JORGE
Eu não aguento mais esperar aqui. Esse porão está começando a me assustar. Essa luz amarelada que quase não ilumina. As meninas estão demorando demais. Meus pensamentos são os piores possíveis. A todo momento fico imaginando Anna fazendo algum gesto despercebido para Anabella, que coloque a segurança das duas em risco. Anabella é muito mais controlada que Anna nesse quesito. Temo que as duas já tenham sido descobertas e estejam sob tortura para revelar onde estou. Dou um pulo de cima de uma caixa de madeira a qual eu estava. Elas destrancam a porta do porão e fecham-na rapidamente.
- Vocês estão bem?- Pergunto levantando rápido. Fiquei tanto tempo deitado sobre aquele baú, que quando levanto me dá uma tontura.
Anna não tem expressão alguma a ser interpretada. Já Anabella parece estar perdida e olha para Anna de segundo em segundo, aparentemente com medo do próximo passo que ela seguirá.
- Filmamos tudo. Agora só precisamos sair daqui a salvos. Nátalie já vem aqui para nos ajudar.
- Onde eles estão?
- Foram para o quarto da bruxa. Pensaram que Nat já tinha ido dormir e foram de mansinho para lá. - Anabella fala.
- Anna... - Começo.
- Eu estou bem. - Ela diz isso com um vazio no rosto. É claro que ela não está bem. Nem eu estou.
Nátalie chega e sinaliza para sairmos. Anabella vai na frente e logo a seguimos. Quando já estamos na sala de estar, prontos para sair, não consigo me segurar. Abraço Nat com toda a vontade que eu estava segurando. Ela logo me abraça também.
- Eu sabia que você não era daquele jeito.- Falo. - Eu senti muito sua falta.
- Obrigada. Por, pelo menos lá no fundo, você ainda ter um pouco de esperança com relação a mim. Eu também estava com saudades. As pessoas com quem eu estava andando eram mais falsas que os peitos da minha mãe. Isso era horrível. Não aguentava mais. Eu não sou assim.
- É claro que não é. - Falo dando um beijo em sua testa. - Preciso ir.
- Nátalie? - Senhorita Lúcia a chama. - Eu achei que estivesse dormindo. O que faz acordada esse horário? Quem está aí? - Quando ela faz essa segunda pergunta corro o mais rápido que consigo até meu carro. Acho que não deu para ela notar que eu estava lá. Também não sei qual descupa Nat usou.
Assim que Anna dá partida, eu a sigo. Combinamos de irmos todos para sua casa. Quando chegamos à mansão, corremos para o quarto de Anna, tentando não fazer barulho. Ela disse que Celina poderia ter descoberto que saímos e estar esperando um mísero barulho para dar uma bronca nela. Quando entramos em seu quarto, Celina estava sentada sobre a cama de Anna. Pegamos um susto tão grande que não sabíamos o que fazer. Parecia que estávamos brincando de estátua e a Celina estava comandando a brincadeira.
- São cinco horas da manhã. - Celina fala calmamente, franzindo a testa para Anna.
- Owm. Você me esperou até esse horário? Que fofo.
- Eu quero saber onde dormiu!
- Eu não dormi. - Anna me puxa pelo braço e olha para Celina como se estivesse insinuando algo.
- Sei que não fez o que você quer que eu pense que fez com o objetivo de me tirar do seu quarto. Quero assistir a gravação junto com vocês. - Celina sabe o que fizemos? Mas como?
- Celina, eu já disse mil vezes que não suporto que fique ouvindo minhas conversas atrás da porta. Se fosse eu, ficaria de castigo por semanas.
- Não comece. Você nunca obedeceu nenhum dos castigos que foi lhe imposto desde que eu me entendo por gente. -Celina inspira e solta o ar devagar. - Eu conversei com sua mãe a respeito daquele assunto. Vocês terão que se mudar. Acredito que já saiba o motivo.
A expressão de Anna mudou. Ficou vazia novamente.
- Ele ameaçou me sequestrar, Celina. Isso não tem perdão.
- Você foi falar com ele?! - Celina levanta desesperada com uma possível resposta de Anna.
- Claro que não. Ficamos escondidas em um armário de limpeza. É melhor você ver o vídeo. Eu não estou muito afim de falar. - Anna fala balançando a cabeça, como se aquele sacolejar fosse tirar toda a informação que ela adquiriu essa noite.
Todos foram para a mesa de estudos de Anna, esperamos ela conectar o cartão de memória no notebook.
Depois de quase duas horas ou mais de vídeo, Celina e eu ficamos espantados com o que vimos. Anabella e Anna não ficaram tão surpresas, porque elas já haviam visto tudo pessoalmente. Anna não assistiu ao vídeo conosco. Ficou o tempo todo deitada em sua cama virada de costas para nós. Celina contorna a cama e senta ao lado dela.
- Então era verdade o que sua mãe me disse.- Ela passa a mão no cabelo de Anna. - Você não está triste. Está com uma áurea de raiva.
- Ele é meu pai. - A voz dela treme, seguida de um longo suspiro. - Celina... até que parte minha mãe sabe?
- Acredito que sabe apenas da ameaça. Ela com certeza não sabe dessa mulher e nem que ele quer dar um golpe em uma velha de mais de oitenta anos.
- Celina, ele disse que me mataria se fosse necessário. - Anna levanta abraça e Celina. - Ele nem me conhece. Como ele pôde falar isso? - Agora o choro toma conta dela.
- Talvez ele tenha dito justamente por não lhe conhecer. - Celina tenta acalmá-la, mas é em vão. - Vou fazer chocolate quente pra vocês. Podem dormir a vontade. Devem estar exaustos. Principalmente você, Anna. - Ela beija a testa de Anna e sai do quarto.
Anna pode não ter muitos simpatizantes com ela na escola, mas em casa é possível notar que tem muito amor e carinho. Celina e ela possuem um afeto que nem dá para explicar. Em Godava, Genevivie demonstrou que também a amava. A mãe dela foi quem eu menos vi nessa casa em todo esse tempo que estamos juntos e separados, porém, consegui ver o pai de Anna no vídeo dizendo que apesar de não demonstrar, dona Ângela ama mais à Anna do que se pode imaginar. Tanto que estava disposta a largar tudo que construiu aqui para não ver a filha em perigo.
Tiro meus sapatos e deito ao lado de Anna em uma das extremidades da cama, e Anabella deita na outra. Passo o braço ao redor dela e ela se aconchega em meu peito. Não demorou muito para dormirmos.
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Amores Furtados
Genç KurguAnna e Jorge estudam na escola mais cara da cidade onde vivem. Porém, isso não facilitará para que ambos fiquem juntos. Ela, a garota mais rica e popular da escola. Ele, apenas o garoto nerd e bolsista com sonhos grandiosos para melhorar as condiçõe...