O relógio marcava cinco horas da tarde, era quase o fim do expediente quando uma jovem entrou rapidamente no escritório. Ela era loira e muito bonita, com os cabelos curtos e lisos na altura dos ombros, corpo esguio e torneado ao mesmo tempo, olhos azuis e penetrantes, apesar de estarem um tanto profundos e desprovidos de brilho. Ela vestia uma saia azul marinho de cintura alta e uma blusa social branca, em suas mãos estavam algumas pastas com muitos documentos. Seu nome era Michelle, ela tinha vinte e oito anos e era uma advogada de relativo renome, porém nos últimos meses algo estava acontecendo e ela não sabia precisar ao certo o que era. Estava insegura, instável, e apesar de continuar tendo relativo sucesso no trabalho, sentia que algo estava errado.
Naquele fim de tarde, Michelle entrou apresada no escritório, havia esquecido um documento importante para mais uma audiência e tinha pouco tempo para chegar no fórum, senão, provavelmente perderia a ação por revelia. No momento em que entrou no escritório acabou tropeçando e deixou as pastas caírem espalhando todos os papéis pelo chão. Amanda, sua secretária, ao ouvir o som da queda e o grito de Michelle, correu para o escritório para ajudá-la. Enquanto as duas pegavam os papeis de forma apressada e desordenada o telefone tocou. Amanda correu para atender, mas era melhor que não tivesse feito aquilo, pois do outro lado da linha estava Bruno Ferraço, um cliente de um caso extremamente complicado, cuja leitura da sentença seria feita online através de um comunicado no site do tribunal de justiça.
Bruno estava completamente exaltado e não aceitou outra resposta a não ser falar com Michelle imediatamente. Ele estava inconformado por ter sido condenado a quatro anos de prisão em regime aberto. O cliente foi extremamente hostil com a advogada sendo que a palavra incompetente poderia até ser tomada como um elogio, dadas as outras usadas por ele. O caso de Bruno era extremamente complicado, ele foi pego em fragrante agredindo a filha de dois anos e quando a esposa tentou apartá-lo, ele pegou uma faca e a golpeou na altura do pescoço ferindo-a de raspão. Foi autuado em fragrante, mas mesmo assim, quis lutar pela posse e guarda da filha. Já era um milagre ele não ter sido preso e nenhum juiz do mundo lhe daria a posse da filha, porém ele não queria saber das argumentações da doutora, ele simplesmente parecia não admitir ter antecedentes criminais. Bruno ofendeu Michelle de uma maneira tão profunda que ela o deixou falando ao telefone, pediu licença a Amanda e entrou no banheiro do escritório. Lá ela chorou copiosamente.
Michelle se sentia fragilizada, injustiçada, sozinha e desamparada. Ela era uma mulher jovem que havia deixado a sua cidade bem nova e ido para São Paulo tentar destaque em sua profissão. Michelle era natural de Nísia Floresta, uma cidade pequena e pitoresca que se localiza a cerca de cinquenta quilômetros de Natal, capital do Rio Grande do Norte. Durante toda a infância ela morou naquele lugar com a sua mãe, porém, quando a mesma faleceu devido a complicações em uma cirurgia, ela decidiu deixar a cidade assim que fosse possível. Como nunca conheceu o pai, morou com uma tia até completar dezoito anos, se mudou para Natal para estudar e somente voltava para casa nos finais de semana, isso no início, pois ao longo dos meses e anos, quase não visitava mais a sua tia. Aos vinte e dois anos se formou em direito e após passar na prova da Ordem dos Advogados do Brasil, na primeira tentativa, decidiu se mudar para São Paulo, ficou por lá por cinco anos, construiu uma carreira sólida sempre aceitando casos difíceis e vencendo a maioria.
Há cerca de oito meses Michelle havia se mudado para Vitória, capital do Espírito Santo, morava em um luxuoso apartamento no bairro de Jardim da Penha, porém o caso de Bruno ainda era um dos últimos casos remanescentes de seu trabalho em São Paulo. Em qualquer esfera ela julgava aquela sentença uma vitória, porém o seu cliente pensava de uma forma diferente e a culpava questionando a sua índole e sua competência. Por ter que lidar com tipos como aquele que ela resolveu deixar São Paulo, e ela queria acreditar nisso a todo custo, mesmo sabendo que o motivo da sua "fuga" era algo bem mais profundo.
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Guerra Santa - Livro - 1 - Presságios do Apocalipse
Ficción GeneralPresságios do Apocalipse é um livro que narra a derradeira Guerra Santa, a batalha que pode culminar no apocalipse. Os fatos narrados mostram a intervenção de anjos e Nefilins nascendo como híbridos entre os humanos afim de inspirá-los para o bem ou...