Abri as portas da sacada e deixei o ar entrar no quarto. Embora fosse
dezembro, uma brisa leve fazia cócegas na minha pele. Não tínhamos
mais permissão para ficar do lado de fora sem a presença de guardas, en-
tão a sacada teria de servir.
Andei pelo quarto e acendi algumas velas, na tentativa de tornar o es-
paço mais aconchegante. Quando ouvi uma batida na porta, apaguei ofósforo, peguei um livro, voei para a cama e ajeitei o vestido. Ora, Max-
on, é assim que eu fico quando estou lendo alguma coisa.
— Entre — convidei, com uma voz que mal dava para escutar.
Maxon entrou. Levantei a cabeça graciosamente e percebi que ele
ficou maravilhado ao encontrar o quarto à meia-luz. Então focou sua
atenção em mim, correndo os olhos pela minha perna à mostra.
— Aí está você — eu disse, fechando o livro e me levantando para
cumprimentá-lo.
Ele fechou a porta e avançou, o olhar cravado nas minhas curvas.
— Queria dizer que você está maravilhosa esta noite.
Joguei o cabelo para trás.
— Ah, por causa deste vestido? Estava escondido no fundo do
armário.
— Fico feliz que tenha tirado de lá.
Enlacei meus dedos nos dele.
— Sente-se aqui comigo. Não tenho visto você com muita frequên-
cia ultimamente.
Ele soltou um suspiro e me acompanhou.
— Sinto muito por isso. As coisas ficaram um pouco tensas depois das
baixas que tivemos naquele ataque, e você sabe como é o meu pai. En-
viamos vários guardas para proteger as famílias de vocês, o que diminuiu
nossas forças, então ele está pior do que nunca. E também está mepressionando para que eu termine a Seleção, mas continuo firme. Quero
ter tempo para pensar bem sobre as coisas.
Fomos até a cama e nos sentamos na beirada, bem perto um do outro.
— Claro. Quem deve controlar isso é você — comentei.
Ele concordou com a cabeça.
— Exatamente. Sei que já disse isso mil vezes, mas fico louco quando
as pessoas me pressionam.
— Eu sei — confirmei, fazendo uma cara triste.
Ele fez uma pausa, e não consegui interpretar sua expressão. Tentava
pensar num jeito de avançar sem parecer oferecida, mas não sabia exata-
mente como criar um momento romântico.
— Sei que é uma coisa boba, mas minhas criadas escolheram um per-
fume novo hoje. É muito forte? — perguntei, aproximando meu pescoço
para que ele pudesse sentir.
Ele aproximou o rosto, seu nariz tocando minha pele.
— Não, querida. É ótimo — Maxon respondeu, com a cabeça entre
meu ombro e meu pescoço, onde, então, me beijou.
Engoli em seco, tentando me concentrar. Precisava manter um mín-
imo de controle.
— Que bom que gostou. Estava com saudade.
Senti sua mão se esgueirar pelas minhas costas e baixei o rosto. Ali es-
tava ele, os olhos cravados nos meus, nossos lábios separados por poucos
milímetros.— Quanta saudade você sentiu? — ele sussurrou.
Aquele olhar, somado ao sussurro, fazia meu coração bater depressa.
— Muita — respondi, também sussurrando. — Muita mesmo.
Inclinei o corpo para a frente, morrendo de vontade de beijá-lo.
Maxon estava confiante. Ele me puxava para mais perto com uma mão e
acariciava meus cabelos com a outra. Meu corpo queria se desfazer em
um beijo, mas o vestido me impedia. De repente, fiquei nervosa de
novo, lembrando do meu plano.
Escorreguei as mãos pelos braços de Maxon e conduzi seus dedos até
o fecho do vestido, na esperança de que isso bastasse.
Suas mãos se detiveram ali por alguns instantes. Eu estava a ponto de
simplesmente pedir que Maxon baixasse o zíper quando ele caiu na
gargalhada.
Sua risada me fez voltar à realidade imediatamente.
— O que é tão engraçado? — perguntei, horrorizada, tentando pensar
em um jeito discreto de sentir meu hálito.
— De todas as coisas que você já fez, essa foi de longe a mais diver-
tida! — Maxon exclamou, rindo tanto que dava tapas no joelho.
— Como é?
Ele estalou um beijo na minha testa e disse:
— Sempre imaginei como seria quando você tentasse. — E voltou a
gargalhar. — Desculpe, preciso ir — completou. Até seu jeito de levantar
dava mostras de que estava se divertindo muito. — Vejo você amanhã.E saiu. Simplesmente saiu!
Fiquei lá, sentada, completamente arrasada. Onde eu estava com a
cabeça quando pensei que aquilo daria certo? Maxon podia não saber
tudo sobre mim, mas pelo menos conhecia meu caráter. E aquela…
aquela não era eu.
Baixei os olhos para aquele vestido ridículo. Era demais. Nem Celeste
teria ido tão longe. Meu cabelo estava perfeito demais; minha ma-
quiagem, carregada demais. Ele tinha entendido minhas intenções desde
o primeiro segundo em que pôs os pés no quarto. Suspirando, apaguei as
velas uma por uma e fiquei imaginando como iria encará-lo no dia
seguinte.