Capítulo 22 Fernando

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As horas com July passam rápido, cada segundo ao seu lado me apaixono um pouco mais. Voltaremos amanhã à tarde para casa, por isso resolvo levá-la para conhecer um pouco da cidade, alguns pontos turísticos, mesmo vendo que ela esboça um pouco de cansaço depois da noite maravilhosa de ontem, regada de champanhe e morangos. Minha morena me proporcionou mais uma noite inesquecível.
Ela aceita rapidamente meu convite para passear, como está um tempo frio, peço a July que se agasalhe bem para não ficar doente. Depois de esperar quase uma hora ela finalmente ficar pronta, saímos e vamos visitando alguns lugares de táxi mesmo, como aqui tem muitas atrações resolvo levar minha morena em algumas delas. A primeira visita é no palácio Boa Vista onde encontramos algumas obras dos principais artistas brasileiros, a cada obra July se maravilha mais com o lugar. Depois seguimos para o museu Felícia Lerner, um raro museu, com uma vista incrível a céu aberto da pedra do baú, por ali mesmo nos sentimos obrigados a parar e contemplar os belos jardins e apreciar o canto gregoriano no mosteiro beneditino.
Depois de várias visitas, passeios, fotos que insisti muito para tirar de July estamos morrendo de fome, então seguimos para o Capivari, o coração turístico da cidade, onde há várias lojas e restaurantes. Como estamos aqui já compramos um presente para Clara e paramos para comer em um restaurante que July adorou. Depois emendamos a noite na Baden Baden, o bar mais famoso de Capivari onde podemos conhecer mais sobre os dez tipos de cervejas artesanais.
Voltamos para o chalé e já passa das duas da manhã, mesmo muito cansado e exausto estou completamente feliz em ter minha morena aqui comigo, ela está feliz e isso para mim já é o suficiente para ganhar qualquer dia, já é o suficiente para a vida toda. Entramos no quarto e July já está tirando a roupas e eu fico parado no batendo da porta admirando a bela visão que ela me proporciona do seu corpo, ela passa nua pelo meu lado com um sorriso safado no rosto e me da um beijo casto na boca seguindo para o banheiro. Tiro rapidamente minhas roupas e a sigo, a encontro de baixo do chuveiro com os olhos fechados tirando a espuma dos cabelos.
Abro a porta do box e entro, ela se sobressalta, mas continua o que estava fazendo. Quando coloco minhas mãos sobre as suas, seu corpo relaxa e ela tira suas mãos deixando apenas as minhas fazerem o que ela fazia antes.
Tomamos banho juntos, dessa vez apenas admirando um ao outro, fazendo carinho. Sei o quanto minha morena está cansada quero apenas que ela descanse. Saio de dentro do box e me enrolo em uma toalha, volto e lhe entrego duas, que apenas sorri. July se enrola na toalha, colocando outra nos cabelos e seguimos juntos para o quarto. Enquanto coloco minhas roupas July seca seus cabelos e de vez em quando me olha pelo reflexo do espelho. Seu olhar me transmite tudo o que sinto por ela, amor, carinho, paixão, sei que é recíproco cada sentimento.
Ela termina de secar seus cabelos e tira a toalha, fico mandando mensagens para que meu corpo não reaja a isso, ela precisa descansar, mas como se ele não ligasse, me sinto ficar duro como uma pedra. Pego o lençol e me cubro da cintura para baixo, July ri baixinho sabendo exatamente porque fiz isso e ela gosta. Se aproxima lentamente e se deita ao meu lado, sem nada, seu corpo todo a mostra. É muita tentação.
– Morena está frio. Por que não coloca uma roupa? – digo me remexendo na cama para conter a ereção cada vez maior.
– Pensei que você iria me esquentar – ela fala colando seu corpo no meu.
– Você precisa descansar, hoje foi um dia muito cansativo – como se não tivesse dado a mínima para o que falei, ela beija meu pescoço e morde meu lóbulo.
– Eu preciso de você.
–Tudo o que você quiser meu anjo, sempre.
Antes que July se dê conta já estou em cima dela devorando seus lábios com os meus, suas unhas me arranham e gemo com a sensação de prazer que isso me proporciona, e ali minha morena me dá mais uma noite que nunca esquecerei, mais uma noite de amor.
Acordo com a claridade que entra no quarto. Sinto o corpo de July aninhado ao meu, seu semblante é de alguém que dorme profundamente, tento me levantar, mas ela se mexe e não quero acordá-la, tiro sua mão que repousa em meu peito e me afasto com todo cuidado. Saio da cama e sigo para o banheiro, faço minha higiene, tomo meu banho e quando volto July ainda dorme profundamente. Ligo para a recepção e peço café da manhã, enquanto aguardo eles trazerem o que pedi, arrumo minhas malas, organizo tudo, vamos sair depois do almoço e quero poder aproveitar essas últimas horas com minha morena.
