Sopro de Vida

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A sirene da ambulância soava, longe. - Como eu gostaria de estar nela. As dores estão me matando.

- O que mais eu posso querer além deste beco escuro. É o que mereço, por ter decidido ser moradora de rua. Mas será que eu decidi? Ou fui empurrada para isso?

- Bem, agora não adianta reclamar. Ai, as contrações estão cada vez mais fortes. Acho que está na hora.

Ela se acomodou sobre um velho colchão onde alguns panos quase limpos, estavam estendidos. Tinha apenas quatorze anos.

- Pelo menos não é uma noite fria e estou bem escondida atrás dessas latas e caixas de papelão.

Olhou para o lado, onde um porrete, uma pequena lâmina e uma boneca, suja, estavam separados, em cima de uma folha de jornal.

- Nenhum malandro me incomodará. Ai, como dói. Cadê meu mordedor? – Ela improvisara um pano enrolado em um pedaço de madeira. Mordeu-o com toda força, gemendo.

As horas passaram. Dores terríveis e mais contrações, mas nada de a criança nascer. Sentia-se fraca, cansada.

O amanhecer chegara, encontrando-a encharcada de suor. Seu coração fraquejava.

Um barulho fez com que abrisse os olhos. Sentiu um afago no rosto.

- Fique calma garota, vou ajudá-la.

Como se tivesse larga experiência, a posicionou melhor tocando-lhe o ventre.

O toque foi como um remédio salvador. Uma última contração e o tão esperado choro. Um menino.

Com firmeza executou todos os procedimentos necessários com o recém-nascido, enrolando-o em um pedaço de cobertor. Entregou-o a mãe.

Ela deu o seio para o filho, aconchegando-o. Lágrimas escorriam-lhe pela face. Sentiu no coração a grandeza de ser mãe.

Quis agradecer ao estranho que a salvara e ao bebe. Ele não estava mais lá.

Olhou para cima. Penas pairavam no ar.

Luiz Amato e ConvidadosOnde histórias criam vida. Descubra agora