Com treze anos eu me sentia mais esperta e inteligente para lidar com as armadilhas do amor. Cartas de amor não me enganavam mais. Depois da decepção com Júnior eu segui em frente sem me interessar por mais ninguém. Tinha certeza que o amor não era pra mim, iria viver sozinha, feliz e independente. Mas, como de costume, os nossos planos mudam de decisão sem nos consultar.
Em dezembro, durante as férias do colégio, fui passar uma semana na fazenda do meu avô. A fazenda era um lugar sem comparação com qualquer outro, não tinha luz elétrica, acordávamos bem cedo para tomar leite quentinho e a noite o céu se transformava num espetáculo com infinitas estrelas brilhantes iluminando aquela escuridão. E esse ano tinha uma novidade na fazenda. Meu avô estava com uma namorada. Para ele não importava quantas vezes o amor desse errado, seu Francisco sempre tentava novamente. Depois que minha avó morreu, ele teve alguns envolvimentos com jovens senhoras, a maioria viúvas, mas nada oficial. Essa foi a primeira que ele assumiu como namorada. O nome dela era Betânia e tinha 15 anos a menos que meu avô. Era engraçada e um pouco louca. Dançava umas danças esquisitas, conversava com a televisão, cantava músicas da Xuxa e fazia comidas horríveis.
Betânia me adorou. Queria me ensinar suas receitas desastrosas e passou parte do dia me mostrando fotos dos seus familiares. Depois de muitas fotos ela disse que uma era especial. A de um sobrinho que além de lindo, combinava comigo. Quando eu fui olhar, tive certeza de uma coisa, Betânia me achou horrível. Que menino feio! Usava uma bermuda florida com uma camiseta de bichinhos e um boné azul claro. Ele era bem alto e desproporcional como Júnior, a diferença estava apenas no peso, Júnior devia ter uns 20kg a menos. A única coisa bonita nele eram os olhos. Betânia percebeu a minha decepção e comentou que na foto ele tinha dez anos, mas que agora estava um rapaz de 15 anos lindo. Se ela dizia, eu não iria contrariar.
No final da tarde estávamos (eu, Betânia e meu avô) deitados na varanda quando ela falou que precisava ir visitar a filha e perguntou se podia me levar. Os familiares de Betânia moravam na capital de outro estado. Meu avô disse que só meus pais poderiam resolver. Eu me empolguei com a ideia imediatamente e só pensava em pedir a minha mãe, mas como na fazenda não tinha telefone, tivemos que esperar até o outro dia. Bem cedo, já chegamos na minha casa. Betânia conversou com minha mãe, explicou que passaríamos o natal e ano novo e perguntou se ela deixava. Minha mãe não deu nenhuma resposta concreta, falou que ia pensar e conversar com meu pai. Desanimei um pouco, mas também não esperava que fosse conseguir tão fácil. Fizemos compras e voltamos para a fazenda. À noite minha mãe apareceu por lá. Foi explicar a Betânia que meu pai não tinha concordado com a viagem, porque eu ainda era muito nova e nunca tinha viajado sem eles.
- Ou mãe. Não tem nada demais. Eu vou com Betânia.
- Não sei Eduarda. Seu pai não concordou, mas vou tentar conversar com ele novamente.
Tudo bem. Pelo menos ainda tinha uma pequena esperança. Voltei para casa no sábado e Betânia ia viajar na segunda. Quando cheguei em casa eles já tinham definido, eu não iria. Comecei a chorar. Abri o maior berreiro. Passei o sábado inteiro no quarto chorando. E sempre que minha mãe abria a porta querendo se explicar, a minha conversa era sempre a mesma
- Eu também não posso fazer nada. O que custa eu ir? Sempre tenho que ficar trancada nessa casa como se fosse uma prisioneira. Passei por média, com todas as notas acima de 8.0 e mesmo assim nunca posso fazer nada.
- Não é isso minha filha. Nós ainda nem conhecemos essa mulher direito. E se ela for uma irresponsável? Não é como se você fosse ali na fazenda Eduarda, é uma cidade grande.
- Mãe a senhora conhece muito bem a família dela. Isso não é desculpa.
Betânia ainda era prima de vigésimo grau do meu avô e na infância ele tinha morado na casa da avó dela.