Ao entrar no restaurante, Pérola não pensava em mais nada a não ser acabar com sua fome e voltar rapidamente ao trabalho, pois sua mesa estava repleta de documentos que teria que despachar se possível até o fim de semana para não acumular com os próximos que veriam na semana seguinte. E era tanto serviço que já estava se acostumando a perder os horários de comer priorizando o serviço. E agora seu corpo começara a reclamar. Além das chamadas insistente de seu estômago, havia também os da suas pernas que de repente além de ficarem bambas, resolveram não mais ficar por muito tempo em pé, simplesmente tremendo feito vara fina num dia de vento forte, a ponto de cair ao chão uma ou duas vezes, durante os últimos dias. Mas o pior foi seu cérebro que começara a falhar, pois andava desatenta, lenta, e com pensamentos que lhe fogem para coisas que nada tem haver com o que está fazendo. Deve ser por causa da fome, começou a pensar. Resolveu que naquele dia não deixaria de comer, correu para pegar sua bolsa e procurar o primeiro restaurante que encontrasse aberto àquela hora da tarde. Pois a muito passara da hora do almoço e ainda faltava bastante para a do jantar.
Entrou no primeiro que encontrou ainda aberto. Nunca havia estado ali, mas alguns colegas de serviço haviam dito que era bom e de confiança, então não ficou muito tempo pensando. Sentou-se e ficou á espera de alguém que a atendesse. Um garçom jovem e prestativo anotou seu pedido e foi muito simpático. Gostou disso, e ficou mais relaxada. E começou a analisar o local. Era bonito. Um restaurante simples, com mesas e cadeiras na cor cinza bem claro, era limpo. Paredes em tons pastéis. Olhou para o chão, para o teto, para um lado e para o outro. Olhou para seu lado esquerdo, onde haviam várias mesas, do seu lado direto a parede com quadros grandes. Começou então a repararmos poucos clientes que ainda estavam no local, olhou nas mesas próximas. Não conhecia ninguém. Foi olhando pelas mesas ocupadas até fincar seu olhar na mesa à frente da sua, e um detalhe lhe fez parar ali. Seus olhos pousaram em um ser que a encarava com um leve sorriso no rosto. Piscou algumas vezes e deu uma leve olhada para trás para ver para quem ele estava sorrindo. Piscou novamente, pois achou que havia se enganado. Mas ele ainda estava olhando para ela, agora com o sorriso mais aberto. E quando percebeu que ela estava confusa, pareceu-lhe que ele havia dado uma gargalhada. Ficou com rosto mais sério que pode e abaixou os olhos. Mas não conseguiu ignorar, voltou a olhá-lo, e ele lhe deu um aceno com a mão e uma piscada, sem nenhuma discrição.
Primeiro, Pérola arregalou os olhos. Depois, franziu a testa. Automaticamente olhou novamente para o lado e para trás, pensando que assim encontraria a pessoa para o qual aquele ser maravilhoso, sim, pois ele era lindo, estava se derretendo e com gracinha.
Ficou mais surpresa ainda quando percebeu que tudo aquilo era para ela, pois sua mesa era a última e não havia ninguém depois da dela e nem do seu lado.
Olhou novamente para ele. Seu sorriso agora era escandalosamente aberto. E parecia que estava se divertindo. Pérola por sua fez, fechou seu rosto numa carranca, uma careta feia, e desviou o olhar. Tentou fingir não ter percebido nada daquilo.E depois, o ignorou, demonstrando não ter gostado. Pegou seu celular da bolsa e sem conseguir prestar atenção ou enxergar nada, fingiu estar interessada em algo. Estava estranhamente nervosa. Nunca algo a deixará assim. E sempre que ligava o celular sabia o que procurar. Estava inquieta e levemente tremendo. Fome - Pensou. Só podia ser a fome. E essa comida que não vem. Olhou para o lado para ver se via o garçom,nada. Voltou à atenção para o aparelho em suas mãos e não percebeu que alguém se aproximava de sua mesa. Quase deu um pulo, quando se deu conta e olhou para cima, ele estava ali, do seu lado. Só não caiu para trás porque a cadeira estava praticamente encostada á uma parede. Ainda sorrindo, (e que sorriso), ele falou:
- Posso me sentar. Ou você está esperando alguém? - disse todo sorridente e com uma voz, céus... Rouca e alegre.
Pérola olhou-o e assim ficou por alguns segundos. Estava espantada e não conseguia disfarçar, e muito menos soltar uma só palavra. E não sabia por quê.
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LOUCURA
Short StoryTudo o que ela queria era voltar rápido do almoço para terminar com o trabalho atrasado. Nunca imaginou que um desconhecido pudesse mexer tanto com ela. E muito menos o que poderia acontecer numa tarde, na hora em que deveria estar trabalhando.