A bicicleta

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   Ouço passos nos corredores, isso quase tirou minha atenção do vidro da janela, a chuva bate e uma gotinha d ' água escorre lentamente, a janela parece meus olhos, não... eu não quero chorar... Eu não queria estar em casa hoje.
       -Eric, Eric venha cá!!!
        Levantei lentamente e fui em direção ao jardim, que por algum motivo tinha metade do se território com teto; a frase se repetiu novamente na voz chata de titia Alicia, ela mudou pra cá quando papai morreu na guerra.
          -O padre Rogério aqui está aqui!
          - Boa tarde, meu filho, vim orar por sua mãe...
          Ele disse mais algumas palavras, mas aquelas me fizeram lembrar que em um quarto no segundo andar, pintado de azul velho( cor que agrada muito tia Alicia), pouco iluminado, principalmente por causa das cortinas brancas, bom... Já foram um dia, estava minha mãe, doente, suando de febre; não é a primeira vez, mas sempre dói em mim,  e por um instante as janelas tristes e a chuva calma fizeram que eu esquecesse tudo, e fosse para um lugar melhor.
- Que bom, padre, é sempre um prazer receber o senhor em nossa casa. Ofélia logo ficará boa!- disse titia.
Ela não acredita no que diz. Subimos as escadas, o ronco dos degraus de madeira passou por cima dos pequenos e dramáticos barulhos da chuva. Eles entraram no quarto, fiquei do lado de fora por escolha deles, e me sentei em uma cadeira verde escuro, que herdamos do vô Antônio, é até que confortável, pena que é um verde escuro velho; na minha frente estava outra janela, parecida com a outra, só que maior, ela chorava outras gotinha de água também, como as coisas podem ser tão parecidas e, ao mesmo tempo tão diferentes.  Comecei a orar, perguntei pra Deus por que tudo tinha que ser tão velho, e por que ele queria me deixar sozinho, primeiro levou meu pai, e agora vai levar minha mãe, as vezes sinto como se minha mãe já tivesse ido, vejo ela muito pouco não conversamos mais... Deus, por que o senhor se foi?
  Alguns minutos depois, minha tia e o padre saíram, ele foi embora, e ela olhou pra mim e abriu a boca, como se quisesse me dizer alguma coisa, mas não sabendo como começar, também me sinto assim, tenho uma garganta inchada de tantas palavras que preciso vomitar, só não sei como, algumas vezes elas saem pelos olhos.
- Bom, Eric, você fica o dia todo em casa, uma criança deve sair, para brincar, por exemplo, por isso tenho um presente pra você.
Descemos até a sala, estava esperando um par de meias de cor velha, pra mim poder correr confortavelmente por aí, mas pelo contrário, na sala havia uma linda bicicleta vermelha viva com uma campanhia dourada.
-OBRIGADO!!!!
Titia riu; momentos como esse provam que ela não é tão do mal assim. Agora eu só tenho que esperar que o dia de amanhã seja ensolarado.

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⏰ Última atualização: Jun 14, 2016 ⏰

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