Alguns minutos depois e o serviço de quarto bate na porta, quando abro vejo um carrinho cheio de frutas, sucos, café, frios, pães e iogurte, agradeço ao rapaz e levo o café para minha morena, que já está se espreguiçando na cama. Ela abre os olhos e encara os meus, um sorriso preguiçoso brinca em seus lábios e um "bom dia" sussurrado sai deles. Ela se levanta, entra no banheiro e sai dez minutos depois dizendo que está morrendo de fome, o que não é novidade. Tomamos café na cama, conversando, July me fala do que mais gostou esses dias aqui em Campos do Jordão, disse que vai sentir falta do jardim e de como o céu é lindo daquela área. Ela me faz prometer que voltaremos em breve, dessa vez para ficar um pouco mais e aproveitar melhor o lugar, claro que concordo não vou dizer não a minha morena, para ela sempre será sim, sempre.
Depois de passear um pouco mais pelos arredores do chalé, July se encanta mais pelo lugar, depois de ver que tem cavalos, não temos tempo de montar hoje, então faremos quando voltar aqui, ela fica triste lembrando que fazia isso com seu pai quando era vivo. Mudo de assunto rapidamente para não ver seus olhos cheios de lágrimas, dou tudo para nunca ver minha morena triste, sofrendo, arrebento qualquer um que se atrever a magoá-la. Almoçamos no quarto mesmo e descansamos um pouco antes de conferir que está tudo arrumado, não esquecemos de nada. Vamos para a recepção para entregar as chaves do quarto, July olha uma última vez para o lugar antes de entrar no carro e quando me sento ao seu lado, ela pula nos meus braços e me abraça, a aperto com força, tento transmitir nesse abraço tudo o que sinto por ela, todo meu amor. Como eu poderia imaginar que ia voltar a me apaixonar, a amar tão intensamente como estou fazendo agora com ela, afasto-me o suficiente para encostar minha testa na sua, ficamos assim apenas sentindo um ao outro, os nossos corações batendo e nossa respiração é o único som que preenche o silencio do carro.
Uma hora depois estamos em uma loja de conveniência comprando chocolate, refrigerantes e água para poder seguir viagem. Minha morena está toda animada para contar para sua amiga sobre todos os lugares que visitamos. Depois de sair da loja e voltarmos para estrada, está um trânsito horrível, o motivo, um acidente de carro. Vejo os olhos de July se arregalarem, quando passamos bem devagar ao lado de um carro capotado, dois corpos, que aparentemente são de um casal, estão dentro do carro, provavelmente sem vida. Uma lágrima escorre de seus olhos e ela limpa rapidamente, acredito que não quer que eu a veja assim, por isso finjo que não vi, apenas tento sair o mais rápido possível desse lugar. Ela coloca um CD que encontra dentro do carro e vai passando várias músicas, ela está com a cabeça encostada na janela parece distraída e com pensamentos longe, me dói vê-la assim. A voz de Seether começa a soar dando vida à música Breakdown preenchendo o silêncio do carro, começo a cantar baixinho e a vejo me encarar até que a voz de Julia começa a acompanhar a minha, a olho de relance e seus olhos estão fechados, ela canta com o coração, que nesse momento está sangrando.
Paro o carro em frente à casa da minha morena, que parece triste, sei que foi por causa daquele acidente, mas não perguntei, nem a pressionei, ela vai me falar quando se sentir confortável.
– Chegamos meu anjo, tem certeza que não quer ir para minha casa? – ela me olha e sorri.
– Fica você aqui, podemos pedir pizza, assistir Chicago, sim porque sei que você está tão viciado quanto eu, e amanhã você sai cedo para o trabalho junto com a Clarinha.
– Será que ela não vai achar ruim? Deve ser estranho, ter o chefe dormindo em sua casa – July sorri, me dá um beijo casto e sai do carro.
– Vou abrir o portão para você guardar o carro – ela vai abrindo o portão antes mesmo de eu sequer aceitar, autoritária essa minha morena. Estaciono o carro ao lado de outros dois na garagem.
