"Viver é isso: ficar se equilibrando o tempo todo, entre escolhas e consequências." — Jean-Paul Sartre
A morena de cabelos pretos suspirou pela terceira vez enquanto usava a ponta da chave de casa para descascar o esmalte da unha recém pintada. Se a vovó Davis fosse viva e a visse fazendo tal coisa, com certeza receberia um tapa nas mãos e uma repreenda. Para Helen, a exterioridade de uma jovem dizia tudo sobre ela e tentando seguir seus conselhos, a neta tem mantido a boa aparência, já que não tinha controle sobre todo o resto de si. Há longas e exaustivas semanas, ela esteve quebrada e inacessível. Todos sabiam o motivo de ela ter se fechado daquela forma, mas se recusavam a falar a respeito, porque foram enxotados para fora e ignorados quando tentaram.
Ela não queria mais ouvir justificativas para aquele comportamento. O que mudaria? Não havia desculpas suficientes que aliviassem a pressão em seu peito que a sufocava desde que descobrira a verdade através daqueles moleques.
A luz do farol de uma caminhonete azul atravessou o vidro da janela e cegou-a por um instante. Sua mesa era uma das mais reservadas, encostada à parede fria pela chuva que castigou a cidade durante toda a manhã. O barulho das bolas de sinuca sendo encaçapadas era ouvido mesmo com a jukebox funcionando. Sempre adorou aquela coisa colorida e barulhenta, mais ainda a seleção com as músicas antigas, mas o seu ânimo não estava de acordo com o que The Doors tocava naquele momento. Ela levantou o olhar para a garrafa pela metade e então para as outras três vazias no canto da mesa, esperando para serem recolhidas. Olhou para o relógio de pulso no exato momento em que os ponteiros marcaram 18:03, mas precisou piscar algumas vezes para ter certeza.
Sabia que não deveria estar bebendo. Não fazia isso com frequência e era menor de idade, o que dificultaria muito as coisas se aquilo se tornasse um habito. A sua mãe ficaria louca se encontrasse a filha de dezessete anos afogando as magoas em algumas cervejas e ela sabia que a possibilidade de isso acontecer era grande, tendo em vista que ela era delegada da cidade e já tinha sido chamada nesse mesmo bar em inúmeras ocasiões. As desvantagens de ser a superior em lugares tão pequenos, é que muitas vezes, você tinha que resolver o problema pessoalmente. Mas o movimento devagar demais para um domingo, a tranquilizava um pouco sobre isso.
A bagunça de hoje acontecia dentro de si mesma e não entre vagabundos bêbados discutindo por causa de futebol.
— Devo mandar trazer outra verdinha dessas? — Tyler perguntou se referindo às Heineken ao se aproximar da mesa, enxugando as mãos em um pano de prato encardido — Mas talvez esteja na hora de parar. Seus olhos estão se movendo muito lentamente e se Renée descobre que você tem aparecido por aqui, o nosso esquema já era. Além do mais, o tio Rick prenderia todo o meu salário por sabe-se lá quanto tempo.
— Isso não é problema meu. Estou pagando, não estou? — Ela rosnou, irritada pela bronca desnecessária. O seu estômago era perfeitamente capaz de avisa-la quando não aguentasse mais — Olhe, esquece. Foi mal. Eu estou tendo um dia ruim. — Desculpou-se quando viu o rapaz endurecer com a grosseria. Ela não teria sido capaz de entrar no lugar se não fosse por ele e permanecer em seu quarto já estava lhe causando claustrofobia.
— Bem, está na hora de fazer algo a respeito disso e não, eu não estou me referindo ao álcool — O moreno de cabelo crespo puxou uma cadeira para sentar-se, ignorando o revirar dela. A cozinha estava suficientemente limpa, ele tinha alguns minutos para jogar conversa fora e a moça à sua frente precisava ouvir algumas coisas — Sentimos a sua falta nas férias, Emma. Nosso grupo ganhou três dos quatro jogos de boliche no Aztec Lanes e depois fomos comer sushi. Foi mais divertido do que eu pensei que seria, sabe? E realmente só faltaram vocês. Os meus tios estavam ansiosos para te conhecer.
— Sim, eu sinto muito sobre isso.
Os Crowley estavam animados para receber em sua casa, um punhado de adolescentes cheios de energia para gastar durante todo o spring break. Eles viviam em Olympia e passaram dias em contato com Emma para organizar a pequena viagem dos colegas de seu sobrinho, mas ficaram desapontados quando ela ligou avisando que, de repente, estava indisposta para passar tanto tempo fora de casa e os visitaria em uma outra oportunidade.
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Erros de Sempre
RomanceEmma retorna à sua cidade natal quando os pais decidem reatar o casamento após mais de uma década separados. Com dificuldades de se adaptar, faz o impossível para manter-se sob às sombras, mas nem assim consegue passar despercebida. A moça logo vira...