Capítulo 27

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ANNA

- Você não pode morrer aqui. Estamos tão perto. Vamos, Anna. Tente reagir. - Anabella me sacode, mas é em vão.

Faz um bom tempo que não tenho uma crise de ansiedade. Tinha que ser agora?

Eu estava respirando muito rápido, parecia que eu queria pegar o máximo de ar possível em um intervalo de tempo impossível. Não consigo explicar com palavras o que estou sentindo.

- Anna, olha pra mim. Nos meus olhos. Só pra mim. - Jorge pega minha mão, sentando no chão a minha frente. Anabella estava passando a mão em minha cabeça.

- Nós vamos ser pegos. Não va... vamos sair daqui. Ela vai nos ver. Meu pai... - Eu estava absurdamente nervosa, exaltada. Falando tão rápido que as palavras se atropelavam.

Paro de falar porque sou interrompida por Anabella. Para piorar a situação a maçaneta da porta do porão começa a girar. Eu não consigo me controlar e essa sensação é avassaladora. Isso não pode estar acontecendo. Meus remédios não estão aqui. Tudo deu errado. Vão entrar aqui e nos prender por invasão a domicílio.

Fecho os olhos, choro e acho que minha temperatura caiu, pois parece que meu sangue não está circulando. Me sinto gelada. Sentada com a cabeça apoiada nos joelhos e com as duas mãos apertando a nuca, minha única alternativa é saber qual foi a pessoa que nos descobriu aqui e vai nos denunciar. Mas reconheço apenas pela voz, porque ainda assim não levanto cabeça. Minha respiração estava igual a de um cachorro cansado, até o barulho, misturado com os soluços.

- Nátalie... - Jorge começa a falar. - Eu imploro. Não fala nada.

- Não seja burro. - Nátalie fala. Ouço logo em seguida o barulho da fechadura da porta. - Eu trouxe água e seu remédio, princesa Anna. - Não consigo levantar a cabeça para ver o que ela está armando.

- Isso é algum tipo de armadilha? - Anabella pergunta.

- Nátalie, você... - Jorge gagueja. Ele parece encantado com essa menina. Tenho quase certeza que ele nunca vai desistir dela. Mas não é do mesmo jeito que ele gosta de mim. Eu já entendi isso. Ele valorizava muito a amizade deles.

Consigo sentir que ela está ficando cada vez mais próxima de nós. Jorge sai da minha frente dando lugar a ela, que se abaixa e pega em minha cabeça, tentando levantá-la delicadamente. Jogo a cabeça para trás, apoiando-a na parede, e a droga da respiração não consegue ficar regulada.

- Eu as vezes fico assim como você. Tome esse remédio, eu trouxe a água. Você vai ficar melhor em breve. - Ela ergue as mãos, uma com um copo com água e a outra com uma pílula branca.

- Você quer... me... me... matar enve...nenada. - Falo gaguejando devido a pressa de terminar a frase.

- Eu sei que a última pessoa em quem você deveria acreditar, é em mim. Mas agora você precisa disso. Tome e depois, quando você estiver recuperada dessa crise de ansiedade, eu explico tudo o que está acontecendo.

Por mais que eu saiba que não deva acreditar nela, não aguento mais me sentir assim. Tremendo, pego a pílula da mão dela e engulo, pegando o copo com água e tomando toda a água de dentro dele.

Aos poucos recupero minha sanidade. O remédio realmente fez efeito. Mas por que Nátalie me ajudaria? Não faz o menor sentido. Levanto rápido e quase caio, por isso me apoio na parede. O porão da casa tinha uma pequena lâmpada encandecente que deixava o ambiente meio amarelado. Essas lâmpadas não deveriam mais existir. Elas causam muito prejuízo. Olho para Nátalie com a melhor cara de raiva que consigo fazer.

Amores FurtadosOnde histórias criam vida. Descubra agora