Capítulo 1
A vida em uma cidade costeira não é nada fácil, principalmente quando estamos em Andenes, Noruega. Uma cidade não muito grande, mas que ganha certo destaque pela pesca da região, muitos dizem que dali sai o melhor bacalhau do mundo. As temperaturas amenas que costumam não ultrapassar os doze graus centígrados não impedem que os principais pesqueiros saiam toda manhã sob qualquer condição, haja chuva, haja sol, neve ou vento. Aliás a economia da região era praticamente toda voltada para a pesca, sem contar que era um trabalho muito tradicional e hereditário.
As rotinas familiares eram quase que as mesmas. O homem da casa saía de manha para pescar em um barco não muito grande, talvez com um pouco mais do que vinte metros, o ideal para uma tripulação de no máximo cinco marujos. Em quanto isso, sua mulher ficava em casa, cuidando dos filhos menores, arrumando a casa e preparando o jantar para quando o marido voltar do mar. Era exatamente assim que vivia Eddy, um garoto de sete anos e meio (assim que ele costumava falar quando alguém perguntava sua idade) com cabelos ruivos, não muito grandes, era uma criança que tinha muitos amigos e adorava observar o mar.
Um garoto muito amado, inquieto, quase que imperativo. Sua maior paixão era seu pai, seu herói. Desde pequeno ficava ansioso na janela à espera do pai, todo dia o mesmo ritual, quando começava a escurecer Eddy já ficava sentado na beira da janela, apenas olhando a neve cair e o mar balançar, via o farol acender e os bares do porto começarem a encher. Enquanto isso sua mãe administrava o jantar. Eddy também tinha um irmão, Hélios, mas ele era mais velho, tinha quinze anos e estava no barco com o pai. O sonho de Eddy era poder trabalhar com seu pai, adentrar o mar traiçoeiro e bravo e fazer disso sua vida. Porém seu pai só o deixaria ir quando completasse nove anos, era essa a idade que os meninos viravam homens e segundo seu pai, o mar não aceita meninos.
A noite estava fria, Eddy e sua mãe, os únicos da casa, estavam em frente a lareira, ele brincando com alguns bonecos, mas sempre de olho na janela e sua mãe costurando um casaco de lã sentada na cadeira mais próxima do fogo. O jantar estava quase pronto, os dois só esperavam a chegada de Hélios e de seu pai. Até que Eddy vê pela janela, apenas a penumbra dos faróis do carro passar pela sala, rapidamente. Eles chegaram. O garoto corre para janela, mas do carro sai apenas seu irmão.