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Torci o nariz enquanto passava pela porta da pequena lanchonete da rodoviária de Indianópolis. Um típico sino embutido na porta anunciou a minha chegada, fazendo com que todos olhassem pra mim com expressões curiosas. Suspirando, coloquei minha mochila em uma das cadeiras de madeira da única mesa vazia antes de sentar na cadeira ao lado. Uma garotinha rechonchuda acenou pra mim com um sorriso, desfalcado por dois dentes, atrás do balcão. Eu sorri pra ela e peguei meu celular. O display indicava que já eram 15h47min da tarde, então eu ainda tinha vinte e três minutos para um café.

- Olá, como posso ajudá-la?

Uma senhora grisalha e baixinha perguntou enquanto rabiscava em um bloquinho. Ela tinha olhos castanhos tão brilhantes quanto os de uma adolescente apaixonada, porém, ela parecia velha e exausta de mais.

- Um café!- Eu digo depois de focar o olhar em seu bloquinho- Sem açúcar!

- Mais alguma coisa, querida?- Ela pergunta com um pequeno sorriso.

- Não senhora, obrigada!

Ela assente antes de sumir por uma porta lateral. Desvio o meu olhar para a janela de vidro ao meu lado depois de alguns minutos. Dois homens estavam fumando ao lado de um homem com farda de segurança, duas garotas estavam praticamente transando no banco ao lado de uma loja de souvenires e um garoto ruivo e franzino olhava para as duas como se quisesse estar ali no meio. Fiz careta ao imaginar a cena.

- Um café sem açúcar!- A senhora diz antes de deixar a xícara com o conteúdo quente em cima da mesa- Meu nome é Gia, qualquer coisa é só chamar!

Sorrindo, eu concordei com a cabeça. Enquanto eu bebia o café, ela anotou mais alguma coisa no bloquinho antes de virar a cabeça pra porta, assim como eu, depois que o sininho da porta voltou a tocar. Um garoto vestindo uma blusa preta dobrada até os cotovelos, uma calça jeans escura e um coturno preto exatamente igual aos meus fechou a porta depois de passar graciosamente por ela. Ele ajeitou os óculos escuros no rosto e passou a mão pelo cabelo castanho bagunçado antes de caminhar até Gia, que o recebeu com um sorriso amigável. Sorrindo da mesma forma, ele ajeitou a mochila nas costas.

- Infelizmente o lugar está lotado! Não há uma mesa vaga- Gia diz com um pesar claro em sua voz- A menos, que a senhorita disponibilize uma das cadeiras. Senhorita?

Percebo que ainda estou encarando o garoto, quando a voz doce de Gia invade meus ouvidos e os dois me encaram em expectativa.

- Ahn... Claro!- Eu disse concordando com a cabeça antes de levantar a minha xícara quase vazia no ar- Eu já estou quase acabando mesmo.

- Obrigado!- O garoto agradece com a rouca antes de pigarrear- Pode me trazer um café?

Ele pergunta pra Gia e ela assente novamente rabiscando em seu bloquinho. Depois sentir meu celular vibrar, vi uma notificação piscando na tela do mesmo. Faço careta quando vejo que é uma mensagem da minha mãe perguntando como está a viagem. Como se ela realmente se importasse. Aposto que foi Maureen, sua assistente, que mandou essa maldita mensagem. Quando eu decidi passar o verão viajando pelo Estado Unidos de ônibus, a única coisa que meus pais disseram foi: Contanto que volte até as aulas começarem, você pode ir pra onde quiser. Acho que qualquer pessoa no meu lugar ficaria feliz de ter liberdade pra fazer o que quiser e ter dinheiro suficiente pra isso, mas pra mim foi à comprovação de que meus pais simplesmente não ligam. Respondi a mensagem com um simples "boa" antes de largar o celular na mesa.

Quando olhei pra frente o garoto já estava sentando com uma xícara na mão. Seus óculos escuros ainda estavam lá, e acho que quem visse de fora iria cogitar a hipótese de ele ser cego, pois aqui dentro era relativamente escuro. Ele sorriu antes de levar o líquido quente à boca e eu me apressei a largar a xícara vazia na mesa.

