Você pertence entre as flores silvestres
(...)
Você pertence a algum lugar em que se sinta livre
Fuja, encontre um amante
Vá a algum lugar totalmente brilhante e novo
– Tom Petty
— Isso é absoluta perda de tempo — Isabelle resmungou enquanto levava os dedos aos lábios depois de furá-lo pela quinta vez. — Não sei por que preciso aprender a bordar, Maia.
— É necessário ser prendada para a vida de casada — a Lightwood revirou os olhos e soltou um bocejo — Já bocejou vezes demais senhorita. As acomodações não estão do seu gosto?
Isabelle se alarmou. Gostava de Maia e não queria que ela levasse bronca por algo que não tivesse culpa. Até porque gostava de seu quarto, era acolhedor e confortável. De alguma maneira era mais seu quarto em três semanas do que aquele em que passara seus dezesseis anos. O cheiro de seus óleos e o aroma suave do unguento especial era mais familiar que o cheiro pungente das rosas que Maryse fazia questão de entupir em seu antigo quarto.
— Absolutamente, Maia. Meu quarto é magnífico, mas obrigada pela preocupação. — sorriu delicadamente para a dama de companhia, que também tinha abandonado o bordado. — Venho tendo pesadelos estranhos desde... bem, desde o que causou aquelas cicatrizes em minhas costas. Tinha esse violoncelista no baile e ele fez uma bagunça colossal, todavia tocava com a alma, sabe? Marcou-me de um jeito estranho. Toda noite sonho com o baile, ele está lá tocando e Lorde Montgomery me ataca de alguma maneira. O som do violoncelo fica reverberando na minha cabeça por horas, até o Sol nascer. Fora pior nos primeiros dias... — deixou a voz morrer.
Inusitadamente, sentia-se melhor por ter falado com Maia. Sentia-se mais leve, como se um peso tivesse saído de suas costas. Vinha trazendo os pesadelos com o violoncelo e a imagem turva de Lorde Montgomery desde que soubera que ia se casar com ele. Imaginava sempre as piores coisas e ele se mantendo secreto não ajudava muito.
Ainda conseguia se lembrar do pesadelo horrível e da voz firme e familiar em seu quarto, mas era tão perturbador que ela preferia apagar de sua memória, fora o mais lívido de todos. Agora eram mais turvos, pareciam com o que sonhos deveriam ser. Dançava com Lorde Montgomery até ele algemá-la e prendê-la contra ele, enquanto ela implorava para ser liberta. Igual ao primeiro sonho que tivera com ele. Sempre acordava ao nascer do Sol com as notas finais da música reverberando em seus ouvidos e não conseguia mais dormir até Maia aparecer para acompanhá-la ao desjejum.
— Lorde Montgomery não é esse monstro que imagina, senhorita. É um homem muito generoso e piedoso.
— Mediante fazerem o que ele deseja. É, eu sei. — fitou gravemente Maia, que sustentou o olhar com uma pitada a mais de raiva.
A mente de Isabelle trabalhou rapidamente e ela logo entendeu a situação. Será que Maia nutria sentimentos pelo patrão? Será que eles... Fazia sentido, apesar de incomodar Isabelle levemente. Era considerado normal que os patrões se deitassem com as empregadas, embora ela considerasse uma enorme falta de respeito para com as esposas e até mesmo com as próprias criadas, que nem sempre tinham escolha. Além disso, não parecia algo que Maia faria, mesmo que ela não conhecesse bem a jovem.
Parecia algo platônico mesmo. Mulheres eram fracas, Isabelle chegou a conclusão, sempre se interessavam pelo que menos era apelativo. Maia gostava de Lorde Montgomery, ela mesma não tinha sido chicoteada à toa, era a punição por se sentir atraída por Meliorn.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Liberta-me
FanfictionO nome Lightwood está em ruínas. O filho mais velho, cujo nome era impronunciável, havia fugido para não se casar e as más línguas diziam que o menino havia escapado para viver com outro homem. A única esperança da família é a jovem Isabelle Lightwo...