IV

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O primeiro disparo fora perfeito, certeiro. Assim como esperado pela jovem, o projétil atingira o olho da criatura e dessa forma, o cérebro. O monstro tombou quase em frente à porta. Agora! – disse ela e o amigo se pôs em disparada.

Estavam a cerca de vinte metros da casa.

Uma nova criatura surgiu no telhado e fora igualmente alvejada, contudo, dessa vez o tiro atingira alguma parte do abdômen e o monstro aparentemente tombara de joelhos, mas não abatido. Isso era ruim, muito ruim.

Um novo inimigo surgira por detrás da casa e Jones ficara entre este e a atiradora. Samantha pensara em gritar para que o mesmo se abaixasse, mas o grito provavelmente atrairia a atenção para onde ela estava e o que faria se todos os monstros decidissem correr em sua direção?

Era fato que não conseguiria derrubar a todos. Em um momento de reflexo e susto a jovem optara pela escolha mais difícil e mais fácil de ser executada. Sem pensar duas vezes a mesma atirou por sobre o ombro do amigo, fazendo com que o projetil zunisse a poucos centímetros de sua cabeça atingindo a criatura logo à frente, que caiu, ao que lhe parecia, morta.

Jones chegara à porta e a abrira imediatamente, entrando sem sequer olhar para trás. Samantha sequer esperou por um convite. Jogando o rifle nas costas a mesma saltou de onde estava deitada no chão para se colocar a correr naquela mesma direção para onde o outro fora.

Para sua infelicidade a sacola de armas ficara enroscara em um galho no chão e ela fora literalmente derrubada de sua largada. Os olhos da jovem se arregalaram quando ela tentou puxar a sacola e a mesma não se desprendia e o que era ainda pior, a prendia no lugar onde estivera deitada.

A criatura que a mesma alvejara sobre o telhado saltara para o chão e ela pode sentir os olhos do predador a lhe escolher como alvo. Uma vez mais sem tempo para tomar decisões, a jovem soltou a fivela que prendia a alça da sacola ao corpo e deixando ali todas as armas que tinha consigo levantou-se já correndo na direção do chalé. O monstro, por sua vez, começara a correr de encontro a ela, que atirava com a única arma que lhe restara, a Beretta que estava no coldre da calça. Seus tiros, no entanto, pareciam não fazer efeito.

O que poderia ela fazer com uma pistola quando um tiro de rifle ainda deixara a criatura em pé? Para sua sorte o companheiro começara a atirar contra as costas do inimigo que se colocara entre eles e isso lhe dera uma fração de segundo para realizar um ato heroico.

Parando por um breve momento, a mulher mirara com a Beretta no olho do monstro, o que lhe parecia ser o único ponto realmente vulnerável para lhes ferir. O disparo foi novamente certeiro, felizmente Samantha começara a atirar bem cedo e tinha ótima pontaria e claro, tivera muita sorte em meio à escuridão.

Ferida, a criatura hesitou por um momento levando uma das enormes garras ao olho e a policial aproveitou esse instante para passar correndo por ela.

Infelizmente para a jovem, a criatura, furiosa pelo ferimento ou simplesmente acuada diante da morte possível, atacara-a enquanto ela passava e um golpe quase certeiro da garra lhe fizera um enorme corte sobre a coxa esquerda.

Samantha continuou a correr, sentia que estava em estado de choque e a dor somente lhe afligiria mais tarde. Mancando a mulher entrou para a cabana com a ajuda do amigo que lhe puxara com força usando uma das mãos enquanto atirava com a outra. Dentro do pequeno cubo de madeira que era aquela cabana ambos se puseram a trancafiar a porta e as duas janelas.

Logo sentiam-se totalmente lacrados do lado de dentro ao mesmo tempo que o silêncio dominara o lado de fora. Havia uma mesa no centro com quatro cadeiras, tudo feito em carpintaria e em bom estado.

Sentaram-se ali se encarando, claramente esgotados e amedrontados.

Estavam em sérios apuros.

Esperaram alguns minutos até que recuperaram o fôlego e então Jones foi averiguar a extensão do dano na perna da moça. Foi preciso cortar a calça e a jovem ficou com uma perna exposta da coxa para baixo. O corte tinha mais de dez centímetros e era profundo. Uma decisão muito difícil precisava ser tomada, mas Samantha optou por ser forte.

Não havia naquele lugar qualquer agulha ou linha para costurar o ferimento que sangrava. Naquele ritmo perderia sangue demais e poderia contrair uma infecção, isso se a garra do monstro já não lhe tivesse infectado com alguma bactéria que ela desconhecesse.

Havia uma única lamparina a gás que Jones havia acendido logo que lacraram as janelas e a porta do lugar. Não dava para saber quanto tempo duraria aquele pequenino facho de luz, mas ambos torciam para não ficar por ali por muito tempo. Enfiando a mão em sua bota, Samantha retirou uma faca de caçador que sempre levava consigo, um conselho de seu pai que jamais se esquecera.

—Quando ficar sem nada, sem nenhuma outra arma e sem suprimentos nem equipamentos, lembre-se, minha filha: essa faca pode significar sua salvação.

Agora ela se lembrava das palavras e chegara à conclusão de que ele tinha razão.

Jones compreendeu o que a mulher tinha em mente logo de imediato e a única pergunta que fez foi se ela tinha certeza. Samantha apenas disse que sim, não tinha outras opções, o corte precisava ser fechado e o sangramento estancado, ela precisava estar em condições de sair dali, não pretendia se tornar um atraso ou incômodo para o outro.

O rapaz então retirou a camisa que usava e a enrolou, em seguida disse para a mulher que mordesse com força e que não importava o que acontecesse, que não gritasse. Não sabiam quantas outras criaturas como aquelas ainda estavam lá fora e não achava que tê-las todas rodeando a cabana fosse uma boa ideia se pretendiam sair logo dali.

A jovem sabia que aquilo seria seu desafio mais difícil, mas não via alternativas e se entregou ao que devia ser feito. Os minutos seguintes foram os mais dolorosos e terríveis de toda a vida da jovem policial. Jones aquecera a faca de caça da mulher na chama da lamparina até a lâmina da mesma ficar alaranjada e a pedido da própria Samantha amarrara suas mãos para trás na cadeira e a amordaçara com a camisa.

Os olhos da jovem avermelharam logo ao primeiro toque e ela chorou, chorou como uma criança. O rapaz não a encarou em nenhum momento, sabia o que devia ser feito e não podia se comover. Precisava ser forte pela amiga.

Foram mais de nove queimaduras até o ferimento estar fechado e o sangue estancado. Com sorte não haveria nenhuma infecção e se houve a cauterização deveria cuidar disso no momento. A jovem havia desmaiado antes da metade do processo. Melhor assim – pensara o rapaz.

RESIDENT EVIL - Terror em Little RiverOnde histórias criam vida. Descubra agora