Capítulo 9

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Entrei no carro e o alívio tomou conta de mim. Por um segundo não me importei em estar dentro do carro de um cara que não conhecia muito bem, mas que há alguns dias eu até queria conhecer melhor.

― Obrigada! Eu estava com um pouco de medo daqueles dois caras. Não sei por que, mas eles me pareciam tão estranhos.

― E eles são mesmo. Não aconselharia ninguém a ter contato com eles, é melhor evitar. Mas, por que você estava aqui sozinha?

― Bem, tenho quase certeza que aqueles caras espantaram o Antoni. Porque segundos antes de chegarem ele foi embora parecendo fugir de alguma coisa, ou de alguém.

― Any, esse lugar é muito mais perigoso do que qualquer outro por onde você tenha andado. Nenhum taxi vem até aqui, o seu telefone não tem sinal e com certeza ninguém te resgataria. Ele não devia ter deixado você aqui sozinha, ainda mais com esses dois por aqui. Ele devia tê-la levado com ele. Mas isso não é problema meu.

― Ele me deixou as chaves do carro dele, mas me pediu pra não deixar que ninguém me visse entrando nele. O problema foi eu ter saído no mesmo momento em que esses caras. Fiquei sem opção. Só estava esperando que eles fossem embora antes de mim.

― E porque estava tão assustada quando entrou no carro? Aconteceu mais alguma coisa? ― San me perguntou de uma forma preocupada.

― Eu não estava assustada. ― respondi mais rápido do que deveria. San apenas sorriu. ― Tudo bem. Eu estava um pouquinho assustada, mas só por que tive receio de que eles me perguntassem alguma coisa; tipo se estava esperando alguém ou o meu carro. Eu não sou boa com mentiras e percebi que um deles estava se aproximando de mim.

E não era mesmo. Com certeza San percebeu que eu escondia alguma coisa, mas eu não podia dizer que estava assustada porque os caras têm uma energia mega pesada e eu podia sentir como todos naquele café ficaram quando eles chegaram, o clima mudou de repente como se uma tempestade estivesse sendo anunciada.

― Eu posso sentir o medo nas pessoas. E senti que você estava com medo quando entrou no carro.

― Eu achei que aqueles dois estavam com alguma intenção ruim. Eles estavam me olhando e comentando alguma coisa entre eles. E o gordo chegava cada vez mais perto de mim. ― eu me arrepiei só em lembrar.

― Você não devia mais vir aqui sozinha, ou mesmo acompanhada. Principalmente se o seu acompanhante é capaz de te deixar desse jeito. Não volte aqui com ou sem ele.

Será que San estava querendo me afastar dele? Essa ideia me fez lembrar de que na verdade eu devia ter hesitado, ou melhor, devia ter me recusado a entrar naquele carro. Afinal, ele havia sumido sem deixar rastros. Mas agora era tarde pra isso, então decidi aproveitar o momento para entender o que tinha acontecido.

— Se eu não te encontrasse aqui hoje, provavelmente nunca mais nos veríamos. ― falei num tom casual.

— Provavelmente ― ele respondeu sem sequer olhar pra mim.

A resposta foi tão seca que não consegui dizer mais nada. Senti-me decepcionada, afinal eu tinha procurado por ele em vários bares e era isso que ele tinha pra me dizer? Era óbvio que eu estava tentando uma conversa amigável sobre o que houve, e ele estava fechando as possibilidades de isso acontecer. O silêncio gritava dentro do carro e era a situação mais desconfortável que eu já tinha passado.

Olhei para ele de canto de olho e só vi um olhar compenetrado na estrada, como se não conhecesse o caminho e tivesse medo de se perder. Ele parecia pensativo, mas também podia ser pura indiferença. O desconforto era tanto que comecei a senti-lo fisicamente. Mexi o pescoço, cocei a cabeça, as costas e então não pude mais suportar.

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