Entramos em casa, e está tudo em silêncio, July fala que Clarinha deve estar na empresa, vai chegar um pouco mais tarde, porque depois vai para a faculdade. Ela entra na cozinha e volta com um copo de suco, me entrega e tomo quase todo. Peço pra me mostrar onde fica o banheiro para tomar um banho, ainda tenho roupas limpas em minha mala. Ela me leva ao seu quarto e fico impressionado como tem livros. Há uma cama de casal, no centro do quarto, no lado esquerdo da parede um guarda-roupa e uma enorme sapateira, no lado direito uma grande estante que toma quase toda a parede cheia de livros, não sabia que ela gostava de ler, em frente à cama perto da porta que acabamos de entrar uma penteadeira. Uma coisa me chama a atenção uma boneca de biscuit deslizando em uma barra de ferro, igual à July. Passo minhas mãos pela boneca e volto a olhar em sua direção que está distraída pegando toalhas para mim. O quarto tem cores neutras, uma grande janela em cima da cama, que proporciona toda a claridade do ambiente.
– Aqui está! – ela diz e segura uma tolha na minha frente. Estava distraído e nem ouvi ela me chamar, pego a toalha e ela me mostra o banheiro.
– Obrigada meu anjo, não quer vir comigo? – pergunto a puxando para meus braços
– Não Nando. Vou colocar minhas roupas para lavar e te espero na sala – fala se afastando, mas quando chega à porta pisca para mim.
– Tem certeza? – grito para que ela escute.
– Absoluta.
Entro embaixo do chuveiro e relaxo com a água quente que cai sobre minhas costas, dirigir por horas me deixou muito cansado. Termino o banho e sigo para sala, July já segura um balde de pipocas e nossa série favorita, como ela diz, já está pausada. Sento ao seu lado e ela encosta a cabeça em meu peito, noto que ela está fechada, não quis conversar desde a hora que chegamos e respeito seu silêncio. Só o que posso fazer é dar meu carinho, isso ela sempre vai ter. Depois de quatro episódios da série, July pega o telefone e pede pizza de marguerita antiga, a sua preferida, e fanta. Enquanto esperamos a pizza July resolve tomar banho e eu fico aguardando na sala, alguns minutos depois, a porta da sala se abre e Clarinha entra, ela se sobressalta quando me vê, mas logo abre um grande sorriso. Me levanto para abraçá-la, nos sentamos e ela começa a me contar tudo o que aconteceu nesses últimos dias.
– Foi uma semana muito calma. Finalmente conseguimos provar ao cliente que o projeto é nosso – respiro aliviado ao ouvir as palavras de Clara.
– Mas como outra empresa tinha esse projeto, o cliente te disse?
– Não Fernando, mas ele garantiu que vai apresentar esse projeto no dia da reunião – fico apreensivo. Essa história ainda está mal resolvida.
– Isso tudo não se encaixa Clarinha e eu quero descobrir como o meu projeto foi parar nas mãos de outra pessoa.
– Alguns acionistas estão cogitando que alguém roubou o projeto e vendeu para outra empresa – ela fala com cautela.
– O QUE? – ela dá um pulo no sofá com meu grito – Desculpa Clara, não quis gritar com você, mas como isso é possível?
– Não sei Fernando, mas vamos descobrir no dia da reunião.
July aparece, vestida com uma camiseta que fica parecendo uma camisola nela e com os cabelos presos em um coque bagunçado. Seus olhos estão vermelhos e inchados, me aproximo rapidamente dela.
– O que houve meu anjo, você está bem? – ela me olha e não responde nada. Olha por cima do meu ombro e vê Clarinha que olha para ela com a testa franzida.
– Estou bem, caiu um pouco de espuma nos meus olhos, Clarinha meu amor como você está? – ela se afasta e vai abraçar sua irmã, que me olha e balança a cabeça, já entendi nada de perguntas.
– Estou bem July e a viagem como foi? – Clara pergunta e July se anima rapidamente. Senta com sua irmã e começa a contar tudo sobre a viagem, agradecemos a Clarinha por tudo que fez por nós e entregamos seu presente, ela agradece dizendo que não precisava, mas vi como ficou feliz.
A pizza chega e comemos os três juntos, sentados no tapete, conversamos e depois de horas, vejo minha morena rir de verdade, fico tão feliz por isso, é tão pouco, mas é importante para mim. Depois de comer, colocamos filme de terror para assistir, A Entidade 2, eu e Clarinha ríamos a todo momento da July, dos seus gritos, ela me abraça como se sua vida dependesse disso, é engraçado, mas começo a ficar com dó dela quando a sinto tremer em meus braços. Falo para Clarinha tirar o filme, mas July nos impede dizendo que vamos ver até o final, não entendo porque e ela diz que é muito corajosa e que vai assistir até o final. Não aguento a cara que ela faz de corajosa e começo a rir acompanhado de Clara. Minha morena fica de cara feia e joga uma almofada na irmã, que revida, mas July se abaixa a tempo e acaba acertando em mim. E assim começamos uma guerra de travesseiro, quando os três estão totalmente exaustos, já passa da meia-noite então resolvemos dormir. Sigo para o quarto da minha morena com nossas mãos entrelaçadas. Deito-me na cama, ela apaga as luzes, se deitando ao meu lado, a puxo para encostar sua cabeça em meu peito e faço carinho em seus cabelos, até que sinto seu corpo relaxar.
