Capítulo 23

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ANNA

      Isso não pode estar acontecendo comigo. Quem Anabella pensa que é para ficar fazendo essas audácias?

         Sentada na frente da casa de Jorge,  penso no que irei fazer. Estou praticamente sem opção. Não vou andar esse horário para pegar um táxi e nem quero pegar um ônibus. Nem lembro a última vez que andei de ônibus. Anabella me paga. Vem de Godava para roubar meu carro e me deixar sozinha no meio do nada.

         - Você pode dormir aqui. - Jorge fala. Confesso que eu estava pensando em pedir isso a ele, mas me faltava coragem. - Nem de longe é tão confortável quanto  sua casa, mas é melhor do que as outras duas alternativas.

        Não sei o que dizer. Meu plano de ser mal com ele vai por água abaixo se eu for obrigada a passar uma noite com ele. Jorge é o tipo de pessoa que eu posso até tentar não gostar, mas não consigo. A única maneira é eu continuar tentando ser dura com ele, na medida do possível.

           - Quartos diferentes? - Pergunto meio grosseira.

           - Entra, por favor. - Ele não me respondeu. Abriu a porta da frente dando espaço para eu passar. Quando entro, vejo o quão modesta é a casa dele. É super organizada. É grande, mas com uma simplicidade exuberante. Ele tem razão. Não é tão confortável quanto minha casa, é melhor. Me senti tão bem nesse ambiente que acho que não vai ser um desafio para mim ter que dormir aqui. - Você deve estar com fome. Vou até a cozinha ajudar meu  pai e avisar minha mãe  que você está aqui. Pode jantar com a gente. Espere aqui no sofá.

          - Tudo bem. - Falo meio sem graça. Estou muito constrangida por estar na casa dele. Eu geralmente não me sinto assim quando vou à casa de outras pessoas. Mas a dele é diferente. Estou prestes a conhecer sua família.

           Fico sentada no sofá me perguntando o que os pais dele irão achar de mim. Qual a necessidade desse nervosismo? Ele não é e nem será seu namorado. Conhecer a família dele não quer dizer nada. Minha consciência tem razão. Por um momento esqueci o que havia acontecido, mas agora voltou a realidade. Não posso me deixar levar por minhas emoções.

           - Anna, vamos. Já está pronto. Meu pai caprichou para  você. - Jorge me chama. Apenas sorrio e o acompanho até a cozinha.
A cozinha é pequena. Quando entro, fico absurdamente surpreendida com toda a família dele reunida na mesa. Sento na cadeira a qual ele puxa para mim ao lado dele e pergunto cochichando:

          - Vocês sempre comem reunidos?

         - A maioria das vezes.

         - Isso não quer dizer nada, tá bom? Eu não gosto de você, que fique bem claro isso. - Falo de maneira que só ele escuta.

           - Mãe, pai, João,  essa é Anna. Ela vai passar a noite aqui hoje.

            - Ela é sua namorada? - Pergunta a mãe dele. - Meu nome é Ângela, querida. Sinta-se a vontade.

              - Seu nome é Ângela? Sério? - Olho-a surpresa. - É o mesmo nome da minha mãe.

          Dona Ângela sorri e começa a comer. Fico um pouco envergonhada na frente de todo mundo.

         - Minha mãe disse para você ficar a vontade. Você está tensa. - Jorge fala. Apenas me desculpo e falo que não estou acostumada a jantar em família. Ele ri. O irmão dele, que não havia se manifestado durante o jantar pede licença para se retirar.

          - Boa noite para vocês. Tenho prova amanhã e preciso estudar. - Ele fala. Eu não havia notado a situação em que ele se encontrava, porque sentado a mesa com todos, era impossível perceber que ele estava em uma cadeira de rodas. Uma cadeira bem deteriorada. Fico sem reação ao dizer  "boa noite". Acho que minha surpresa foi notória, pois ele sorri meio sem jeito para mim e se retira.

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