Capítulo 01 - A pequena porta das luzes

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Era fim de tarde na cidade de Kentucky. O sol batia forte em nossos rostos que chegava até mesmo a arder a pele, dado fato, agora me sentia como se fosse um frango dentro da grelha. O ar-condicionado do carro estava ligado, porém fazia apenas três minutos e iria demorar pouco mais para amenizar aquela temperatura próxima do que chamo de inferno escaldante. Meu irmão estava dirigindo no banco da frente, eu estava sentado no banco de trás a esquerda. Observando a paisagem pela janela, era monótona, havia apenas corredores de árvores coníferas. Estávamos a caminho do aeroporto, mas apenas eu iria fazer a viagem. Meu destino era a  cidade de New Jersey para morar com minha tia. Meus pais haviam morrido há dois meses num trágico acidente de carro em que a perícia não pôde explicar a causa, os corpos nunca foram achados. Não que aquilo fosse algo digno de preocupação, a morte é um estágio natural não importando a causa. O que também não significava que eu fosse um monstro frio, claro fiquei abatido nos dois dias seguintes ao incidente. Entretanto, no ciclo em que vivemos tudo se dissipa algum dia, e logo aquele sentimento se dissipou.

Em duas horas chegamos ao aeroporto, a despedida se limitou a um rápido abraço e um caloroso adeus que na verdade parecia um cubo de gelo queimando, grudando e arrancando minha pele. Minha relação com meu irmão sempre fora distante, uma vez que somos completamente diferentes. Ele sempre foi o mais sério da família, não era de se estranhar, estava estudando freneticamente para entrar na faculdade através de uma prova de proficiência, iria estudar teologia em outro país. Eu costumava chama-lo de Jimmy nêutron, apesar de ele ser apenas três anos mais velho que eu, já tinha carteira de motorista e concluído todo o ensino médio além de sempre tirar nota máxima em quase todas suas avaliações desde o fundamental e até mesmo ingressou num trabalho de período integral de escritor de contos e historias da noite. Talvez fosse por isso que queria estudar teologia, descobrir mais sobre o mundo e os mitos da religião. A viagem no avião fora rápida e tranquila, ao descer minha tia estava aguardando-me com um imenso sorriso no rosto, até mesmo já havia pegado minhas malas. Cheguei até ela e fui recebido com um abraço apertado.

- Meu querido Christian, você cresceu muito desde a última vez que nos vimos , faz o que? Uns seis meses - ela falava rápido, provavelmente achava que eu estava destruído e abalado, sua voz estava soando doce, mas parecia que estava falando com uma criança, estava tentando soar o mais convidativo possível - Eu tenho uma surpresa para você no carro - ela saiu me puxando delicadamente pelo aeroporto.

Enquanto andávamos no estacionamento pude ver de relance uma garota correndo, usava vestido branco e uma coroa de flores, na estrada oposta a onde ela estaria um carro vinha a toda em direção dela e o motorista não deu sinal de que desviaria e passou por ela o que quase me fez gritar para que ele parasse ou que ela corresse, porém minha voz havia sumido e o evento já havia ocorrido , mas logo após o carro ter sumido na estrada pude ver que não havia nada, nenhuma garota, contudo observei que uma rosa estava no chão no lugar onde eu havia a visto. Achei ter sido apenas uma coisa da minha cabeça. Ao chegarmos ao veículo abri a porta sem muito ânimo quando uma bolinha branca pulou em mim lambendo meu rosto, tive um pequeno sobressalto, mas logo vi que era um pequeno cachorro, coloquei-o no colo e sentei no banco, o carro começou a seguir rumo, o cão não ficava quieto, afaguei-lhe a cabeça o acalmando e logo olhei para a nova paisagem, prédios e casas, alguns parques e agitações pelos cantos. Era uma cidade grande e já era de se esperar que houvesse muitas pessoas para todos os lados.

Chegamos à nova casa onde dali em diante eu iria morar. Um enorme casarão branco vitoriano, do século passado, minha tia é uma professora de história na universidade de Princeton. Sempre fora fascinada por casas antigas, e transformou completamente aquele velho casarão numa verdadeira estrutura de arquitetura barroca. Entrei e logo subi ao segundo andar levando minhas malas, o cão me seguia animado e de vez enquando tropeçava em suas próprias patas, era engraçado. Cheguei ao cômodo que seria meu novo quarto e até mesmo fiquei surpreso, já estava mobiliado com tudo no estilo que eu queria, era um quarto amplo e dividido em duas áreas, metade era de fato um quarto normal com cama e televisão, mas o outro era tudo que eu sempre quis ter, uma biblioteca só minha, haviam estantes e prateleiras lotadas de livros, não apenas os que estavam na minha antiga casa como muitos outros que eu tanto queria e mais um pouco, havia poltronas azuis no centro com um tapete azul anil, as paredes eram branco gelo, sempre gostei muito dos tons de azul e branco. Um contraste perfeito naquele quarto me deu esperanças de que de fato iria gostar de morar ali.

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