Acordo com gritos, me levanto da cama em um pulo, olho para os lados e não vejo ninguém, continuo procurando o motivo de todos esses gritos que apertam meu coração. São gritos de dor, de angústia, olho para cama e é minha morena, ela que está gritando assim. Meu Deus, quanta dor, me aproximo e toco seus braços gelados, coloco as costas das minhas mãos em sua testa e ela está toda suada. Começo a chamar seu nome, mas ela não acorda, balanço seu corpo e os gritos só aumentam. Não posso suportar isso, não agüento vê-la sofrer assim
– July acorda! Estou aqui meu anjo, acorda! – grito mais alto para tentar acordá-la.
– Não... Por favor... Mãe acorda... Pai... Socorro! – ela grita e chora em desespero, balanço seu corpo com mais rapidez.
– July acorda! É um pesadelo, acorda!
–Nãooooo. Mãeeeeeee... Volta... Não morre... – ela levanta rapidamente, me assustando.
Seus olhos estão vidrados na porta, suas costas estão eretas, lágrimas escorrem por seus olhos.
– Estou aqui, July olha para mim, foi só um pesadelo, olhe para mim – ela vira a cabeça em minha direção e seus olhos se arregalam.
– Fer.. Fernando é você? – ela pergunta em meio aos soluços.
– Vem aqui meu amor – a puxo para meus braços e ela chora – O que fizeram com você anjo?
– Eu os matei, eu... A culpa... Foi minha... Toda minha – ela fala e chora ao mesmo tempo.
Me sento com as costas encostadas na cabeceira da cama e a puxo para se encaixar no meio das minhas pernas, a embalo como uma criança que precisa de proteção. Deixo que ela tire toda essa dor de dentro do peito, ela chora e mesmo partindo meu coração, fico apenas ali sem fazer nada. Às vezes não precisamos ouvir nada, nem falar, precisamos apenas chorar. Algum tempo depois ela não chora mais, apenas me abraça apertado.
– Você quer me contar sobre o que sonhou? – pergunto e ela solta um suspiro prolongado.
– Com meus pais, no dia que morreram.
– Você sempre tem pesadelos assim? – ela se afasta e me encara.
– Desculpa se te acordei, não foi minha intenção – fala já se levantando do meu colo.
– Ei, calma, estou aqui para você e quero entender o que houve. Você está sofrendo tanto, me senti impotente sem poder fazer nada – a puxo de volta para deitar sobre meu peito.
– É só que é difícil, sabe, falar sobre isso, ainda dói demais.
– Se não quiser falar, não tem problemas, mas quero que saiba que estou aqui para você, para tudo o que você precisar.
– Obrigado! – depois disso, ela fica em silêncio.
Fico pensando no que aconteceu, queria poder ajudá-la a aliviar um pouco dessa dor, tirar dela e transferir tudo para mim, mas não posso obrigá-la a falar. Mesmo querendo ajudar, fazê-la reviver algo que a fez sofrer tanto é crueldade. Então deixo que ela me diga tudo no seu tempo, quando sentir que está pronta para isso. Fico perdido em pensamentos, acho que ela dormiu novamente então começo a fechar meus olhos quando o cansaço começa a tomar conta do meu corpo.
– Há oito anos, quando comecei a faculdade... – meus olhos se abrem ao ouvir suas palavras, passo minha mão em suas costas para saber que estou ouvindo e ela continua.
– Meus pais ficaram muito orgulhosos, felizes por sua filha ser estudiosa, querer se formar, mesmo que longe deles. Eu estudava em BH. Uma noite, no aniversário de um dos garotos do meu campus, resolvemos ir para seu apartamento comemorar. Tinha muitas bebidas, mas como era fraca para beber, acabei ficando só no vinho, por achar que era o mais fraco, engano meu.
