Exatamente às sete e meia da noite, Dulce tirou do forno o assado que havia preparado. A mesa estava arrumada para dois, com mais velas e mais flores precisamente arrumadas. Uma salada de colorido exótico, feita com abacate e tomates gelava juntamente com o vinho.
Assim que eles degustassem a entrada, pretendia surpreendê-lo com crepe de marisco. E se tudo saísse de acordo com o planejado, terminariam a refeição com champanhe gelado acompanhando framboesas frescas com creme. Na cama.
- Muito bem, Dulce.
Dizendo isso, tirou o avental e foi até o espelho para checar seu visual. Então calçou os sapatos novos, aplicou algumas gotas de perfume em pontos estratégicos e sorriu para seu próprio reflexo.
- Vamos capturá-lo.
Atravessou o corredor, tocou a campainha do apartamento de Christopher e ficou esperando, com o coração acelerado. Segundos depois, tocou mais uma vez.
- Como tem coragem de não estar em casa? - protestou em voz alta. - Como ousa? Não leu meu bilhete? Claro que deve ter lido. Eu não deixei bem claro que iríamos nos encontrar depois?
Com um resmungo, bateu a mão fechada contra a porta. Em seguida, respirou fundo e endireitou as costas.
- Eu disse que tinha planos. Ah, meu Deus, você não entendeu, não é, seu cabeça-dura? Planos para nós dois! Oh, droga.
Sem hesitar, trancou a porta de seu apartamento e, na falta de uma bolsa para guardar a chave, colocou-a dentro do sutiã. Então começou a descer a escada com passos firmes, em direção à saída do prédio.
- Está com algum problema afetivo, querido?
Christopher olhou para Delta, parando um instante para tomar um gole de água.
- Não estou com nenhum problema, muito menos afetivo.
- Ei, está falando com Delta, lembra-se? Sua velha amiga. - Ao longo dessa semana, em todas as noites em que o vi tocar, percebi que você estava tocando como se estivesse pensando em uma mulher. Hoje apareceu mais cedo, e está tocando como um homem que teve problemas com uma mulher. Por acaso discutiu com aquela garota?
- Não. Ambos temos mais o que fazer do que ficar discutindo.
- Ela ainda o está tirando do sério, não é? - Delta riu.
- Algumas mulheres exigem um pouco mais de romance do que outras.
- Isso não tem nada a ver com romance.
- Talvez seja justamente esse o seu problema. - Delta circundou o braço sobre os ombros dele, afagando-o com carinho. - Já comprou flores para ela? Disse que ela tem olhos lindos?
- Não. - Droga, já havia comprado flores para Dulce. Mas o receio de se desapontar o levara a se conter.
- O que sentimos um pelo outro é apenas atração física. Não tem nada de romântico - completou.
- Oh, meu querido. Se quiser realmente conquistar uma mulher como Dulce, terá de ser romântico, por mais que deteste a idéia.
- Por isso mesmo é que quero ficar bem longe dela. Quero continuar com minha vida simples. - Posicionando o sax, arqueou uma sobrancelha. - Agora vai me deixar tocar, ou quer me dar mais algum conselho a respeito da minha vida amorosa?
Delta balançou a cabeça negativamente, dando um passo atrás.
- Quando você realmente tiver uma vida amorosa, meu caro, pensarei em lhe dar conselhos.
Christopher recomeçou a tocar, enquanto ouvia a música em sua mente. Em seu sangue. No ritmo de sua pulsação. Como sempre, tocou a música com todo seu sentimento, mas não conseguiu impedir-se de continuar pensando em Dulce. Talvez acabasse se acostumando com isso, pensou. Com aquela constante fixação em querer saber o que Dulce estaria fazendo e pensando.
A música continuou a sair do sax feito o lamento de um homem desesperado.
Então ela passou pela porta. Seus olhos, cheios de segredos, encontraram os dele através da neblina do ambiente. O modo como ela lhe sorriu ao se sentar à mesa, fez as mãos de Christopher começarem a suar. Ela umedeceu os lábios e deslizou o dedo indicador sobre a frente do vestido, em um gesto sensual.
Christopher ficou olhando, hipnotizado, enquanto, com movimentos provocantes, ela cruzava as pernas esguias cobertas por sensuais meias de seda fumê. Depois, a maneira como ela deslizou a mão do joelho até o quadril era designada justamente a fazer o olhar de um homem acompanhar o movimento. E foi o que ele fez, com a respiração alterada.
Ela continuou ouvindo a música e mantendo aquele brilho provocante no olhar. Quando as últimas notas ecoaram no ambiente, ela passou a língua sobre os lábios cobertos por um intenso batom vermelho.
Então Dulce se levantou e, sem desviar os olhos dos dele, passou a mão pelo quadril, girou sobre aqueles saltos arrasadores e se encaminhou para a saída. Antes de passar pela porta, porém, virou-se uma última vez para ele e lançou-lhe um convite silencioso com um mero arquear de sobrancelha.
O murmúrio que escapou dos lábios de Christopher, quando ele afastou o sax, foi de absoluta reverência.
- Não vai fazer nada, meu amigo?
Christopher começou a guardar o instrumento na maleta.
- Por acaso pareço idiota, André?
- Não. - O marido de Delta riu e continuou tocando o piano. - Definitivamente não.
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Um Vizinho Perfeito
RomanceO amor ainda era o maior legado dos Macgregor Fazer parte da família MacGregor era o mesmo que estar destinado a encontrar um grande amor. Sim, porque para os descendentes daquele poderoso clã escocês, não havia como escapar do olhar carinhoso e ma...