Nunca gostei de me abrir verdadeiramente para as pessoas, quem sabia minha história completa era somente o Sr. Dalton, isso porque o conheço desde que vim para a capital, Kennet, com 17 anos.
O que Jenny sabia era o porquê de eu ter vindo para a capital, não como ou o que aconteceu para que eu me afastasse por um mês depois que terminei minha faculdade. Eu não queria. Eu não gostava de falar disso.
Entrei no bar do Cláudio vendo os mesmo funcionários e clientes de sempre, eu e Jenny íamos ali para almoçar diversas vezes, pois era o restaurante/bar mais próximo da clínica, além de ter um prato feito mais em conta.
Vi Jenny na mesa que sempre ficamos, perto da janela de moldura rústica, compondo com a simplicidade do lugar. Assim que me viu ela se levantou e nos fomos para o self service juntas, colocamos comida no prato em silêncio, pegamos o comando e seguimos para nossa mesa.
O silêncio começou a incomodar, somente o barulho das outras mesas se fazia presente; Jenny está quieta. Então ela me olhou e sorriu fracamente.
- Ellie, eu não quero te julgar. Não sei o que aconteceu na sua vida antes de vim fazer faculdade na capital ou o que houve para você se retrair em sua cidade natal por um mês - Abaixei minha cabeça remexendo na minha comida. Ela suspirou e continuou: - Então, quando você estiver pronta, eu sei que você vai me contar, mas você tem que importar com o presente. Você tem que ir atrás dos seus sonhos, por mais que pareça impossível.
Ela pegou minha mão sobre a mesa e apertou. Jenny sabia ser séria quando precisava.
- Por que não pensa que o aparecimento de Thomas seja uma coisa boa? Pode ser um empurrão que você precisava para seguir, não acha? Comece pequeno...
"Comece pequeno..." Soou como meu recomeço no circo, me erguendo bem devagar, no entanto, confiante. Sorri para ela e voltei a comer. Até que Jenny voltou a falar:
- Espera ai que eu tenho uma ideia! Momento em que eu penso nas possíveis merdas que pode acontecer e excluo da minha mente - Ela fez uma pausa e eu soltei uma risada pensando que em toda minha vida eu nunca imaginei que teria uma pessoa tão louca e fantástica como amiga. - Aquele primeiro andar do seu prédio ainda está para alugar, não é?
Assenti ainda sem entender o que sua mente pensava. Ela mordeu um tomate mastigando exageradamente e olhou para lugar nenhum, ainda pensando. Quando seus grandes olhos verdes arregalaram-se eu larguei meu garfo, lá viria uma ideia bizarra, como quando eu ainda estava na faculdade e ela dizia que deveríamos ir naquelas festas de veteranos. Acabou que no fim eu fui e me divertir muito.
- Você devia alugar lá! Colocar uns espelhos e aquelas barras de ballet, barras de pole dance... - Eu maneei a cabeça e ela suspirou, mas não perdeu a perseverança. - Eu te ajudo, Lis. Eu posso ser sua sócia, não é possível você não ter uma poupança, algo que seus pais te deixaram.
Desviei o olhar, estava ali a parte de difícil. A casa deles, foi o primeiro pensamento que me atingiu, porém me causou náuseas. Eu não teria coragem.
- Olha, você vai pensar, ok? Só pensar! Sem compromisso. Sei que você acabou de voltar para a cidade, mas se você aceitar vou te apoiar em o que for preciso e sei que não sou só eu.
Eu sorri e levantei-me para abraça-la.
- Obrigada, Jenny, muito obrigada!
- Não me agradeça com abraços, querida. Pode ir passando o número daquele mágico tesudo que eu conheci quando te levei no circo semana passada.
E eu caí na gargalhada.
- Por que não vem assistir meu treino hoje? Pelo horário ele também estará treinando. - Em seus lábios surgiu um sorriso malicioso, mas eu estava louca para quebrar a onda dela. - Porém, como seu colombiano vai está te esperando, acho que o Alex fica para Miranda e Olívia.
- Nossa, onde eu fui arrumar uma amiga assim? Sempre cortando meu barato - Ela revirou os olhos e eu sorri, voltando a comer.
Ao fim do expediente, consegui tempo para passar em casa e tomar um banho, os ensaios iam começar mais tarde hoje. Entrei no meu apartamento e deixei a bolsa sobre meu sofá, que também era minha cama. Assaltei a geladeira pegando um iogurte de morango e um pacote de biscoito recheado no armário, fui à televisão e coloquei em um canal de música da TV a cabo, deitando sobre minha cama em seguida.
Eu me sentia uma falsa circense, afinal, com meu ofício eu devia ser mais feliz, animada. Porém, por tudo que já vivi, acho que eu fico em meio termo. Uma verdadeira acrobata, fazendo meus solos no chão e em outros dias, fazendo meus aéreos. Como os altos e baixos que houve na minha vida. Mas a partir do dia em que deixei a casa dos meus pais eu queria esquecer os momentos em que eu fiquei para baixo. Eu queria ir alto, feliz, ser o que eu mesma esperava de mim... eu queria voltar a sonhar.
A conversa que tive com Jenny mais cedo voltou a minha mente. Meus sonhos de adolescente, onde estão? Por que os deixei se perderem no tempo, nas minhas memórias, nas minhas mágoas?
Ergui-me, na TV tocava "Sorry", do Justin Bieber, e eu me peguei sorrindo e pensando: É muito tarde para pedir desculpa a mim mesma? Não, não era. Deixei meu lanche pela metade sobre a cama e segui para o banheiro.
Tomei um banho lavando meus cabelos curtinhos, sai enrolada na toalha e encarei a TV que pelo alto falante soava "One Call Away", do Charlie Puth. Gargalhei ouvindo a música pela metade e colocando a meia calça azul petróleo, para em seguida vesti minha saia rodada de bolinhas amarelas. Até a música?
"Come along with me and don't be scared. I just wanna set you free. C'mon, c'mon, c'mon. You and me can make it anywhere. For now, we can stay here for a while. Cause you know, I just wanna see you smile. No matter where you go. You know you're not alone." (Venha junto comigo e não tenha medo. Eu só quero te libertar. Vamos lá, vamos lá, vamos lá. Você e eu podemos chegar a qualquer lugar. Por agora, nós podemos ficar aqui por um tempo. Pois, você sabe, eu só quero te ver sorrir. Não importa onde você vá. Você sabe que não está sozinha.)
Com certeza Jenny estava ouvindo esse tipo de música. "Estou a uma ligação de distância". Balancei a cabeça e peguei minha blusa branca e lisa. Quem me olhasse na rua pensaria que se tratava de uma criança, exceto pelo meu tamanho. Sorri. Definitivamente eu tenho que parar de andar com a Jenny.
(11/07/2016)
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A Um Solo do Amor
Literatura Feminina♥♥ Vencedor do Wattys Justo 2016, Primeiro lugar no Projeto Descobrindo Escritores ♥♥ Ellie tinha duas escolhas: viver remoendo seu passado infeliz ou criar um novo presente e futuro para si. Felizmente, ela escolhe a segunda opção. ...