A Chave Mágica

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Autora: Neyd Montingelli


A cada instante Sílvia olhava o embrulho cheirando a mofo e as caixas no banco traseiro, como que esperando um diálogo com os objetos inanimados.

O que havia nas caixas?

O coração nunca comandou as ações desta moça severa. A avó faleceu, o enterro mal havia acabado e a tia já colocou no carro dela aquelas caixas.

Vovó era uma mulher que só ficava na cama e as tias cuidavam dela. Sílvia gostava de ir visitá-la quando pequena. A casa cheia de gente. A avó ficava feliz e contava histórias, lembrava do "tempo antigo". Ria muito e suas bochechas ficavam rosadas. As tias ficavam contentes dizendo que deveria vir mais vezes.

Mas não dava para ir sempre.

Os seus pais trabalhavam o dia todo e às vezes até a noite. Nos finais de semana eles tinham que limpar a casa, lavar a roupa e descansar, pois trabalhavam muito.

Antigamente havia uma casa velha no quintal da casa da vó, onde a mãe de Sílvia brincava. Um dia pegou fogo. Neste dia o vovô morreu e a vovó ficou doente. A mãe de Sílvia era pequena e tudo que ela se lembra é que estava dentro da casa brincando.

- Ah! Esse trânsito que não anda. Cada vez que chove em Curitiba o número de veículos aumenta e os motoristas desaprendem a dirigir. Parece que estão andando de tico-tico! – Pensava Sílvia. Ela queria chegar em casa logo para abrir as caixas.

Alguns minutos depois chegou em casa e foi mexer nas caixas. As primeiras estão cheias de livros antigos e um diário. Outra era pequena, continha roupinhas de bonecas, xícaras, pratos, talheres, etc. Tudo era muito pequeno e delicado. Só não havia uma boneca do tamanho dos objetos.

No embrulho grande, uma casinha de bonecas. Cheia de detalhes. Com telhas vermelhas, parede cor-de-rosa, janelas azuis, portinha marrom entalhada. Sacadas no andar de cima com vasos de plantas e tapetes. Uma varanda com cadeiras, mesinhas, plantas penduradas. Colocou na mesa e sentou-se para admirar os mínimos detalhes daquela construção que parecia ser de verdade.

- Então aquelas coisinhas pequenas pertencem a esta casa! Mas, onde está a boneca?- E procura nas caixas.

Depois, com a ponta dos dedos tenta abrir a minúscula porta ou as janelas sem sucesso.

Ela estava cansada, o dia fora agitado. Mora sozinha, seus pais morreram em um acidente há 10 anos. Fez curso superior e doutorado e trabalha em grande Empresa de tecnologia. Tem um cargo de prestígio, apesar de nem ter 30 anos. Seu salário é alto e mora em um condomínio fechado. Foi dormir.

Quase não conseguiu. Teve sonhos estranhos com a avó, com a mãe.

No dia seguinte, esqueceu dos sonhos e trabalhou arduamente. Seu assistente faltou novamente e ela ficou muito irritada. Teve que pedir um substituto e os contratempos foram muitos por conta de sua irritação.

Chegou tarde em casa.

Ao sair do carro na garagem, viu uma claridade por baixo da porta da sala. Pensou ter esquecido a luz da cozinha acesa. Nunca teve medo de nada, pois seu condomínio é bem seguro. Abriu a porta e tudo estava às escuras, nem ligou e procedeu como de costume.

Mais tarde, já com o seu confortável pijama e pantufa, foi até a sala para vasculhar as caixas. Tirou as miniaturas delicadas e perfeitas e arrumou sobre a mesa ao lado da casinha, enfileiradas e em ordem.

Pegou o diário, e a cada página que lia chegava a emocionar-se, pela ingenuidade das palavras. Depois das histórias de brincadeiras com as irmãs, havia muitas páginas só com desenhos da casinha, de uma fadinha com asinhas brilhantes e com as roupinhas minúsculas. Era um diário em forma de desenhos. Sílvia até aproximou o Diário das roupinhas para ver se eram as mesmas. A fadinha com os mini objetos. Em todos os desenhos estava o nome Yon dentro de corações. Ficou impressionada como sua mãe desenhava bem. Uma artista!

Luiz Amato e ConvidadosOnde histórias criam vida. Descubra agora