Tomei uma garrafa toda, quando levantei para ir ao banheiro, parecia que o chão andava junto comigo, as pessoas giravam, não conseguia me manter em pé. Eu... Eu... – ela para um pouco de falar e engole em seco, respira e continua. – Uma das meninas, me ajudou a ir ao banheiro, mas acabei ficando muito mal com o passar do tempo, vomitava muito, muita dor de cabeça, então o Erick me ajudou a voltar para casa. Cheguei ao meu apartamento, tomei banho, mas a dor e os enjoos não paravam, deitei para tentar dormir, mas era difícil. Depois daquele dia jurei para mim mesma nunca mais tomar vinho. Meu celular tocou, eu não atendi de imediato. A pessoa que ligava era insistente e o barulho aumentava a minha dor de cabeça. Atendi por reflexo, sem ver quem era, a voz da minha mãe saiu com o tom de preocupação, quando comecei a falar, ela imediatamente percebeu que havia algo errado comigo, tentei dizer que não era nada, mas ela dizia que estava a caminho. Antes de desligar ela disse "filha aguenta só mais um pouquinho, eu e seu pai estamos chegando, amamos você" e o telefone ficou mudo, ela havia desligado – sinto seu corpo tremer por causa do choro reprimido.
– Ela parecia minha mãe, quando me liga preocupada, já vi que são todas assim então – tento amenizar o clima, mas não dá certo. Suas lágrimas continuam molhando meu peito.
– Depois disso Erick entrou no quarto e me entregou um remédio para dor e acabei dormindo.
Acordei três horas depois com minha irmã me ligando, Clarinha chorava muito ao telefone, quando perguntei o que havia acontecido, ela apenas respondeu "eles morreram, nossos pais July eles morreram". Senti meu mundo desabar, eu simplesmente não conseguia falar, não conseguia chorar, eu nem sequer acreditava. Larguei o telefone e comecei a ouvir gritos, muitos gritos, minha cabeça parecia que ia explodir, meu peito parecia que estava rasgando, escutei passos, alguém me abraçava, mas eu lutava para me soltar, para acordar, para esquecer. Era um pesadelo tinha que ser, eu queria que fosse, mas infelizmente não era, mais tarde naquele mesmo dia, já no hospital, Erick me contou que os gritos que eu escutava eram os meus, eu gritava e o empurrava para longe, precisava acordar, mas como ia fazer isso se era tudo real?
– July eu sinto muito, eu sei como é difícil perder alguém, principalmente assim, mas...
– A culpa foi minha. Se eu não tivesse bebido, se não tivesse passado mal, eles não entrariam aquele carro. Nunca teria acontecido aquele acidente, eles estariam aqui, vivos – ela soluça, chora e me abraça com tanta força que posso sentir toda sua dor.
– A culpa não foi sua, foi um acidente. Ninguém tem culpa quando isso acontece.
– Eu tive! Nunca vou me perdoar por isso, eu os matei...
A abraço com mais fora, para que ela sinta que nunca mais vai estar sozinha, July me conta também que largou a faculdade para cuidar de sua irmã e esse foi o motivo do término do namoro dela e do Erick, ele queria que ela colocasse a irmã num internato. Homem mais filho da puta, sabendo que sua namorada estava passando por tudo isso, em vez de ser homem e ficar do seu lado, a abandona sofrendo. Que vontade de voltar a vê-lo só para lhe arrebentar a cara. Sabendo disso admiro minha morena ainda mais, por sua força, por ser essa mulher determinada, que foi atrás dos seus sonhos, que mesmo sofrendo não abaixou a cabeça e seguiu com a vida.
– Meu anjo, como queria tirar toda essa dor de dentro de você, mas não posso, não quando nem eu mesmo consigo superar.
– Por isso me abri com você. No fundo eu sei que você é o único que entende – fecho meus olhos. Sei que deveria contar a ela, mas não estou pronto para remexer no passado, reabrir feridas cicatrizadas.
– Porque eu sei o que é isso, mas sei também que a culpa não é sua.
– Foi a Sophia, não foi? – meu corpo fica tenso com sua pergunta, respiro fundo, mas respondo.
– Foi sim!
– E você vai me falar um dia? – a puxo para se deitar de lado na cama e a abraço por trás.
– Um dia, não hoje, ainda não estou pronto – ela entrelaça minha mão nas suas.
– Eu espero.
– Eu vou tirar de você toda essa dor. Juntos, vamos superar tudo isso – ela beija minha mão e cola mais em meu corpo.
– Sempre juntos. Obrigado – ela fala se virando para olhar em meus olhos.
– Pelo que?
– Por você estar aqui – beijo sua testa e encaro seus olhos inchados e vermelhos.
– Sempre estarei. Sou seu para sempre – ela se aninha em meu peito e faço carinho em seus cabelos até que sinto minha morena voltar dormir. Graças a Deus, dessa vez sem nem um sonho ruim.

Atração - Série Irresistível - COMPLETOOnde histórias criam vida. Descubra agora