Capítulo 1.

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Eu estava cansada demais para lutar, doente a semanas finalmente percebi que estava sucumbindo a aquela maldita gripe, ou pelo menos eu achava que era gripe, fazia horas que eu dirigia sem rumo. Sentia como se a minha cabeça fosse estourar a qualquer instante, meu corpo doía, estava cansada, tudo que eu mais desejava nesse momento era algum lugar para deitar e descansar, quem sabe uma aspirina e eu estaría nova em folha. Dirigi por mais alguns quilômetros, até chegar a um grande engarrafamento, percebi no meio daquele caos de carros queimados e corpos carbonizados uma chance de finalmente descansar, desliguei o motor e deixei a chave na ignição do meu hummer que havia adquirido há uns dias atrás num golpe de sorte no Missouri, desci com certa dificuldade já que tinha ferido a minha perna com uma faca algumas semanas atrás, agora o local da ferida estava inchado, cheio de pus, uma nojeira de se ver, deixei a porta entreaberta, apenas para o caso de precisar fugir com pressa. Cerca de uns cem carros estavam naquele trecho da rodovia, caminhei lentamente enquanto pressionava o meu facão junto ao corpo, era uma das poucas armas silenciosas que eu tinha, vasculhei os carros e encontrei alguns suprimentos, ainda não havia escurecido, pelos meus cálculos deveria ser por volta de quatro da tarde, mas de qualquer forma eu deveria aprontar-me rápido, os walkers ficam mais ativos à noite, continuei minha caminhada. Havia vários corpos jogados pelo chão, tudo cheirava a morte e podridão, alguns metros à frente, em um carro onde parecia que uma família viajava. Pude ver pela janela do banco de trás, no interior do carro tinha um colchão podre coberto por um edredom rosa encardido, sobre ele estava um cadáver semi devorado de uma criança de mais ou menos uns sete anos e cabelos escuros. Abri a porta traseira com cuidado, a coisinha poderia estar viva, com o meu facão cutuquei-a, estava certa apesar de seu corpo podre e devorado, a menina virou a cabeça, em seu rosto havia uma grande mordida que lhe arrancara metade da bochecha esquerda e deixava seus dentes à amostra, não hesitei, enfiei meu facão no crânio do pequeno demônio e o limpei no banco do carro, não sujaria meu carro novo com aquele sangue podre, guardei o facão no pequeno gancho que tinha no cinto. Com as mãos livres agarrei o tornozelo da peste e a puxei para fora e afastei com o pé, peguei na ponta do colchão e o puxei arrastando até o meu carro, onde o posicionei no piso do banco do passageiro, agradeci mentalmente a quem quer que tenha inventado esse carro, voltei ao land hover encarei o monstrinho, eu tinha plena certeza de que estava morta, por essa razão a segurei pelos cabelos até o meu carro e a deitei sobre seu cobertor no banco do passageiro.

Eu estava totalmente fatigada dessa atividade, abri o banco do passageiro e me joguei no colchão o senti afundar nas minhas costas, parecia um colchão de berço, era fino e meio desconfortável, mas, dado o contexto era perfeito.

Eu odiava no que o mundo havia se tornado, uma carnificina, pessoas, digo, zumbis tentando te comer por todos os lados, você tendo que ser forte, esperta, insensível, tendo que lutar contra tudo e todos, por todos os lados para poder chegar ao final de mais um dia, tendo que matar para viver. É tudo uma grande merda, eu disse um pouco mais alto do que esperava, o sol se punha no horizonte, minha voz ecoou, era apenas eu, cercada de morte.

