Coisas do Interior

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DIÁRIO DE POBREVIVÊNCIA

CAPÍTULO 1-

Segunda-Feira é o dia mais odiado da semana, via de regra é o choque de realidade no pobretão que tem de ir para sua mísera vida. São cinco horas da manhã e o galo de dona Clovinha não para de cantar.

O canto do galo no interior lembra que é um novo dia e que você tá mais lascado que ontem, afinal vida de pobre é um mar de lamentação. Por falar em interior, meu nome é Carlos Rosevell. Minha mãe, Dona Isadora, ouviu em algum lugar sobre uma autoridade americana e pôs esse nome, infelizmente alguém esquece de avisá-la que é ROOSEVELT.

Pobre não acorda, ele se ergue para viver, nada melhor para isso que tomar aquele banho gelado de -20 º C no seu chuveiro mostrando toda a encanação e que para variar a maçaneta não funciona. Tomado o banho é hora de vestir suas peças íntimas que mais parecem uma rede de pesca de tantos furos. Nada é como vestir sua bela blusa de político enrijecida pela pobreza de anos. O legal da vestimenta pobrês é que ela nunca torna-se inútil, ele tem diversas fases de transformação (Pobreza é cultura), iniciando com o uso restrito a eventos, depois a diária, trabalho pesado e por último torna-se pano de chão, mostrando ao mundo um material resistente a qualquer guerra nuclear.

Terminado de tomar o velho café que se resume desde que o mundo é mundo em um pão com "margarina" (O preço da manteiga não ajuda na probrevivência) é hora de cair no complexo mundo da cidade do interior.

A cidade do interior possui coisas tão específicas e complexas que motivam qualquer pessoa a escrever histórias. Saindo de casa você já encontrar o Bêbado da cidade. Munheca era aquele cidadão cabeludo, rosto barbudo que entende da mais profunda filosofia depois de 2 lapadas de cana. Por sinal ele gosta de sentir o toque da mãe natureza, logo, você vai encontra-lo dormindo tranquilamente na rua, sentindo a vibe da cidade.

Perto do Munheca tem aquele grupo de velhinhas que se juntar a idade vamos parar no paleolítico, são a Wikipédia interiorana. Pessoas que nunca conseguiram muita coisa na sua vida e por algum motivo querem desgraçar a vida dos iniciantes a pobrevivência . Conversando com elas você de cara vai ouvir falar no fulano que saiu com cicrano ou na filha de beltrano que fugiu com o namorado ou do menino de seu Antônio bolacha que foi para o "Rio", pobre ama viajar para o Rio.

A praça da cidade do interior é meio que a base de inteligência, tudo que é possível saber sobre a cidade você vai encontrar lá, quem não vai à praça é meio que uma espécie de extraterrestre diferentão. Toda a massa da cidade está lá, incluindo as garotas, os políticos, as festas e especialmente as lanchonetes.

Indo para escola não se pode deixar de notar a inveja personificada, a cidadela tem uns 200 mercadinhos, é de se estudar a capacidade empreendedora da população interiorana, não importa quantos estabelecimentos vendendo um produto tenha, sempre cabe mais um. 

Nessa via dolorosa é dia do velho guerreiro pobretão chegar ao ambiente mais hostil da infância, a ESCOLA ESTADUAL PEDRO AUGUSTO, hora de correr pois Jamal, o porteiro, já está aos berros para o rebanho entrar e bem, se não vai a escola a cumade Clovinha trata de dividir meus espinhaço ao meio e ainda fico sem  merenda.

- Vamos entrando Mulambada que vou fechar o portão!!!!!!!!!!!!!!!

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