Capítulo 1 - DEGUSTAÇÃO

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Dois meses haviam se passado, Alicia retornava para casa feliz e recuperada, tinha apenas vinte e oito anos e problemas para uma vida inteira, desde cedo se dedicou a uma carreira de sucesso e obteve êxito, porém nem tudo ocorreu como planejado. Depois de terminar a faculdade e de finalmente tornar-se gerente financeira da empresa de vinhos Portobello ela foi diagnosticada com depressão, Alicia não conhecia os donos da empresa já que eles moravam na capital, conhecia apenas um dos diretores, ele então autorizou que ela afastasse alguns meses para tratar de sua saúde.

Haviam especulações de parentes e amigos de Alicia para saber quais motivos a levaram a afastar-se de toda sua vida na cidade e passar meses no campo, porém eram apenas fofocas, ela não queria que ninguém soubesse o real motivo. Depois de morar um tempo no sitio de seu tio Enrico, Alicia pode assim pensar um pouco em sua vida e nos planos para seguir em frente, ela morava na cidade de San Antônio com seus pais e sua irmã Mirela de vinte e dois anos. Alicia era a mais velha, após finalizar o curso de administração e pós-graduação conseguiu o trabalho dos sonhos em uma das maiores empresas de vinho do país. Em San Antônio havia apenas uma das filiais, a sede da empresa era situada na capital.

Alicia estava dirigindo de volta pra casa descansada, faltava um mês para voltar ao trabalho porém ela sentia-se bem, ela iria falar com seu diretor para voltar ainda naquela semana. Enquanto pensava em como seria sua volta ela percebeu um carro no meio do matagal da estrada, talvez fosse apenas algum casal namorando ou até mesmo ladrões, ela hesitou por um instante, poderia ser perigoso, mas percebeu que havia fogo, Alicia tinha certeza que era um acidente, parou o carro e correu até lá. Aquela cena ela jamais iria esquecer, havia um homem já morto no banco da frente e atrás uma mulher gritava por socorro, Alicia se desesperou, pediu para a mulher ter calma que ela iria ligar para a emergência.

- Não temos tempo. Sussurrou a mulher desesperada. - Eu imploro que você retire minha filha.

Alicia embalou a criança em seus braços e ouviu um pedido daquela mãe:

- Cuide dela como se fosse sua e não diga a ninguém onde a encontrou, ela corre risco de vida. Implorou a mulher aos prantos.

- Eu vou tira-la desse carro, você mesmo poderá cuidar de sua pequena bebê. Disse Alícia tentando acalma-la.

- Por favor! Eu suplico, não temos tempo. A mulher pegou um papel que estava no chão do carro e colocou em meio a manta que cobria a criança. Alicia queria ajudar aquela pobre mulher porém era tarde, correu cobrindo a criança com seu corpo e houve uma explosão.

(Dias antes)

Ninguém na cidade estava tão feliz quanto à família Portobello, uma das famílias mais antigas comemoravam o nascimento de Angeline, primeira filha do único herdeiro Aléssio Portobello. Ele se casou ainda muito jovem com Katerine Olsen, mas só agora cinco anos após a união Katerine conseguiu finalmente engravidar, esse poderia ser o final perfeito para uma história linda de amor, poderia se não existisse Lisandra Olsen prima e confidente de Katerine, apaixonou-se desde o primeiro instante por Aléssio e desde então jurou que conseguiria conquista-lo.

Katerine escolheu ter a filha na fazenda da família, Aléssio participou do nascimento e uma semana depois voltou para a capital com os pais, Katerine ficou na fazenda com Lisandra o restante do mês. Enquanto arrumava os últimos detalhes para voltar para casa ela ouviu Angeline chorando no quarto ao lado, talvez estivesse com fome, Katerine foi até lá, mas a bebê já estava dormindo novamente. Ouviu vozes que vinham do quarto ao lado, era Lisandra, mas com quem ela conversava? Estavam na fazenda apenas as duas, havia também os empregados mas Lisandra conversava com eles apenas para dar ordens. Katerine aproximou-se da porta, Lisandra conversava com um homem, era visível o quanto estava nervosa, o homem se recusava a fazer algo que ela já havia combinado com ele.

