse se levantando. -Eu já desço, vou apenas tomar um banho e me trocar.
-Como quiser, senhorita. -Disse Paul, puxando John para fora do quarto.

Eleanor se certificou que os meninos estavam lá embaixo e então pegou sua mochila.
Seu celular ainda tinha carga suficiente, olhou as horas e suas mensagens, Lucy havia mandado várias. Tentou responder, mas as suas mensagens não eram enviadas, afinal não existia internet.

Ela escondeu tudo e foi até o banheiro, tomou um banho e trocou de roupa, desceu as escadas e viu Paul sentado solitário no sofá.
-Onde está John? -Perguntou Eleanor, sentando-se ao lado dele.
-Foi para a escola. -Ele respondeu, sua voz era suave e penetrante.
-E você não vai?
-Não posso deixá-la sozinha.
-Não se preocupe comigo, Paul, eu sei me cuidar.
-Mas e se você colocar fogo na casa? -Ele sorriu, Eleanor revirou os olhos.
-Você consegue ser idêntico ao John, as vezes. -Disse ela.
-Que honra..
-Já que você não vai para a escola, me ajuda a fazer um almoço para o John? -Eleanor perguntou, Paul fez uma careta.
-Para o John? -Ele perguntou. -Por que não para mim, que sou tão legal?
-Deixa eu melhorar esse pedido: Já que não vai para escola, me ajuda a fazer um almoço para nós?
-Agora sim! Claro que ajudo!

Eleanor e Paul foram para a grande cozinha de John, lá eles se esforçaram para fazer uma comida incrível.
Eleanor usou as receitas que aprendeu na internet e Paul usou as receitas que aprendeu em livros e com a ajuda de seus parentes.
Estava indo tudo bem até que Paul tropeçou e largou um pote de farinha na cabeça de Eleanor, que estava sentada em uma cadeira, cortando legumes.
-Desculpe, eu tropecei! -Disse Paul, Eleanor pegou uma cenoura e jogou em seu braço. -Ai!
-Desculpe, ela tropeçou nos meus dedos. -Disse Eleanor, coberta por farinha.

Foi assim que começou uma guerra de comida. Eleanor jogava legumes em Paul e ele jogava restos de farinha.
Nem com a chegada de John eles pararam.
-O que vocês fizeram na minha cozinha?! -John perguntou ao entrar e ver sua cozinha virada de cabeça para baixo e seus dois amigos malucos cobertos por farinha e cascas.
-Estamos em guerra, vai vir pro time legume ou vai pro time farinha? -Eleanor perguntou, John tirou o uniforme e a mochila, jogou no chão da sala e estalou os dedos.
-Eu vou criar meu próprio time! -Disse ele, ele foi até a geladeira e pegou uma bandeja de ovos, Paul e Eleanor se ajoelharam.
-Nos rendemos.
-Vocês não pouparam a minha cozinha, também não pouparei vocês! -Disse John, ele jogou vários ovos em Paul e outros vários em Eleanor.

A guerra durou a tarde inteira e sou acabou ao cair da noite, quando Paul se cortou com uma faca que estava no balcão, enquanto fugia do bombardeio de ovos.
A cozinha estava um desastre, farinha por todos os lados e o fedor dos ovos quebrados no chão e nos cabelos de Eleanor e Paul.
John era o único com pouca sujeira no corpo, pois ele ficou perto da torneira o tempo inteiro.

Eleanor ajudou Paul com o curativo e ajudou John a limpar a bagunça.
-Vocês parecem dois bebês, não posso sair por algumas horas e vocês fazem essa bagunça! -Disse John, esfregando o chão com um pano.
-E que tipo de mãe sai e deixa os filhos sozinhos por horas em casa? -Eleanor perguntou, lavando a louça.
-Eu deixei a babá aí com você, mas ela é mais bebê que você! -Disse John, jogando o pano em Eleanor. -Ouviu, Paul?
-Sim, senhora! -Disse Paul, ele estava na sala lendo um jornal.
-Não reclame, afinal você também entrou na guerra e fez mais bagunça do que nós! -Disse Eleanor, John pegou o pano e voltou a esfregar.

Várias horas se passaram até que a cozinha ficasse totalmente limpa, Eleanor e John caíram mortos de cansaço, no chão da cozinha.
-Vão tomar um banho antes que sujem a cozinha outra outra vez. -Disse Paul, Eleanor levantou do chão a ajudou John.
-Vamos tomar banho, bebê. -Disse John.
-Eu não vou tomar banho com você, John. -Disse Eleanor, parando na porta do banheiro, esperando John sair.
-Por que não? Eu sou tão sexy. -John disse fazendo umas poses engraçadas.
-Vai mostrar sua sensualidade para as paredes do banheiro, eu só entro aí quando você acabar. -Eleanor voltou ao sentou perto de Paul.
-Não sabe o que vai estar perdendo. -John fechou a porta e começou a falar algumas coisas como: "E aí, parede, você vem sempre aqui?".
Eleanor e Paul apenas riam na sala.

