Capítulo 15: esperança

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Continua...

Já estava arranjada e o James também, por isso fomos em direção ao carro, onde este deu partida para casa do Salvador.

Durante a viagem ninguém se atrevia a falar, o que tornou a viagem um tanto constrangedora.

Quando chegamos fomos recebidos pelos abraços e pelos típicos vai ficar tudo bem, ou então não tarda ela aparece, do costume. Entramos em casa e logo uma rapariginha de cabelos escuros e olhos azuis apareceu a correr pela sala.

- Tia Mia! - ela disse enquanto abria os braços para que eu a pegasse ao colo.

- Olá Gracie! Estás tão crescida! Esses 7 aninhos já pesam hã? - eu disse na brincadeira. Apesar de estarem apaixonados um pelo outro, só há 10 anos é que o Salvador e a Joanna se declararam, quando a Rose já tinha 6 anos de idade. É verdade, eu tive a minha Rosie aos 17 anos e o Salvador teve a Gracie aos 26 anos. 

- Bem, vamos jantar? - a Joanna disse, aparecendo na sala seguida do James e do Salvador.

O jantar foi bastante divertido, dentro do possível, mas tínhamos sempre tema de conversa e acredito que se isto com a Rosie não estivesse a acontecer seria um ótimo jantar.

Quando todos acabámos de comer fomos para a cozinha lavar a loiça, secar e pôr no armário assim cada um fazia uma coisa: o Salvador recolhia a loiça da mesa, a Joanna lavava, o James secava e eu guardava nos armários. Quando já estávamos quase a acabar o meu telemóvel começou a tocar. Mais uma vez não tinha a chamada identificada, tenho mesmo de arranjar um telemóvel novo... Decidi atender enquanto guardava uns copos, pondo o telemóvel entre a orelha e o ombro:

Chamada on:
Eu: Estou?
Ninguém respondeu.
Eu: Peço desculpa, mas a chamada não está identificada, quem fala? - perguntei ainda a rir-me um pouco de uma piada que o Salvador havia dito.
xxx: Ela vai aprender a não se meter nos assuntos onde não é chamada...- nesse momento, ao ouvir uma voz roborizada a falar, deixei cair os copos todos aos meus pés, o que fez com que todos olhassem para mim assustados e parassem se rir. Antes de desligarem ainda consegui ouvir um mãe, eu quero ir para casa, muito ao fundo, o que me fez desabar a chorar no meio da cozinha. Todos vieram a correr ter comigo e perguntar-me o que se passava mas não sei porquê não consegui reponder. De repente tudo começou a andar à roda, as vozes pareciam cada vez mais distante e a última coisa que vi antes de desmaiar foram... olhos verdes.

**********

Acordei ainda a sentir-me um pouco tonta. Olhei em volta e reparei que estava na sala da casa do Salvador com um pano molhado na testa. De repente, como num flash as últimas imagens de que me lembro vieram-me à memória. A chamada, a voz, os copos, os olhos verdes... Olhei mais uma vez em volta e reparei num vulto que se aproximava de mim. James. Este, assim que me viu acordada abraçou-me e sussurrou-me um agora está tudo bem, e depois olhou-me nos olhos.

- Mia, o que é que aconteceu? Porque é estavas a chorar? Quem é que te ligou?

Instintivamente comecei a chorar mas mesmo assim tentei falar, o Jake merecia saber a verdade. Comecei a contar-lhe todos os pormenores da chamada e quando acabei também ele estava a chorar.

- Mia...- sussurrou-me.- Nós temos de ir contar à polícia...

- Tens razão! Vamos lá agora! - assim que acabei de dizer isso levantei-me mas ainda estava um pouco tonta logo desequilibrei-me e quase caí ao chão, mas o James reparou e agarrou-me a tempo, impedindo-me de cair.

- Apanhei-te. - ele tentou sorrir.

Despedimos-nos do Salvador, da Joanna e da Gracie e fomos em direção à esquadra. Assim que entramos fizemos o procedimento normal e depois fomos ter com o agente encarregue do nosso caso. Contei-lhe tudo tal como contei ao James e no fim ele disse:

- Tem o telemóvel consigo? - eu assenti e entreguei-lho.- tal como previa, ele ligou em anónimo, é impossível rastrear a chamada. Lembra-se de algum pormenor relevante durante a chamada que nos dê uma pista de onde a Rose possa estar? Enquanto a chamada decorria ouvia chuva, talvez o som de uma fábrica a trabalhar ou até mesmo apenas o som do trânsito...?

- Não, a única coisa que ouvi foi a sua voz e a da Rosie...

- Bem, tenho boas e más notícias; as boas são que a Rosie está viva, mas as más são que o raptor é muito inteligente, ele soube que haveria a hipótese de rastrear-mos a chamada por isso ligou em anónimo e escolheu um local onde não houvesse barulho.

- Então o que fazemos agora? - o James perguntou.

- Nada, voltem para casa, já foram uma grande ajuda mas agora acho melhor irem descansar, especialmente a Sra. Mia.

- Tudo bem, se tiver novidades por favor contacte-nos. - ele assentiu e nós saímos da esquadra de volta para casa.

O raptor tinha sido inteligente, isso é verdade, ligar em nº anónimo e escolher um sítio sem barulho foi um golpe inteligente, mas não era isso que me interessava agora, o que realmente me estava a ocupar o pensamento era a voz da minha pequena Rosie, a chamar-me... Ela estava viva, a isso é que eu chamo esperança. Mas depois vinha aquela frase: ela vai aprender a não se meter onde não é chamada. Isso prova que isto foi um rapto planeado especificamente para raptar a minha Rosie, mas porquê? O que ela descobriu que lhe custou a liberdade? Essas perguntas não me saiam da cabeça e foi com elas que acabei por adormecer mas sempre com um pensamento que ocupava a maior parte dos meus pensamentos: ela estava viva, ainda havia esperança...

O ladrão de floresOnde histórias criam vida. Descubra agora