- Acho que você vai se atrasar, Lily... - Diz minha mãe, olhando o congestionamento de carros em que estamos presas há quase dez minutos.
Olho pela janela, tentando entender por que o trânsito resolveu parar logo no meu primeiro dia de aula. A fila está quilométrica. Olho para meu relógio. Quinze minutos para a primeira aula.
Argh!
- Mãe, eu vou a pé. Desse jeito eu vou chegar na escola no horário de saída!
Ela olha para mim, com o cenho franzido. Depois volta a olhar para o trânsito e em seguida para o relógio. Por fim suspira e clica no botão para abrir a porta do carro.
- Cuidado a atravessar a rua, Lily. Depois me ligue pra contar como foi. - eu pego a mochila bege e jogo nas costas, abrindo a porta. - Disse!
- É "falou" a giria, mãe!
- Falou! - e riu. Eu fechei a porta e comecei a andar em direção à escola.
Vinte minutos depois, chego na escola. Estou cansada, suada e meu cabelo (que demorei um século pra arrumar de um jeito bonitinho) está um belo ninho. Prendo o cabelo num rabo de cavalo e, assim que descubro pra onde devo ir, entro na sala de aula.
Todos os alunos me olham. O professor, que estava falando, se cala imediatamente e me encara. É um homem de meia idade, com cabelo grisalho e óculos com aro de metal.
- Desculpe, professor.
- E senhorita seria...?
- Lilian Montgomery. - Engulo em seco.
- Pois bem, Srta. Montgomery... Como eu estava dizendo a seus colegas, antes da senhorita chegar... Eu não tolero atrasos. Sejam eles de vinte ou de cinco minutos. Espero que isso não se repita. Agora sente-se por favor.
Ele me olha com desprezo, e eu sei que entrei na lista negra dele. Brilhante forma de começar o ano, fazendo essa bonita amizade com o professor (que descubro ser de literatura).
A aula passa depressa. Infelizmente, não tenho nenhuma em comum com Zoe durante a manhã. Ficamos em turmas separadas, e só teríamos aulas juntas nos dois últimos horários, logo depois do almoço . Checo meu horário. Aula de francês e em seguida educação física.
Suspiro, guardo meus cadernos e em pego o já conhecido corredor lotado em direção à cantina. Acho Zoe e ela acena pra mim da fila pra pegar o almoço.
Depois de pegar uma coisa que deveria ser purê de batata e carne, mas que mais parece um cérebro podre, me sento com ela em uma mesa afastada.
- Hey, Lily! Como foi sua manhã?
- Péssima. Professor de literatura me odeia, um garoto ficou roncando do meu lado na aula de física, o novo professor de Artes fez a gente fazer um circulo e nos apresentar e pra fechar com chave de ouro desmaiei na aula de biologia.
- Furaram seu dedo pra saber tipagem sanguínea?
- É. - Faço uma careta. Zoe ri. - Se prepare que sua hora vai chegar, ela vai fazer isso na sua turma também. E sua manhã como foi?
Zoe para de rir e dá de ombros.
- Divertida. Um garoto ficou babando em mim. - Ela cutuca o almoço. - Os anos se passam e a Gororoba permanece.
- Apenas aceite, a Gororoba é mais antiga do que nossos avós. Mas temos aula de francês agora. Melhor comer. Precisamos de toda a energia possível pra sobreviver.
Enquanto comemos dou uma boa olhada em Zoe. Ela está diferente. Os olhos azuis claros estão cercados de uma sombra clara e rímel. E o cabelo está preso de lado com umas presilhas. Usa uma regata bonita, calças jeans e sapatilhas. Ela provavelmente acordou quase uma hora mais cedo, só pra pensar em como ia se arrumar. Isso me faz vez que ela falava sério sobre mudar esse ano.
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Black Cat
Roman d'amourLilian Montgomery é a garota mais azarada do planeta. Em seus 17 anos de existência, já foi assaltada 3 vezes, perdeu 2 celulares (e quebrou mais dois), ficou doente as férias inteiras e não pode viajar, derramou cola mil no vestido do Baile de Calo...