John saiu alguns minutos depois, Eleanor entrou de uma vez, não aguentava mais o cheiro dos ovos em seu cabelo.
O desespero foi tanto que esqueceu de pegar a roupa e a toalha e só percebeu isso quando acabou o banho.
-Algum de vocês pode ir pegar minha toalha e minha roupa? -Eleanor berrou de dentro do banheiro, ouviu a voz de John dizer alguma coisa e passos subirem a escada.

John abriu a porta do quarto de Eleanor e procurou sua toalha no guarda roupa e em cima da cama, procurou no chão e embaixo da cama, mas apenas encontrou a mochila de Eleanor.
A mochila estava cheia, porém leve, como se algum pano estivesse dentro, ele a pegou e a abriu.
Lá dentro estava a toalha e três vestidos, ele tirou a toalha e um dos vestidos, revelando um aparelho diferente, grande e luminoso.

John pegou aquilo com receio, aquele aparelho grande e sem botões o causou medo.
Embaixo dele estava um livro de capa verde e alguns desenhos, John largou o aparelho de volta na bolsa e pegou o livro.
Reconheceu o rosto de Paul e alguns traços de seu rosto também.
Logo no início deu de cara com seu nome e o de Paul, havia outros dois mas ele não conhecia os donos deles.
As próximas páginas falavam sobre Liverpool e as seguintes, sobre ele. Tudo sobre seus pais e sobre ele.
Ele não estava entendendo mais nada, a data do livro era de 1968, mas como poderia ser de 1968 se eles estavam em 1957?

Seus pensamentos foram interrompidos pela entrada repentina de Paul, no quarto.
-Eleanor virou múmia no banheiro, John, o que aconteceu? -Ele perguntou, John guardou o livro de volta na bolsa e a colocou no mesmo lugar que a encontrou.
-Eu fui procurar a toalha e a roupa na mochila e deixei tudo cair no chão, eu estava recolhendo. -Ele respondeu, nervoso. -Leve para ela, sim? -Entregou para Paul e se sentou na cama.

Paul desceu as escadas e foi até o banheiro, entregou as roupas para Eleanor. Ela estava mais nervosa do que John.
Eleanor se vestiu voando e subiu as escadas correndo, entrou no quarto e viu John sentado na cama, meio assustado.
-John... -Eleanor foi interrompida por John, que levantou e trancou a porta atrás dela.
Foi por essa reação que Eleanor confirmou que John havia encontrado seu livro e seu smartphone.

-Quem é você?! -John perguntou sem aumentar o tom de voz.
-Eleanor, ué.
-Eu encontrei aquela coisa na sua bolsa e um livro de 1968 que contava minha vida como se fosse... Olha, apenas me diga quem é você.
-Eu sou uma garota que ama você, Paul, George e Ringo, uma garota que teve a chance de voltar no tempo apenas para poder ver vocês pessoalmente, uma garota que abriu mão do futuro para imergir num passado distante, apenas por vocês. -Eleanor disse sem segurar as lágrimas que saíram sem motivo algum.
-Eu não tenho porque duvidar, afinal você tem aquele aparelho do futuro e esse livro de 1968... -Disse John. -Como é em 1968?
-Eu não sou de 1968, eu sou de 2016 e não, não existe máquina do tempo em 2016, nem carros voadores, nem teletransportadores, muito menos sabres de luz. -Disse Eleanor, John não sabia o que dizer. -Por favor não conte para ninguém!
-Eu não vou, fique calma. -John mal terminou a fala, quando Paul bateu na porta.

-Gente, eu já vou! -Ele gritou do lado de fora, Eleanor destrancou a porta do quarto e acompanhou Paul até a porta, junto a John.
-Até amanhã, Paul. -Disse ela.
-Até, Ellie. -Ele disse. Apenas seus amigos mais íntimos a chamavam de Ellie, aquilo fez Eleanor arrepiar os cabelos do corpo inteiro e uma lágrima de emoção descer pelo seu rosto. -Você chora muito, garota. -Disse ele dando-lhe um beijo no rosto, virando-se de costas e partindo na escuridão da noite.

A Door To The PastOnde histórias criam vida. Descubra agora