Um conto sobre música, goiabada e inhame

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- Goiabada? - Amélie estranhou, arqueando a sobrancelha ao tempo em que a outra garçonete lhe passava o pedido da mesa 7. - Goiabada e... Batata-doce?

- Inhame - Kate a corrigiu. - Esqueceu que hoje é a "Sexta do Chefe"? Ele fica inventando cada coisa...

Amélie deu de ombros.

- Seja lá quem tenha pedido essa gororoba deve ter um estômago de ferro. - Ela soprou um cacho da frente dos olhos, equilibrando a bandeija nas mãos. - Acho que o chefe cozinha essas coisas só nas sextas porque os clientes tem o final de semana todo pra passar a noite no trono.

Kate suprimiu a risada ao notar o olhar crítico do chefe do outro lado, dentro da cozinha. Ela limpou a garganta, se recompondo.

- Para de enrolar e vai trabalhar, Amélie! Esqueceu do que o chefe disse ontem? Só mais um deslize e você tá na rua.

A garota evitou revirar os olhos.

- Eu não tenho culpa se os homens que frequentam esse lugar merecem um banho de café quente nas calças por serem tão detestáveis!

- Uma pena que a chefia não compartilhe do mesmo pensamento. Agora vai, vai, vai!

Amélie saiu com um empurrãozinho de Kate nas costas enquanto que na mesa 7, Rodrigo mirava um ponto fixo através da janela, perdido nos próprios pensamentos.

Estava tão distraído que pulou de susto quando colocaram seu prato de repente na sua frente, fazendo-o erguer a vista e quase se engasgar de susto.

- Mais alguma cois-Ah! - Uma nota de exclamação pulou da boca aberta de Amélie no meio da frase, se espantando quando seus olhos se cruzaram com o par de íris verdes do rapaz estático.

- A-Amélie! O que você tá fazendo aqui?

Depois do susto inicial, o sangue de Amélie ferveu tanto que deixou sua pele morena febril.

- Eu trabalho aqui - seus traços formaram uma carranca furiosa. - O que você faz aqui?

A raiva dela despertou Rodrigo como se ele tivesse sido estapeado. Recobrou os sentidos, passando os dedos pelos fios rebeldes do cabelo castanho e relaxando a postura em sua típica posição "não-estou-nem-aí" de moleque petulante que tanto irritava a garçonete.

Ele abriu os braços indicando o lugar ao redor, debochado ao finalmente respondê-la:

- É uma lanchonete, tenta adivinhar o que eu vim fazer.

Aquele sorrisinho, argh! A única coisa que impediu Amélie de matar Rodrigo com um golpe certeiro na têmpora com a bandeja que segurava, foi seu chefe chegando sorrateiro por trás dela.

- Algum problema? - Ele cruzou os braços, fechando a cara.

- Não! - A garota respondeu de vez. - Claro que não, chefe!

A mente diabólica de Rodrigo foi ágil, num estalar de dedos, ele sabia exatamente o que fazer para conseguir o que queria.

- Na verdade, senhor, se todos os seus funcionários forem como ela... - Rodrigo sorriu quando Amélie fez aquela cara desesperada que ele pagaria para ver. -... Vou passar a vir aqui todos os dias.

- Ah, ela é a minha garçonete preferida! - O chefe descruzou os braços soltando uma gargalhada forte e desequilibrando a garota ao puxá-la para perto pelos ombros. - Amélia é uma funcionária muito eficiente!

Meu nome é Amélie, corrigiu mentalmente, soltando uma risadinha nervosa.

Rodrigo deu uma garfada na gororoba.

Uma Música Sobre Goiabada e InhameOnde histórias criam vida. Descubra agora