Sexta-feira, 9 de agosto de 2013, Brasília, Palácio do Planalto, 16h.
Dilma sentiu o peito apertar debaixo do casaco vermelho. Os olhos estatelados e o queixo pendente denunciavam que a notícia que acabara de ouvir de seu assessor preferido em plena reunião ministerial marcaria para sempre a história da República.
Se fosse verdade, claro.
– Não é possível, Carlos! – disse a presidenta, só por dizer.
– Acredite. Ele tá aí na frente e deseja falar com a senhora presidenta – foi a resposta.
Dilma notou que Carlos frisara o presidenta ao encerrar a frase. Sem que ela questionasse, o assessor completou.
– Não foi só hábito de expressão meu, não. Ele, ele próprio chamou a senhora de presidenta. Com a no fim.
Um calorzinho bom brotou no coração de Dilma, capaz de aliviar a adrenalina que tomara conta do sangue da presidenta. Foi o suficiente para ela se recompor, respirar fundo e fazer o que mais bem sabia: mandar.
– Meninos, bucha nacional. Mamãe já volta – disse ela antes de bater a mão na mesa recheada de ministros assustados.
***
Mentalmente, para não mostrar carolice em público, Dilma fez um sinal da cruz assim que deixou o palácio.
Nem na posse do presidente Lula ela tinha visto tanto segurança, polícia, soldado, caminhão, tanque do Exército. Mesmo tanto tempo depois da ditadura, não era fácil para presidenta guerrilheira ver tanto milico junto.
Duas fileiras imóveis de Dragões da Independência margeavam de espada em punho a rampa do palácio. Estava calor, como sempre está em Brasília, é verdade, mas a trupe suava frio – de medo.
Afinal, logo à frente, pairava sobre a Praça dos Três Poderes um imenso disco voador prateado.
Especialista no assunto contenção, o Exército tratou logo de fazer um cordão de isolamento ao redor da Praça. Infinitas cabeças de todas as cores e penteados aglomeravam-se com rapidez no entorno, deslumbradas com a aparição da nave.
Andando em meio a estas pessoas, dava para encontrar umas figuras: uma senhora de cabelos brancos carregando um cartaz com a mensagem Eu já sabia; uma faxineira do Congresso Nacional feliz da vida por ver um avião voar tão baixinho; um sorveteiro lucrando com seu carrinho; um estudante cético calculando se não havia fumado um bagulho forte demais; um deputado das Alagoas consolando uma conterrânea e possível eleitora apavorada; uma mulher de saia nos tornozelos e cabelo na cintura esperando por Jesus Cristo; cabeludos com flores nas mãos; barbudos com o esfíncter contraído, crentes no fim do mundo; uma rodinha de violão tocando Raul; um carteiro sorridente por encontrar a mais bela desculpa de todos os tempos para matar serviço; uma gordinha de 30 e poucos anos lembrando-se de repente do Xou da Xuxa; um garoto cheio de espinhas na cara curtindo o fato de estar espremido entre duas gostosas; um ufólogo com lágrimas nos olhos; um garotinho com uma toalha vermelha amarrada no pescoço, imitando o Superman. E todos eles, quase todos eles, de celular em mãos, fazendo fotos e vídeos, atualizando o Facebook e o Instagram. #etphonehome #itstheendoftheword #brasiliafacts #nofilter
A imprensa, alucinada, apontava suas câmeras e máquinas fotográficas para flagrar a nave em todos os ângulos possíveis. Não demorou muito para que um helicóptero daqueles tipo Águia Dourada levantasse voo e circundasse feito um urubu chapado o disco voador, pelo menos enquanto o Exército não ordenou que a reportagem descesse, questão de segurança nacional. Os canais pararam imediatamente a programação normal para transmitir O acontecimento – já classificado como o mais importante da história da humanidade, mesmo sem ter sido provocado por um ser humano. Na internet, sites de notícia do mundo todo derrubaram as manchetes anteriores para estampar a chegada dos ETs. Nave espacial sobrevoa Praça dos Três Poderes, manchetou o G1. Eles chegaram! Estamos todos f...?, era o título da matéria no The Sun. Extraterrestes: aliados ou inimigos?, escreveu o New York Times. Qual deve ser a cara do ET?, quis saber o IG em enquete aos internautas. Para ajudar na escolha, o site listou uma série de aliens famosos do cinema. O líder de votos era o Predador.
