Looking at her.

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Eu estava há horas olhando para ela.

Nada muito de inusual nos poucos minutos de descanso que meu colégio nos fornece. Era no mínimo frustrante ter que fingir que eu estava escutando o que as pessoas estavam me falando, e ao mesmo tempo esticar o meu pescoço — de um modo não tão óbvio – para olhá-la. Amelie Temporelli era o único rosto que já havia despertado algo em mim. E não, não estou falando daqueles rostos perfeitos e delicadamente simétricos das revistas; Estou falando daquela beleza desconstruída de todos os padrões.
Ela era tão sozinha, nunca a havia visto conversar com ninguém. O mais curioso era o jeito como ela se via na obrigação de afastar todos que tentavam chegar nela. Creio eu não por arrogância, nem ego. Na minha visão, ela só sabia que todas aquelas pessoas eram vazias. Não iriam chegar a lugar nenhum.

E sim, eu tinha certeza que para ela, eu era uma dessas pessoas.

Eu era só um nome, um corpo dentro de um uniforme de líder de torcida. Só uma garota que tem o rosto estampado nos cartazes do colégio e que, na boca do povo, só é caracterizada por "muito gata" e ás vezes denominada como "Queen Collins" pelos votos para ser rainha do baile.
Eu, como em todos os filmes de colegial que passam na tv, só era a garota bonitinha.
Eu queria gritar desesperadamente para ela, queria que ela sentisse minha voz amenizando o rock que tocava em seus fones para que ela sinta vontade o bastante de tirá-los, e olhasse pra mim do outro lado do campus. Queria gritar que eu não era só mais uma daquelas pessoas, pelo menos, torcia que não.

Acordei do transe com Charlotte gritando comigo.

— Eleanor Collins! — Ela me chacoalhou — Saias azuis ou vermelhas para a nova coleção?

— Azul. – respondi breve e seca.

Azul, que nem a cor dos cabelos daquela garota.

Bom, percebe-se que minha fixação por ela aumenta mais e mais. O que será que eu podia usar para tirá-la da minha cabeça? bater meu crânio com a porta da geladeira ou com o microondas?

— Hey, Els. – Escuto vagamente a voz do Cole atrás de mim. Mais um na lista de pessoas que não se chega á lugar nenhum desse lugar. – Hoje vai ter a comemoração na minha casa do jogo que ganhamos. Suponho que você vai, não é?

Me virei para olhá-lo e, bom, ele não estava sozinho. Sua manada treinada estava com ele.
Hoje eu estava um pouco prepotente demais, mas quem não tem seus dias não é? A verdade de ser um deles dói.

Suavizei minha expressão, não havia motivos de ser rude.

— Eu não sei, Cole. Mas não me espere à noite toda como a outra vez, aproveite a festa. — Pisquei para o menino de cabelos loiros,  que desmanchou seu sorriso com a lembrança.

– Bom, apareçam lá. — Ele olhou para o grupo das garotas sentadas ao meu redor, que estavam quase soltando focos.
Consegui sentir os sorrisos que se alargavam delas sem nem precisar me virar. Estavam todas alegres, principalmente as novatas.

Eles se aproximaram para conversar com as garotas, e eu, bom, voltei meus olhos para Amelie.

Senti um frio na barriga quando a vi me encarando também.
Seu rosto era impossível de ler. Mas embora, muito fácil de entrar em transe só de olhá-lo. Suas sardas entravam em um desordem cósmico com a cor pintada de seu cabelo. Ela era ruiva, e pelas suas sobrancelhas repintadas de preto me parecia que ela não gostava da sua aparência natural. Ela era linda de qualquer jeito, mas aquele fato me mostrava como aquela garota era segura de sí.

Eu segurei o olhar por alguns segundos, e esbocei o sorriso mais minúsculo que já dei. Mas com certeza o mais sincero.
Ela simplesmente pegou seu exemplar de Hamlet - Shakespeare e se levantou. A vi voltando para dentro da escola.

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⏰ Última atualização: Jul 28, 2017 ⏰

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