Amores Furtados

Capítulo 25

ANNA

Esse ano, foi o ano das novidades. Primeiro veio Godava, depois tudo que aconteceu em minha vida devido meu envolvimento com Jorge. Uma vez eu disse que poderia aprender muito com Gina. Uma das coisas que aprendi foi a perder parte do meu orgulho. Consegui passar uma borracha no acontecimento do aniversário de Nátalie. Não conseguia pensar que eu iria ter que seguir minha vida sem Jorge.

Dois dias se passaram desde que eu dormi na casa dele.

- Filha, lembra quando eu disse que queria conversar com você e que era grave? - Minha mãe chega na sala, se jogando ao meu lado no sofá.

- Lembro, mãe. Mas não quero falar sobre notícias ruins. - Falo mudando o canal da televisão.

- Você não é mais criança. Precisa ver a realidade. - Ela fala um pouco irritada. Desligo a televisão e a olho.

- O que houve? - Pergunto.

- Perdi meu emprego. - Ela diz curta e grossa, já começando a chorar. - Você sabe o quanto eu amava ser cirurgiã plástica? Eu ainda não entendo como fui errar daquele jeito.

- Mãe! - Abraço ela o mais forte que consigo. - Como isso aconteceu?

- Um paciente muito importante me processou por eu ter errado em um procedimento. Mas eu não lembro de ter errado. O meu erro fez ele ficar com rosto meio deformado de um lado. - Ela começa a soluçar alto. - Eu juro que não lembro de ter errado.

- Calma, calma. Você é muito boa no que faz. Mas se você é a dona, como pode ser demitida?

- Eu não era a única dona. Eu perdi minhas ações. Os outros sócios entraram em um acordo para me tirar. Eles me deram uma boa quantia em dinheiro, mas ainda tive que deixar boa parte para indenizar o paciente. - Ela se solta dos meus braços. - Eu realmente não lembro de ter errado em momento algum.

- Então você foi vítima de uma armação?

- Eu não sei. Não sei mais o que pensar. Sinceramente...

- Isso vem acontecendo desde quando? - Interrompo-a.

- Tem uns meses. Andou muito rápido o processo. Eu pensei que ia conseguir escapar. Mas foi impossível. Eu trabalho há anos fazendo sempre a mesma coisa. Eu atendo as pessoas mais influentes de dentro e fora do país. Não faz sentido eu ter cometido um erro grotesco daquele.

- Isso pode ter sido uma coisa boa. - Falo para tentar acalmá-la. - Agora você vai ficar mais tempo em casa. Isso não é bom?

- Estou pensando na possibilidade de nos mudar. Em outro país, talvez eu reconstrua minha vida. Eu só preciso organizar mais algumas coisas por aqui. Esperar você concluir o ensino médio.

- Você não pode decidir de uma hora para outra que quer sair daqui. Eu cresci aqui. Você cresceu aqui. Não é simples como você imagina. - Falo, com um tom de raiva na voz.

- Nós não nascemos nessa cidade. Se um dia me mudei para cá e tive sucesso, vou me mudar para um lugar melhor e melhorar minhas condições financeiras. Quero trabalhar no que eu gosto.

- Mãe, eu construí laços de amizade aqui. Não posso deixar meus amigos e nunca mais vê-los. A senhora não pode...- Começo a chorar. - Por favor. Não faz isso. Você tem as fábricas de sapatos no seu nome. A concorrência ainda não chegou aos seus pés. Não estamos pobres. Só perdemos parte da nossa renda. Não é o fim do mundo.