- Não! Já disse que eu não consigo, não tenho essa frieza. Dizia o homem angustiado.

- Calado! Combinamos isso por três meses, nesta casa está apenas nós, apenas dois tiros você matará mãe e filha.

Katerine deu um grito, o homem assustou e correu.

- Katerine calma! Não é nada do que você está pensando. Disse Lisandra em pânico.

Katerine não disse nada, estava perplexa demais para dizer algo, ao invés disso deu-lhe uma sonora bofetada no rosto.

- Que você é egoísta eu estou ciente Lisandra, eu sei o quanto você odeia muitas pessoas, mas planejar um assassinato? Planejar matar uma criança inocente?

- Que veio para completar minha desgraça! Para distanciar ainda mais meu grande amor. Gritou Lisandra, e era possível ver lágrimas de ódio em seus olhos.

Katerine sabia do amor de Lisandra por Aléssio, ele mesmo havia contado sobre as investidas de sua prima, porém ela não foi capaz de expulsar Lisandra de sua casa.

- Eu vou para casa, e toda família ficará sabendo do seu plano diabólico, não volte para minha casa, não quero uma assassina perto da minha filha. Gritou Katerine.

Enquanto se afastava Lisandra correu para a cozinha, precisava pensar, seu plano de fingir um assalto havia dado errado, assim que Aléssio soubesse iria odiá-la. 

Garcia motorista da família entrou na cozinha.

- Desculpe dona Lisandra não quis atrapalhar, vou comer algo aqui, porque dona Katerine já quer ir pra casa.

Lisandra já ia desferir xingamentos quando surgiu um novo plano.

- Fique calmo Garcia, procure Carmélia para lhe servir algo para comer enquanto isso eu mesma vou lhe preparar um leite.

Garcia retirou-se e Lisandra colocou leite em uma xícara, por sorte ela havia comprado um vidro de remédio para ela conseguir dormir, derramou meio vidro de remédio na bebida do motorista.

- Não vai dar tempo dona Lisandra, Carmélia foi até o supermercado. Disse Garcia voltando para cozinha. Ele então tomou a xícara de leite e despediu-se, Lisandra desejou boa viagem.

Katerine desceu as escadas com Angeline ainda dormindo em seus braços, não olhou para Lisandra apenas saiu e bateu a porta. Lisandra sorriu, sua vida começaria a melhorar a partir do momento em que seu plano se realizasse.

Enquanto estavam na estrada Katerine pediu que Garcia fosse o mais rápido possível, queria chegar logo em casa. Ela continuava chorando, a ideia de que alguém machucasse sua pequena filha a deixava destruída, antes de sair ela conseguiu escrever uma carta, assim que estivesse em casa enviaria para a mãe de Lisandra.

Tudo que houve em seguida foi rápido, enquanto o carro corria pela rodovia Garcia desmaiou sobre o volante, Katerine gritou assustada e o carro saiu em alta velocidade em direção as árvores, como estava em alta velocidade o carro capotou, Katerine conseguiu proteger sua filha com o corpo, mas havia machucado a cabeça, tentou sair do carro mas estava com a perna presa nas ferragens, no mesmo instante Lisandra veio em seu pensamento, ela havia feito alguma coisa para que aquilo acontecesse, sentiu um cheiro forte de combustível precisava sair do carro antes dele explodir.

Katerine começou a chorar, alguém teria que aparecer para salvar sua menina, ela então viu uma moça se aproximando, pegou uma pequena tesoura de unha que havia deixado na bolsa de sua filha e cortou uma pequena mecha dos loiros cabelos de Angeline, iria implorar que a moça cuidasse de sua filha em segredo, Lisandra iria matar a criança se soubesse que ela sobreviveu, aqueles fios de cabelo iria permitir que todos pensassem que a criança morreu no acidente com a mãe quando fosse feito um exame de DNA. Em meio as cobertas que protegiam a criança Katerine colocou a carta que havia escrito para enviar a sua tia contando as intenções de Lisandra.

Após pedir que a moça criasse sua filha, ela viu a mulher correndo com sua menina nos braços. 



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