Entre um drink e outro, um trago e soprada de fumaça, vejo as pessoas indo e vindo, animadas com a noite. Alguma banda de jazz tocava ao vivo e eu, permanecia sentada sozinha nessa mesa de bar. Eu não me importava com os comentários, com os olhares tortos – uma mulher não podia sentar para beber num bar? Que se fodam todos, pensei, acendendo mais um cigarro.
Passei as mãos pelos cabelos e ajeitei meu vestido sobre minhas pernas, olhei meu reflexo no copo de uísque e meu batom vermelho continuava brilhando como rubi. Me veio logo a sua imagem na memória, como você adorava meus lábios vermelhos... dei um longo gole e acenei pro garçom trazer mais uma dose. Não era uma noite para o amor.
Eu sempre amei muito, sempre me entreguei por completa, e sempre acabava sozinha para recolher os cacos. Algumas pessoas não foram feitas para o amor, pensei, batendo meu cigarro no cinzeiro e levando-o de volta a boca. Aprendi a me satisfazer com um caso e outro, sexo casual era a maneira menos dolorosa de sentir alguém. Quando começava a desenvolver algum sentimento, sabia que tinha que enterra-lo logo, antes que o outro percebesse e fosse embora.
Minha vida sempre fora baseada em partidas, um castigo por sentir tanto. Eu nunca consegui amar pela metade, me entregar aos pedaços... sempre mergulhava de cabeça. E morria todas as vezes. Ah, quantas vezes já não morri de amor... Bobagem. O amor é uma ilusão. Uma mentira que contamos a nós mesmos para conseguir dormir à noite sem o peso da solidão. Estava cansada de sofrer, cansada de amores rasos, eu queria algo que me transbordasse.
Suspirei. Estar sozinha me fazia pensar demais e isso nunca significava boa coisa... Me sentia carente, desejava alguém para me colocar em seus braços e me tomar com todo ardor... Era doloroso ser solitária, mas eu nunca soube lidar muito bem com as pessoas. Sempre fora um desastre em interações sociais, só conseguia quando estava bebendo e começaram a achar que eu havia virado uma alcóolatra. Bem, talvez eu estivesse. Mas diabos, a vida é insuportável sóbria.
Amor e sexo sempre foram jogos, jogos de sedução e flerte e eu sempre soube jogar. Sabia me conter quando precisava parecer fria mesmo que me doesse e eu tivesse que inibir um desejo gritante de ser tomada... Não deixaria ninguém perceber o quanto eu estava envolvida, as vezes alguns confundiam com falta de interesse, mas eu sentia, ah se sentia... Só não queria deixar que percebessem o quanto eu estava vulnerável, nunca saberiam que me tinham nas mãos. Eu gostava de estar no controle, me divertia com as palavras cheias de malícia e desejo, mas as vezes me frustrava por não conseguir ser paciente.
Eu era uma dama da noite, das trepadas cheias de fogo e suor. Não sou fraca nem frágil, meu ser poderia estar em ebulição, mas eu nunca me estaria submissa – eu sempre teria a última palavra, a última cartada. Gostava de brincar com os mistérios, gostava tanto que me tornei um. Jogos de sedução sempre foram divertidos e excitantes, e eu jogava todos.
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Dama da Noite
Short StoryDama da Noite, dona da noite... Suas paixões ferviam e seus lábios vermelhos como sangue, soprando sua melancolia em cada fumaça de seus cigarros.