Capítulo 1

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- Grave o que eu digo, Lily, esse ano tudo vai mudar! - Diz Zoe, com convicção, enquanto andamos pela rua em direção à casa dela.

- Qual sua definição para "tudo"? - pergunto, cansada de ouvir o mesmo discurso pela enésima vez.

- Tudo. Vamos para o último ano da escola! Vamos ser as veteranas, e os calouros vão beijar nossos pés. - Abro a boca para contestar, mas ela levanta o dedo e me impede. - Vão sim, porque esse ano vai ser diferente. Vamos ser populares.

Reviro os olhos. Será que essa louca tem noção do que está falando?

- As pessoas não ficam populares da noite para o dia, Zoe. Não é tipo "quero ser popular" e puff!

Zoe pisca o olho azul para mim.

- Sei o que eu digo. Tenho um plano. Nós duas vamos nos elevar na hierarquia social da Lincoln High School e entrar na faculdade ano que vem como as Rainhas do Baile de Formatura! - Suspiro. Ela perdeu completamente a sanidade.

- Tecnicamente só uma pode ser a Rainha do Baile e... CUIDADO, NÃO PASSE POR AI! - Grito, fazendo Zoe dar um pulo de susto e parar imediatamente.

- O QUE FOI, LOUCA?

- Não passe por aí! - aponto para a frente. Uma escada no meio da rua se destaca como neon aos meus olhos. Estamos passando por uma construção.

- Por quê?? - sua voz soa aguda. Ela deve estar morrendo de vergonha do meu grito. As pessoas na rua olham para mim, mas eu não ligo. Olho pra ela em pânico.

- Escada dá azar! - sussurro. Zoe bufa.

- Para com isso, Lily! - ela se zanga, e passa de baixo da escada. Depois se vira para mim e cruza os braços. - Viu? Nada de errado aconteceu comigo! Larga de frescura! Vem logo que eu já estou atrasada.

Suspiro. Eu posso dar a volta na escada e não passar por baixo, mas Zoe irá me irritar pelo resto da minha existência. Respiro fundo e dou os seis passos que me separam dela.

- Doeu? - Ela arqueia uma sobrancelha.

- Vai doer. - Respondo baixinho. Ela revira os olhos e continuamos andando, enquanto ela volta a seu discurso sobre popularidade.

A questão é que eu sou a pessoa mais azarada do planeta Terra. E sei que qualquer coisa pode piorar esse meu karma. Até mesmo passar embaixo de uma escada. Ou quebrar um espelho.

Quando chegamos na sua casa já está escurecendo. A sorte é que fica apenas a um quarteirão da minha. Mal ando 4 metros longe da porta de Zoe e um carro passa com tudo numa poça de água, jogando aquela enxurrada de lama e fedor em mim.

Meu ato de rebeldia contra o azar está começando a mostrar suas consequências.

Estou tão ocupada xingando o motorista do carro que não tem a mínima consideração pelos pobres pedestres, que nem noto o bicho até quase pisar em cima dele.

Um gato preto de brilhantes olhos verdes me encara e solta um miado adorável. Ele tem uma coleira com um pingente de prata, com um nome escrito.

Olho para os lados. Não parece ser um gato de rua, mas não tem nenhuma casa aqui perto. Volto a encarar o gato, que agora se esfrega nas minhas pernas.

É um gato preto... O azar disso deve ser imensurável...

Suspiro. A escada já me ferrou mesmo.

- Oi amiguinho...nha... - falo, pegando a gata e olhando a placa. - ... Medéia...

Olho em volta mais uma vez e começo a caminhar para casa, com a gata ronronando no meu colo.

- Mãe! Cheguei! Trouxe uma convidada!

- Yooo, Lily! Uma convidada? Tipo assim, a Zoe? - a voz vem da cozinha, e assim que ela chega na sala, fica surpresa. - Oh, um gato? Quer dizer... Nossa, que maneiro! Onde o achou?

Reviro os olhos, tentando não rir das tentativas da minha mãe de usar gírias.

- Achei na rua. E é uma gata. Medéia. Ela deve ter fugido, tem o número do dono na coleira. - coloco a gata no chão e vou até a cozinha encher uma tigela com leite. É ai que minha mãe repara no meu estado.

- Céus, Lilian, o que aconteceu com você?!

- Passei debaixo de uma escada e um carro passou numa poça. Azaaar azar azar... - cantarolei.

Quando me virei com a tigela cheia, minha mãe estava atrás de mim, o que me fez dar um "pulinho de susto" e tombar o leite na roupa (só na minha, porque minha mãe continuou impecável).

- Filha, manda mensagem para o dono da gata antes que fique muito tarde. Eu vou sair, mas volto lá pelas 23h. Não precisa me esperar acordada. Quer dizer, você pode virar a noite se quiser, mas não precisa ficar à minha espera, tá ligada?

- Tô, mãe, tô ligada sim. - Suspiro. - Divirta-se.

Coloco a tigela com leite para a gata, e mando mensagem para o número na coleira.

Olá! Achei sua gata, Medéia, na rua, e tinha seu número na coleira. Ela está aqui na minha casa. Você poderia vir pega-la?

A resposta veio quase imediatamente.

Estou indo. Endereço?

Mando o endereço e mais uma vez, a pessoa demora cerca de alguns segundos a responder.

Estou nesse quarteirão. Cinco minutos.

Arregalei os olhos. Cinco minutos e eu totalmente bagunçada e suja aqui?!

Corro para o banheiro e tento melhorar o que dá. Meu cabelo castanho está impossível. A água suja o deixou fedendo e meio duro. Minha roupa, um vestido de verão florido, está marrom da lama e grudento do leite. Não dá tempo, e não vou deixar a pessoa, sei lá quem seja, esperando.

Lavo o rosto para tirar a sujeira, e, quando entro no quarto pra trocar a roupa, ouço a campainha.

Suspiro, pego a gata, que está dormindo no meu sofá, e vou até a porta. Meu vestido se enche quase automaticamente de pelos negros.

A gata ronrona, e eu me estresso. Eu podia estar tomando uma droga de banho, reclamando da minha vida, mas nãããão, tenho que ir toda suja e grudenta, devolver uma gata pra uma pessoa que nunca mais vou ver na vida. Provavelmente um cara sedentário de 30 anos que ainda mora com a mãe, ou uma velhinha que já tem tantos gatos que não consegue controlar todos. Seja lá quem for, conseguiu me deixar zangada.

Por que eu sou tão azarada?? Bufo, me aproximando da porta. Estou furiosa.

Abro a porta com cara de poucos amigos e... e...

PUTA MERDA, que cara gato.

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Espero que tenham gostado e até ao próximo!

Laura

Black CatOnde histórias criam vida. Descubra agora