1 O décimo terceiro morcego

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No segundo ano do ensino fundamental, Milla tinha recebido uma tarefa que, mais cedo ou mais tarde, todos os estudantes têm que fazer: escrever uma redação com o tema " fale sobre seu pai ". E ela tinha escrito: " O meu pai é alto, usa óculos e fica na biblioteca, onde lê todos os livros. Depois ele os coloca no lugar e, se alguém quiser, ele os empresta ( mas só por pouco tempo, não para sempre!), porque esse é o trabalho dele."
" Você quase acertou, Milla!" Martin Elven tinha dado risada ao ler a redação. Depois ele havia lhe explicado que dirigir uma biblioteca, na realidade, era uma tarefa um pouco mais complicada. " Sem contar que uma vida inteira não bastaria se eu quisesse ler todos os livros que estão nas estantes!"
Naquela manhã, enquanto ela percorria a avenida, seguida por seu irmão Oliver, indo justamente à Biblioteca Central de Old Town, Milla relembrava aquela redação com um sorrisinho nos lábios.
-- Então não ela culpa dele, entende? Os lobos são carnívoros, por isso ele não podia evitar comer os cabritos, e não é justo que... - a voz de Oliver, vinha de trás do enorme cachecol listrado que lhe cobria até o nariz.
Ora, já estava na hora de Brianna, a gnoma babá, parar de contar histórias de terror àquele pobre menino, uma vez que ele, apesar do seu extraordinário QI, tinha a tendência de entender tudo ao pé da letra. Milla esperava que a primeira visita à famosa Sala dos Morcegos, onde estavam reunidos todos os antigos livros da Gente, fizesse Oliver esquecer a trágica história do Lobo e dos Sete Cabritinhos.
-- Ei, Milla, eu estou aqui! -- cumprimentou-a Sugar, sentada sobre os degraus de pedra na frente do portão da biblioteca. -- Não sabia que Oliver vinha com você -- acrescentou, ficando em pé.
Ela usava um poncho com franjas muitos original, obviamente desenhado por sua mãe, Eglantina.
-- Imagine! Logo que ele soube que nós viríamos aqui, fez o que pôde para vir também. Já que hoje não tem aula, pelo menos ele podia ter ficado mais um pouco na cama... --suspirou Milla.
-- Não diga a palavra cama na minha frente -- interveio a hamster Alberta, aparecendo no bolso da saia de Sugar e levantando o capuz da sua minijaqueta cor-de-rosa. -- Eu tive que levantarr cedo com todo esse frrio.
-- Foi você quem insistiu em vir -- Lembrou Sugar --, exatamente como Oliver.
-- Bem, se a minha prresença não agrrada... -- começou Alberta ofendida, mas logo foi interrompida pela voz de Martin, que os esperava no saguão:
--Oh, finalmente! Vamos logo, não tenho muito tempo. Vocês sabem que nestes dias temos um monte de trabalho...
Ele conduziu os três através do grande saguão deserto. Naquele dia, a biblioteca estava fechada para o público, e os colaborados de Martin estavam ocupados com o inventário anual.
Quase escondida no fundo do saguão, havia uma pequena porta de madeira brilhante e, além dela, uma escada que descia na direção das escuras profundezas dos subterrâneos.
-- Esse é o nosso depósito -- disse Martin, acendendo uma luz.
Enquanto eles desciam, Milla e Sugar viram centenas de caixotes, cheios de livros, amontoados em todos os lugares.
-- Que labirinto! -- Exclamou Milla quando eles chegaram ao final. -- E a entrada da sala? Onde está?
-- Fiquem olhando -- respondeu o pai, erguendo uma das mãos e murmurando: -- Sabogadam, abre-te!
Ouviu-se um barulho de vento, como se fosse um redemoinho, e na parede, enfeitada com pálidas teias de aranha, apareceu uma abertura em forma de morcego, de tamanho suficiente para que todos passassem ao mesmo tempo.
-- Esta é a famosa Sala dos Morcegos -- disse Martin, levando-os por um salão com paredes cobertas por prateleiras antigas que iam até o teto.
Em volta da sala, havia uma espécie de passarela de madeira, circundada por um corrimão baixo. Para subir até a passarela, era preciso usar uma escadinha.
Oliver olhou em volta com ar esperançoso:
-- Onde estão os morcegos, papai?
-- É, onde? -- perguntou Alberta muito interessada.
-- Sabem, no ano passado eu conheci um morrcego muito simpático, um morrcego frrancês que me paquerou bastante...
-- Bem, não sei se o seu fascínio terá algum efeito neles, Alberta -- disse Martin, mostrando o teto, pintado de modo a parecer um céu estrelado no qual voavam minúsculos morcegos.
Eram todos cinza, exceto um, que era negro com carvão.
-- Mas eles são pintados! -- disse Oliver muito decepcionado.
-- E por um ótimo pintor! -- Sorriu Martin. -- A sala foi decorada alguns séculos atrás por Sylvestre, um famoso artista elfo. O décimo terceiro morcego, aquele preto, não é obra dele: parece que foi pintado um pouco depois, não se sabe por quem. Bem, agora eu vou deixar vocês. Ninguém vai atrapalhar, não está prevista mais nenhuma visita para hoje. Ali tem um fichário, nele vocês podem procurar os livros para a sua pesquisa. E este é o segredo para entrar e sair -- acrescentou, entregando um folheto a Milla. -- Comportem-se bem, crianças!

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⏰ Última atualização: Jun 05, 2016 ⏰

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Milla & Sugar Bruxa Nova no Pedaço 3Onde histórias criam vida. Descubra agora