Cerca de 3 minuto depois de separar-nos finalmente encontro a entrada.
O corredor à medida da distância parece cada vez mais um lugar desabitado e velho. Não tinha reparado antes mas a entrada está num estado radical, em vez de paredes pintadas estão paredes com a pinta seca e velha desagarrada e a cair, papeis que eram supostos estarem na receção estão no chão, pisados e com uma cor amarelada, era como se tivesse entrado numa dimensão paralela, apesar de saber que não, pois atrás de mim o corredor continua igual e limpo.
Grito por Ichiro e volto a observar a entrada. Ando até à porta, é a única parte intacta, mas estranhamente não consigo ver o que está lá fora. É como se uma luz gingante estivesse apontada para a porta de entrada, mesmo no lugar certo.
Suspiro e dirijo-me para a receção.
Sento-me na cadeira e pego num jornal que se encontrava na secretária.
Na capa estava duas fotos uma de um homem e outra de um hospital.
-"Homem genial contra maneira ideal de por ordem no mundo"? – o homem parece-me familiar.
-Interessante... – Ichiro apoiado na secretária diz – Este lugar é bem esquisito, não é?
-Verdade. Quando chegaste aqui?
-Alguns segundos, quando estavas a ler o jornal. – ele sorri – Tiveste saudades?
Tive.
-Porque haverias de ter?
-Magoaste-me o coração – ele parece magoado – Eu pensava que tínhamos algo!
Rio-me.
-És um ator terrível. O que achas que aconteceu aqui? É bem diferente do resto do hospital.
-Talvez esse hospital da foto seja este.
-E só se manifesta aqui na entrada?
-Se calhar? E o que diz a noticia sobre esse "génio"?
-"Takashi Suzuki, cientista, psiquiatra e diretor do hospital psiquiátrico da cidade de ----------, construído à mais de um século, testa um novo vírus que consegue apagar e/ou modificar memórias, que poderá ser usado como arma para a guerra contra ---------- ou como penalização de atos contra o governo.
Na entrevista com o senhor, foi explicado de que a sua ideia para esse vírus veio de um dos seus pacientes que lhe disse que "As pessoas são alteradas devido às memórias que têm.".
O vírus é também capaz de criar uma "realidade virtual" analisando as memórias da pessoa e mantendo-a num coma permanente.
Até agora nenhuma pessoa dentro do teste conseguiu acordar-"
Ichiro pergunta:
-Não há mais?
Tiro o item que tenho guardado do bolso direito. O cartão do homem genial. Viro-o para Ichiro.
-Ele é o teu pai, não é?
Ichiro olha para o cartão intensamente.
-Sim.
-E foi ele que criou o vírus do jornal, não foi? Esse é o seu projeto não é?
Ichiro acena afirmativamente com a cabeça.
-Posso perguntar-te mais uma coisa?
-Claro, Aya-chan. Podes-me perguntar tudo!
Engulo em seco e suspiro.
-Eu faço parte desta experiência não é?
"Ichiro", ou pelo menos a imagem dele, risse.
-Bingo! És a primeira pessoa a se lembrar, parabéns. Acho que vais querer uma explicação não é?
-Sim, quero.
-Bom, como podes ou não saber tu és uma paciente do Dr. Suzuki e foste feita de cobaia dele, ou pelo menos uma das cobaias.
-Porque é que estou num centro psiquiátrico?
"Ichiro" sorri.
-Porque és maluca! Bom, na verdade tens um problema mental, transtorno dissociativo de identidade, ao seja, por causa do trauma da tua infância criaste uma outra personalidade, uma bem agressiva, que tentou matar os teus colegas de turma, isso foi há cerca de 4 anos.
Como é que é isto possível? Eu sou completamente sã!
Ele parece ler os meus pensamentos.
-Achas que eu estou a mentir? O que ganharia com isso? Posso ser um vírus mas não sou assim tão ganancioso. – ele pisca o olho – Tu já devias saber. A-y-a-c-h-a-n...
-Então isto – aponto para o lugar – é tudo mentira?
O vírus olha para o lugar e pensa um pouco na resposta, depois vira-se novamente para mim e responde.
-Mais ou menos. Eu posso ter usado uma ou outra memória para construir mas na maioria, sim, é tudo mentira.
-Então o que é real?
-As pessoas. Ou melhor, as memórias das pessoas. Bom, é mais fácil dizer-te a história não?
Aceno com a cabeça.
-Começamos por onde – ele pensa – Bom, quando tinhas 17 anos tentaste matar os teus colegas, foste hospitalizada quando no julgamento culparam a tua doença pelos teus atos, foste assinalada como paciente do Dr. Suzuki, um dia conheceste os queridos gémeos Suzuki e apaixonaste-te pelo playboyzinho, como o chamavas, - ele risse – quando Ichiro descobre que tu serias a próxima cobaia das experiências do pai foge contigo e com a irmã para fora da cidade, lá têm aventuras durante 3 anos, bom, acho que sabes o que aconteceu nesses 3 anos.
-Mayu é violada pelo rapaz que encontramos chamado Ryan, ela morre depois e Ichiro tenta cometer suicídio depois de entrar numa depressão, depois andamos juntos. Correto?
O vírus acena com a cabeça.
-Depois ambos acabam por ser capturados pela policia, não sei o que aconteceu com Ichiro pois tu também não sabias e só tenho os dados das tuas memórias, o Dr. Suzuki programa-me para nunca te deixar sair deste pesadelo e ya, é isso.
-Se foste programado para nunca me deixar sair, porque é que estás a dizer isto tudo e a ajudar-me?
Ele olha para baixo.
-Tu já sofreste tanto na tua vida, não é justo teres de sofrer mais. Acho que comecei a gostar de ti.
Abraço-o.
-Obrigado.
-De nada, Aya-chan. Tu mereces ser feliz. Agora vai, haveremos de nos encontrar novamente.
O vírus beija-me e tudo o que eu vejo é negro.
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Memento Mori - Lembrem-se Que Somos Mortais
Mystery / ThrillerAya era uma rapariga normal de 17, até que um dia acorda num quarto de hospital. Encontrando o lugar abandonado, a rapariga tenta encontrar o motivo de isto tudo estar a acontecer. A partir desse momento a sua vida parece dar uma reviravolta, que...