Obrigada pelos 3k de leituras :)
É tarde. A esta hora quase todas as pessoas deveriam estar a dormir, de modo a descansar para o dia que terão em frente. Supostamente eu também deveria estar a dormir, mas não consigo. Aproveito as poucas horas que me restam até ao teste de recuperação para rever toda a matéria. Estou nervosa, com medo de não ter estudado o suficiente devido aos pensamentos constantes de Harry que sempre me distraíram. Já não sei o que mais fazer para assegurar uma boa nota, apenas me resta ler e reler o livro até a hora chegar.
Por mais que tente, não consigo fixar os meus olhos nos livros, distraindo-me pela simples parede à minha frente ou pela luz do candeeiro. Cada palavra presente naquelas páginas apenas aumentam o meu desinteresse e pergunto-me como consegui tirar uma boa nota nesta disciplina nos anos anteriores. Mas continuei, foquei-me o máximo que consegui naquelas páginas e li o máximo que pude delas, até um barulho na minha janela me chamar a atenção. Pequenas pedras são atiradas contra esta, causando um pequeno barulho apenas possível de ouvir devido a este enorme silêncio. Abro com cuidado a janela, apenas para nenhuma pedra me acertar, e olho lá para baixo vendo um Harry sorridente a olhar para mim.
-Não devias estar a dormir?- pergunto-lhe, apenas me perguntando o porquê de o ter feito segundos depois.
-Pergunto-te o mesmo.- diz e coloca as mãos nos seus bolsos. -Tenho uma coisa para te mostrar, tens de vir comigo.
-Onde?
-Ao pé da cascata, é algo incrível.- e foram essas as palavras que me convenceram a sair de casa a meio da noite para ter com aquele rapaz.
Levei comigo dois cobertores e a minha mochila, onde levo os meus livros, as chaves de casa tal como o meu telemóvel. Antes de sair, deixo um bilhete na minha secretária para a minha mãe, dizendo que irei ter com Harry e para não se preocupar comigo. Coloco um gorro e visto um casaco, prevenindo-me do frio que lá fora está, e finalmente abro a porta onde um sorridente Harry me espera.
-Trouxe cobertores, no caso de termos frio.- digo, enquanto fecho à chave a porta de entrada.
-Ainda bem, porque parece-me que vai ficar cada vez mais frio.
Começámos a caminhar. As ruas estão desertas e nenhum carro passa por estas, deixando um silêncio apenas preenchido pelo barulho do vento que por vezes se punha. Harry caminha rápido à minha frente, como se estivesse entusiasmado com aquilo que está prestes a mostrar-me. Entretanto, nenhuma palavra é trocado entre mim e ele, silêncio esse constrangedor na minha opinião. Eu queria iniciar uma conversa entre nós, mas sempre que ia perguntar algo a minha boca logo se fechava com medo do que dali iria sair.
Em poucos minutos lá estávamos nós, à frente da floresta que nenhuma luz se atrevia a iluminar sem ser o luar. Harry para, apenas para retirar o seu telemóvel do bolso para iluminar o caminho à nossa frente. Seguimos as minhas antigas setas cravadas nas árvores até aquela mística clareira aparecer à nossa frente, com o som da água da cascata como uma melodia de fundo. Harry guarda o telemóvel e pega no meu braço, apressando a minha chegada ao pé do pequeno lago. Com a sua mão, levanta um pouco o meu queixo obrigando-me a olhar para o céu com poucas nuvens e onde, mesmo por cima de nós, a lua cheia brilha e ilumina a noite.
-Não é incrível?- pergunta Harry e eu apenas abano a cabeça, nunca tirando os olhos da lua. - Eu sabia que ias gostar.
Sentei-me e , pouco tempo depois, Harry faz o mesmo. Olho ainda para a lua, pensando como nunca tinha visto esta mesmo por cima desta clareira. Muitas vezes observava as estrelas, mas nunca consegui observar a lua devido às altas árvores que circulam este lugar. Agora consigo e, mesmo sendo uma noite gelada de outono, não quero tirar os olhos desta vista que, mesmo sendo simples, me encanta tanto.
O toque quente do cobertor que trouxe nas minhas costas faz com que perceba que estava a tremer um pouco devido ao frio e com que olhe para Harry que continua a olhar para o céu enquanto partilha o cobertor comigo. Sorrio com a sua imagem e chego-me um pouco até si, descansando a minha cabeça no seu ombro. Olho para cima e observo a sua cara iluminada pelo luar que me faz pensar em como as minhas idas à clareira mudaram. Antes este espaço servia apenas para me confortar e pensar nas minhas fraquezas, agora é um lugar de encontro entre mim e Harry e eu não poderia estar mais feliz. Afinal, ele é como um daqueles rapazes dos contos de fadas, demasiado perfeito para existir.
-Obrigada, Harry.- digo e ele olha para mim a sorrir.
-Não tens de me agradecer, Elisabeth.- diz e eu fecho os olhos por meros segundos enquanto abano a cabeça.
-Eu tenho. Não só por me mostrares isto, mas também por seres o amigo que tanto precisava.
Harry sorri mais ainda e com o seu braço envolve o meu corpo e puxa-o um pouco mais contra si. São estes os momentos que eu quero continuar a ter com ele. Apenas nós dois, o barulho da cascata e a lua a iluminar os nossos corpos. Poderemos falar pouco entre nós nestes momentos, mas isso pouco importa pois eu sei que poderei contar com ele para qualquer coisa e espero que ele saiba que eu estarei sempre ao seu lado.
O seu braço continua nas minhas costas, tal como a minha cabeça pousada no seu ombro. Os meus olhos atreviam a fechar-se, mas eu mantinha-os abertos apenas para o observar de modo a recordar a sua cara até nos meus sonhos mais profundos. Afinal, ele significa muito mais para mim do que um simples amigo. Harry é aquela pessoa que me faz rir e sorrir vezes sem conta e que no final do dia eu não me quero despedir. Ele é aquela pessoa que nos faz pensar nas coisas mais bonitas do mundo. Ele poderá não ter mudado a minha vida, mas preencheu-a com aquilo que mais necessitava, um amigo.
Numa questão de segundos os meus olhos começam a fechar-se de novo, mas desta vez eu não os impeço. A minha cabeça continua pousada no seu ombro e a minha mão esquerda está agora entrelaçada com a de Harry. Consigo ouvi-lo a murmurar algo, algo esse que não consegui ouvir por já ter entrado no meu mundo dos sonhos, onde eu e Harry nos riamos enquanto eu fugia dele pela clareira, como se ainda fossemos crianças.