Não sei exatamente quando minhas alucinações se tornaram sonhos, por que apesar de todo aquele pesadelo ser real, alguma parte da minha mente não havia perdido a capacidade de sonhar, sonhei com a areia quente da Califórnia, onde tinha passado um ano antes do mundo acabar, nunca fazia calor de mais em Carmel, nunca era desconfortável deitar-se na praia para absorver os raios de sol. Era assim que eu estava, usando a parte de cima de um biquíni e um short desabotoado, óculos escuros, repousava escorada sobre os meus cotovelos, curvei minha cabeça para o lado e tirei o meu malboro da boca, abri em um pequeno “o” e deixei a fumaça sair por entre meus lábios, a sensação era ótima, o calor do sol bronzeava lentamente a minha pele a brisa do mar fazia meu cabelo esvoaçar, era um dia perfeito recoloquei meu cigarro entre os lábios e girei minha cabeça para o outro lado. O rapaz que estava ao meu lado sorriu, seus olhos azuis encontraram os meus, seu sorriso aumentou seu cabelo loiro estava bagunçado deixando-o extremamente sexy, eu sorri. Ele esticou seu braço bronzeado e definido, tirou o cigarro dos meus lábios e o jogou ao lado, eu prendi a fumaça enquanto ele se aproximava, seu rosto estava a alguns centímetros do meu, ele fez um pequeno “o” com seus lábios, eu me aproximei e soprei a fumaça nos seus lábios, nos sorrimos quando a fumaça se desfez, ele passou sua mão da minha cintura até o meu cabelo, afundou seus dedos nele até atingir a minha nuca, bruto. Aproximou seu rosto do meu, meus lábios estavam entreabertos, nos beijamos.

P.O.V Daryl

Malditos carros, pensei enquanto manobrava a minha moto por entre as brechas deixadas pelos malditos carros, dezenas de mortos, estavam ao meu redor, percebi um rastro de sangue podre indo ate um hummer perfeitamente estacionado, um pouco afastado dos demais, suspeito. Fiz sinal para que o resto do grupo parasse, Rick me olhou, eu fiz sinal para o hummer, empunhei a minha besta e caminhei lentamente ate o vidro dianteiro que estava aberto dois cadáveres estavam presos no sinto de segurança, realmente suspeito, vi uma criança deitada no banco traseiro, sua cabeça estava rachada ao meio, aquilo não era natural alguém tinha o feito, abri a porta traseira, tinha um colchão alguém aparentemente estava enrolada em uma manta azul, atrás de eu Rick empunhou a sua arma eu peguei a ponta da manta e puxei de imediato, uma garota loira sentou, apontou uma pistola com silenciador e gritou:

−Não toque em mim, filho da puta! Sai de perto de mim agora, eu não tenho medo nem remorso de matar uma pessoa − seus olhos verdes estavam cheios de fúria, estava coberta por uma camada de suor seu cansaço era visível, era óbvio que ela estava doente.

−E você acha que eu tenho medo de usar a minha besta? − falei olhando-a com desdém, ela sacudiu seus cabelos de leve, apenas para tira-los do rosto, assim que o fez, a reconheci de imediato, abaixei a minha besta, com o mais profundo espanto sussurrei.

−Katrina? − ela piscou, por um segundo seus olhos perderam o foco, ela arfou abaixando a arma, num esforço tentou sair do carro, tropeçou nas próprias pernas e caiu soltei a besta num movimento involuntário e a segurei −Daryl− ela sussurrou em meu ouvido antes de apagar completamente.

Hershel tinha acabado de fixar a ultima bandagem em sua perna ferida, logo acima do joelho, como ela usava bermuda foi fácil cuidar do ferimento, eu me sentei em um pequeno banco próximo a cama improvisada, Katrina ainda estava inconsciente, queimando em febre, estalando seus lábios como se estivesse tomando sorvete em suas alucinações, eu me recusava a sair do seu lado e responder qualquer pergunta antes que Hershel confirmasse que ela estava bem.

−Bem− ele começou−Ela é uma garota forte, a febre é consequência da infecção em sua perna, dei alguns antibióticos, ela ficará bem. Agora me diga Daryl, de onde você a conhece? − eu abaixei a cabeça e sorri de puro alívio.

−Ela é Katrina, Katrina Ledge.

Capítulo 1.Where stories live. Discover now