Julieta

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Já faz mais de vinte e quatro horas que estou casada! E talvez eu seja a mulher mais feliz, afinal ninguém sabe, e o que ninguém sabe, acredite, ninguém estraga!

Estou na vinícola nova. Já conseguir pegar o ritmo e eu me dou bem com números. Os custos da nova entrega estão bem altos, mas, se entregarmos na data, pode cobrir tudo e conseguir um bom dinheiro na venda.

Rosa aparece na porta:

-Vamos? –Ela chama.

-Para onde? –Questiono.

-Almoçar! –Ela diz. –Já é hora de almoçar. Depois você volta e termina tudo!

Assinto. Fecho a janela, pego minha bolsa, e não deixo de notar meu anel de casamento. Sorrio. Penduro a bolsa no ombro, fecho a sala e vou junto com minha prima até o restaurante.

Fazemos os pedidos.

-E então? –Ela questiona. –Já conversou com o meu irmão?

-Não. –Digo. E sai mais duro do que eu pretendia.

-Por que não?

-O que ele fez foi algo imprudente demais para eu ter de bater cabeça agora. –Falo.

Ela levanta uma sobrancelha.

-Ele brigou por você! –Ela solta.

Minha circulação para. Meu sangue congela. Não olho para ela. Mantenho-me o mais calma possível e não mudo de reação.

-Quem? –Pergunto e me esforço para soar distraída. –Theo ou o Romeu?

-Ambos! –Ela dá de ombros. –Theo sempre teve um sentimento a mais por você. Não posso provar, mas já senti que ele sente isso por você! E quanto a Romeu? –Ela recosta-se na cadeira. –Me poupe, Julieta. Vocês são o casal mais clichê da história!

Tomo coragem e a olho, ainda mantendo uma expressão inalterada.

-Não sei do que está falando! –Digo.

-Vocês estão se encontrando, não é? –Ela pergunta. –Eu já dei uma notada que você anda saindo mais que o normal, e que demora a voltar. E sempre volta diferente. Não sou a única a notar isso. Theo comentou comigo que você anda estranha. Não fiquei admirada pela briga.

Engulo o seco.

-Não sei do que está falando. –Dou de ombros.

-Vão casar, não é? –Ela se inclina na mesa. –Como naquele clichê. E se tudo está certo, acabarei com Benvólio. Malditos ancestrais! E pior ainda nossos pais colocaram os mesmos nomes. É uma trágica coincidência.

-Você acredita nisso? Que acontecerá como antes? –Questiono.

-Sim, Ju. –Ela assente. –Infelizmente acredito. Mas honestamente, se isso lhe acalmar, Romeu não foi meu. Jamais, jamais! Então podem ficar juntos. Não foi assim no passado?

Assinto e sorrio, corando.

-Não me preocupo, Rosa. E nem dou importância!

-Então vocês vão casar? –Ela questiona.

-Já casamos. –Mostro minha mão com o anel.

Ela tampa a boca com as mãos e depois dá um soco de leve no meu ombro.

-Que vaca! –Ela diz. –Você nem me avisou!

-Quanto menos pessoas souberem, será melhor. Você não pode contar a ninguém! –Digo.

-Não contarei! –Ela diz. –Me mostre esse anel. Nossa! Ele tem bom gosto. Tem as iniciais de vocês onde ele mandou fazer?

-Se eu te contasse que esse anel foi feito a mais de quinhentos anos você acreditaria?

Ela tampa a boca novamente.

-Caramba! Era de Julieta? Tipo, a verdadeira?

-Sim. –Confirmo.

-Ah, que vaca! E que vaco também! –Ela brinca. –Mas se o vovô, ou, pior ainda, Theo suspeitar, ou descobrir, será um desastre!

-E é por esse motivo que você não pode contar a ninguém! Ninguém mesmo! –Digo, nervosa. –Romeu já está bem machucado. Não suporto ver ninguém brigando por minha culpa.

-Ah, não esqueça Josh, que o vovô está empurrando pra você!

Reviro os olhos.

-Nem me fale. –Resmungo. –Bem que você poderia fazer ele me esquecer.

-Desse eu quero distancia! –Ela diz rindo. –Benvólio será o meu no final, não é?

-É. –Concordo. E lembro que no final eles acabam mortos. Tanto Romeu quanto Julieta. Um trágico romance. Doloroso e real.

Eu sempre odiei a comparação que faziam de mim e da verdadeira Julieta por culpa disso. Eu morrerei como ela? Não era uma praga que as pessoas estavam querendo jogar. Isso não é uma maldição que recaiu sobre mim? Terei o mesmo fim que essa a qual carrego o nome?

-Não se preocupe. –Ela diz. –Da tudo certo no final.

-Nem sempre. –Murmuro.

-O importante é acreditar e não perder a fé. Principalmente no seu romance! –Ela toca minha mão.

-Não vou perder a fé. E arrisco tudo por meu final feliz. –Digo e sorrio. –Até seu cabelo quimicamente modificado.

Ela coloca a mão no peito e finge dor.

-Ai, que falsa! –Ela diz. –Também nem queria ir pro seu casamento!

-Deixo você planejar todo o casamento verdadeiro.

-É o mínimo que você podia fazer! –Ela diz. –Depois de me excluir do seu casamento, qu aposto que foi rústico e tão lindo que me da uma raiva branca de você. E principalmente depois de insultar meus cabelos naturalmente perfeitos.

-Sei.

A comida chega e nós terminamos nosso almoço.


Os novos Romeu e JulietaOnde histórias criam vida. Descubra agora