Capítulo 4-Perdida

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  A vida é engraçada às vezes. Ela dá tantas reviravoltas. Às vezes, me parece como um salto ao escuro, onde não sei onde cairei, mas sei que devo me arriscar. Afinal, a vida é para aqueles que se arriscam. Porém, naquele momento, cai em um lugar errado, e agora, estava sozinha. Perdida, e assustada.

-Rose? Cadê você? Volte! Por favor... - Mais uma vez tentei chamá-la, tendo esperanças de haver uma resposta, um sinal ou um assobio. Não iria desistir tão fácil.

-Ei! Pare de gritar! Estou tentando descansar aqui!- Uma voz irritada gritou.

Dei um pulo ao ouvir a voz. Eu não estava sozinha. Virei em todas as direções possíveis, procurando o dono daquela voz.

-Aqui em cima!- Gritou a estranha voz novamente.

Olhei para cima, contendo um grito e levemente surpresa. Em um dos galhos da árvore, estava deitado um garoto. Talvez tivesse minha idade. Possuía cabelos castanhos, lisos e escorridos. Pele pálida, olhos verdes escuros e nos lábios trazia um sorriso travesso.

-Ah, é aquela famosa garota riquinha da casa no alto da colina. –Falou o garoto, expressando tédio. –Se não me engano, tens um nome estranho... "Aiko", certo?

Permaneci em silencio, encarando ele por um tempo, ainda confusa. Estava curiosa, a saber, seu nome, quem ele era, e talvez, poderíamos ser amigos.

-Esta com uma cara de quem não esta entendendo nada... Por aqui, você é conhecida como a filinha-de-papai que se tranca na sua casa de campo com uma gaiola, durante o verão. –Falou o garoto, lançando um sorriso, descendo do galho e se espreguiçando.

-"Famosa"...?- Sussurrei um pouco surpresa com as palavras do garoto. Olhei para a gaiola vazia lembrando-se de Rose e de que agora, estava sozinha. Precisava encontrar ela.

-Que foi? Seu passarinho fugiu? É melhor desistir dele e pedir para comprarem outro, garota. –Falou olhando a gaiola e sentindo a preocupação e um pouco de desespero em meu olhar.

-Seu... Seu malvado!-Falei alto, sentindo as lágrimas começarem a se formar. – A Rose vai voltar, ela só está perdida... Por que fala essas coisas?! Você não sabe de nada!- Ficou um pouco assustado e surpreso com minha reação.

-Ai... Faça como quiser. – Falou o garoto, dando de ombros e voltando a seguir seu caminho.

Limpando as lágrimas de meu rosto, fui seguindo atrás dele, soluçando, apertando forte a gaiola em minhas mãos e seguindo o ritmo de sua caminhada, até o mesmo parar e virar bruscamente para trás, me encarando.

-Droga! Por que está me seguindo?! – Gritou o garoto, fazendo-me parar próxima a ele.

-É que... É que eu não sei o caminho de volta. – As lágrimas começaram a cair novamente.

-Que coisa... – Falou, pegando algo de uma planta próxima e se aproximou rápido. Sinto um gosto doce em minha boca. Uma fruta rosa e colocando seu dedo indicador em meus lábios. – Já entendi. Não chore. Eu te levo de volta, e a propósito, foi pouca gentileza da minha parte não se apresentar. Chamo-me Joshua.

"O que é isso...? É tão doce..."

Joshua esticou o braço e pegou da planta a pequena fruta rosa.

"Será que era isso que estava brilhando na floresta...?"

-O que foi? É a primeira vez que come framboesa?- Me observou curioso por uns instantes e sorriu.

-Framboesa? Isto aqui?! É tão boa... Puxa!- Soltei um riso, surpresa.

-Sabe... É um milagre ver você fora da casa de campo. – Voltou a recolher e guardar nos bolsos algumas framboesas.

-É que... Todos me dizem que não posso sair porque é perigoso. – Refleti por um tempo sua pergunta e minha resposta. Lembrando-me de todas as vezes que pedi parar passear e foi me negado isso. – E o que você estava fazendo em cima da árvore?- Perguntei com curiosidade, esperando uma resposta de Joshua.

-Eu? Eu estava escondido. Senão meu pai ia me mandar ajudar no serviço. Ele é muito insistente. – Soltou um suspiro, se espreguiçando e lançando-me um olhar despreocupado.

-Então estava só matando serviço, não? – Soltei uma risada e falei zombando dele.

-Aish! Não enche!- Falou num tom bravo, mas aos poucos sorrindo, entrando na brincadeira. - Ah, essa não! Olha só a hora. É bom correr, já vai anoitecer. Anda!- Esticou sua mão em minha direção. E surpresa, segurei fortemente sua mão. O por do sol iluminava a floresta, mas aos poucos dava um tom sombrio pela presença de últimos resquícios de luz, lentamente se escondendo e se pondo.

AprisionadaOnde histórias criam vida. Descubra agora