Coloquei meu celular no bolso depois de jogar minha mochila nas costas e caminhar até o balcão onde a garotinha ainda sorria me olhando. Sorri de canto quando vi que ela encarava os meus cabelos com os olhos quase arregalados.

- Oi princesa!- Eu disse encarando os seus olhos castanhos, iguais aos de Gia.

- Seu cabelo é cinza!- Ela disse pausadamente antes de tapar a boca e soltar uma risadinha- Desculpe, eu quis dizer oi!

Eu ri com a sua desculpa e concordei com a cabeça enquanto via suas bochechas corando.

- Você gostou?- Eu perguntei passando os dedos pelos fios soltos sobre o meu peito e sorri quando ela concordou rapidamente sorrindo.

- Claire, vá fazer o dever de casa!- Gia disse ficando atrás dela, que logo saiu correndo- Minha filha é muito curiosa às vezes, desculpe se ela foi inconveniente.

- Ah não! Crianças são curiosas mesmo, ela não foi nem um pouco inconveniente!- Sorri tentando tranquilizá-la enquanto a entregava uma nota de cinquenta dólares- O café estava ótimo!

Gia sorriu depois de me entregar o troco e antes de um ronco de motor invadir o local. Viro a cabeça pro lado encarando o ônibus que eu deveria pegar. Algumas pessoas já estavam embarcando então me despedi de Gia rapidamente e entrei na fila com o bilhete da passagem na mão. Um homem vestido com a roupa da empresa responsável pelo ônibus pegava os bilhetes com cara de tédio, enquanto outro praticamente dormia em cima do volante. Quando chegou a minha vez eu entreguei o papel para o homem e subi os degraus sujos de lama do ônibus. Enquanto eu procurava a minha poltrona, pensei em como minha mãe ficaria horrorizada em ter que embarcar num ônibus, ela queria que eu fizesse essa viajem de avião, mas não teria graça nenhuma, pois o sentido dessa viagem era conhecer mais as cidades do meu país e não as nuvens sob ele. Quando finalmente achei as poltronas 7/8, sentei na da janela e coloquei minha mochila na do corredor. Abri as cortinas encarando a lanchonete de Gia ainda lotada, as outras duas lanchonetes da li estavam praticamente vazias e pareciam tão sujas quanto os banheiros. Eu ainda estava encarando o lugar quando senti minha mochila ser colocada sob as minhas pernas gentilmente. Virei o rosto e franzi as sobrancelhas quando vi o garoto da lanchonete parado no corredor do ônibus, ele encolheu os ombros aproximando o seu bilhete do meu rosto e apontou para o número 7 gravado nele. Me amaldiçoando mentalmente, eu vi que a sua poltrona era a da janela e quando fui levantar ele colocou a mão no ar fazendo sinal para que eu parasse.

- Você pode ficar na janela. Afinal você cedeu um lugar pra mim na lanchonete, e agora eu tenho que retribuir o favor!- Ele sorriu antes de sentar ao meu lado e eu sorri aliviada. Odeio ficar no corredor.

Abraçando a minha mochila, eu cruzei meus pés e os coloquei sobre um pequeno pedal embutido na poltrona. O garoto ao meu lado passou as mãos pelos fios castanhos do seu cabelo antes de guardar os óculos escuros na mochila azul marinho. Quando ele virou o rosto e me encarou, eu consegui ver os seus olhos finalmente, eles eram uma mistura de castanho claro e verde.

- Jake Davis!- Ele disse estendendo a mão educadamente e eu sorri antes de apertá-la da mesma forma.

- Katherine Adams!

Ele sorriu depois de soltar minha mão mostrando seus dentes alinhados e brancos de dar inveja. Puxando as mangas da minha jaqueta de couro preta, eu virei o rosto encarando a poltrona da frente antes que ele me visse corar após receber uma piscadela de seu olho direito. Por Deus, ele era muito, muito bonito. E algo em seu jeito, me dizia que ele era definitivamente ciente disso.

Highway || Gregg SulkinOnde histórias criam vida. Descubra agora