Capítulo 2b

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Ao sair do gabinete do senador Murillo, Guilherme sentiu vibrar o seu celular, de dentro do bolso do paletó. Ao retirá-lo, percebeu que era o celular alternativo, que ele guardava para as ligações pessoais, que estava vibrando. Abre o aparelho e lê a mensagem: "Feito".

Nesse mesmo momento, ele caminhou para o banheiro, entrou em um box desocupado, trancou a porta e se pôs a desmontar o celular. Enrolou uma parte em papel higiênico, para evitar que o plástico escorregasse na louça, jogou na privada e deu a descarga. Saiu do box, certificando-se de não haver mais ninguém no banheiro, entrou em outro box e repetiu o procedimento com o restante do aparelho.

Olhou para o relógio e pensou "A essa hora, a Aline já deveria ter chegado". Levou a mão ao paletó novamente e alcançou seu Black Berry. Enquanto saía do banheiro, selecionou o número de telefone da Aline em sua agenda e fez a ligação para sua assistente. A chamada foi encaminhada para a caixa postal, após tocar oito vezes, e Guilherme aguardou pacientemente o final da mensagem eletrônica, enquanto se dirigia ao elevador do Congresso Nacional. "Você ligou para Aline, no momento não posso atendê-lo, deixe seu recado que retornarei assim que possível." Seguiu-se o bip e Guilherme disse:

- Bom dia Aline! Aguardo você para falarmos sobre os próximos passos. Como você vai assumir outro caso, precisamos alinhar a transição para a minha nova assistente. Um abraço, Guilherme.

Nesse momento, as portas do elevador se abriram. Após aguardar pela saída de algumas pessoas, ele entrou, apertou o botão do subsolo, onde ficam as vagas para os veículos oficiais do ministério público e guardou o celular de volta no bolso.

Ao sair do elevador, seu celular vibrou novamente. Dessa vez ligação provinha do seu escritório, localizado no 5º andar do anexo 2 do prédio do ministério público, que ficava ao lado do antigo prédio sede da Polícia Federal.

- Guilherme. - atendeu e aguardou pela outra parte.

- Dr. É sobre a Aline. - disse a voz, chorosa, do outro lado da linha.

- O que tem ela? - perguntou Guilherme, num tom preocupado.

- Ela... ela... tentaram assaltá-la num posto de gasolina agora cedo, quando ela estava vindo pra cá. Parece que o bandido se assustou e atirou nela. Ele fugiu sem levar nada. - e desatou a chorar.

- Mas e como ela está? Ela morreu? - questiona ele, já em tom de desespero.

- Ninguém sabe Dr., ela foi levada pro Hospital de Base e a gente liga lá, mas ninguém fala nada.

- E como você ficou sabendo disso? - indagou Guilherme, visivelmente preocupado.

- É que segunda-feira é o dia dela de trazer o nosso café da manhã e eu liguei pra lembrá-la, mas um policial atendeu e nos contou o que tinha acontecido. Meu Deus Dr., será que ela morreu? - pergunta a moça, já perdendo o controle para o choro.

- Calma Analice. Eu vou até lá ver o que aconteceu e te ligo depois. - em seguida desligou o celular e, sem perder mais tempo, correu para seu carro.

O Vectra preto estava parado na vaga reservada aos carros com placas oficiais do Ministério Público e acendeu o pisca alerta após o toque da chave, em sinal de que o alarme estava desativado e as portas abertas.

Guilherme entrou e já ligou o motor do carro, engatou a ré e em seguida arrancou em velocidade para a saída do estacionamento.

O caminho do Congresso até o Hospital era rápido e em 9 minutos Guilherme estava parando seu carro dentro do estacionamento, em frente à entrada principal.

Saiu correndo do carro até a recepção, sem parar para os jornalistas que tentavam obter mais informações sobre o que acabara de ocorrer.

- Estou procurando por Aline Barreto. Ela chegou há pouco com ferimentos à bala. - disse para a recepcionista, enquanto tentava recuperar o fôlego.

- Sr, aqui é a recepção do Hospital, não temos acesso ao Pronto-socorro, o senhor tem que - ele não esperou ela terminar a frase, já sabia onde era o pronto socorro. Estivera lá uma vez, após um acidente em que um motorista alcoolizado atravessou o cruzamento e o atingiu, em cheio, na lateral direita do seu carro.

Correu mais um pouco até chegar à entrada do pronto-socorro onde, mais uma vez, teve que driblar os repórteres para poder entrar. Foi direto ao balcão de internação.

Dessa vez, apresentou sua carteira de identificação, com o brasão do ministério público de metal dourado, em alto relevo.

- Procuro por Aline Barreto.

- Ela acabou de chegar. Foi encaminhada para cirurgia. - informou a atendente. - "ela está viva!"- pensou Guilherme imediatamente.

Ao olhar ao redor, pôde ver dois bombeiros saindo de um corredor com duas portas de vai e vêm pintadas de bege, com uma barra de plástico marrom no meio de cada uma e janelas de observação no centro.

- Por favor, foram os senhores que trouxeram a moça baleada? - perguntou Guilherme, prostrando-se na frente dos dois. Ele conseguia disfarçar suas emoções muito bem, mas nesse momento não se preocupou em disfarçar nada e, muito aflito, repetiu a pergunta, dessa vez mostrando a carteira com o brasão.

- Os senhores que a trouxeram?

- Sim senhor. - respondeu um deles.

- E como ela está? - perguntou Guilherme, enquanto guardava sua carteira.

- Olha Dr., nós não podemos afirmar nada, mas aparentemente ela estava com três ferimentos à bala, um na mão esquerda, outro no ombro esquerdo e o terceiro na cabeça.

- Mas ela vai ficar bem? - perguntou, se mostrando preocupado.

- Não posso afirmar porque o ferimento do ombro tinha a entrada da bala, mas não achamos a saída. - respondeu o bombeiro, o que fez mudar a fisionomia de Guilherme mais uma vez.

- Você não disse que ela havia levado um tiro na cabeça? - perguntou Guilherme, precipitando-se às explicações do bombeiro.

- Esse foi de raspão, do lado direito. - respondeu calmamente o bombeiro.

- E o que farão com ela agora? - indagou Guilherme, em seguida.

- Ela foi encaminhada para a equipe médica de plantão. Eles é que decidirão o que fazer. Agora, se o senhor nos der licença, temos que preencher nosso relatório. - dizendo isso, ambos dirigiram-se à saída, onde foram cercados pelos repórteres, mas rapidamente entraram na ambulância e foram esquecidos.

Nesse momento, Guilherme levou uma mão à testa em um gesto de preocupação e com a outra buscou seu celular no bolso. Pressionou rapidamente 8 números e, após dois toques, disse à pessoa do outro lado da linha:

- Ela está viva!

A Mentira em Seus OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora