A pergunta continuava a ressoar dentro da cabeça de Toni: por quê?
Seu afonso, preso? Por quê? Acusado de quê? Como é que o contador da escola podia ter sido levado da sala da diretoria por dois policiais, algemado como um bandido qualquer? Logo o contador do colégio Professora Cidinha Moura, instituto de educação mais antigo e famoso do cidade?
Seu Afonso, preso! O pai da Carla, aquela menina maravilhosa da outra sala da oitava... A linda Carla... Toni sabia que ela era linda, que era a mais linda de todas as garotas da escola...
O garoto só não sabia o que pensar...
"Ainda ontem à noite... eu... com mamãe... falamos do seu Afonso...e... e da Carla! Por causa do baile do fim do ano... Eu estava tão feliz... Comecei até perguntando por que mamãe nunca mais namorou...
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-Por que vc nunca mais namorou, mãe?
-Ora, Toni! Isso é coisa q se pergunte a própria mãe?
_Se a própria mâe está viúva há oito anos, é para a própria mãe que eu tenho de fazer essa pergunta,não é?
_Tem muito"propria mãe" nessa frase,meu filho!
Os dois riram.
O pequeno Chip,deitado no tapete, latiu, como se tivesse entendido a brincadeira.
Pelo menos em muitas das noites era assim.Depois que a mãe voltava do trabalho no hospital, os dois jantavam juntos, conversando sem parar, e ligaram o som.Dancar era antiga paixão da mãe, introduzida desde cedo na educação de Toni.
Marta era ainda uma bela mulher, nos seus pouco mais de trinta anos. Passara um quarto de sua vida como viúva e, pelo jeito, passaria mais. Trabalhava como enfermeira durante o dia inteiro e ia consequindo transformar em homem o menino que o pai deixara órfão há oito anos.
Toni sabia que o casamento dos pais tinha sido curto. Pela jeito, a morte não gosta de felicidades perfeitas...Marta parecia viver somente das recordações desse casamento que o passar do tempo tornava cada vez mais perfeito: a memória teima em esquecer detalhes ruins que poderiam prejudicar a lembrança do que se gosta de lembrar.
E toni era a lembrança do marido de que ela mais gostava.
_Hum...Como você está guiando bem, meu filho..._cumprimentou a mãe quando a música chegou ao fim._Ah, agora lembrei: preciso preparar você para a festa do fim do ano!
_Que festa,mãe? A do centenário do Cidinha?
_ Ai,Toni! Você esqueceu que a festa do centenário da escola coincide com sua festa de formatura? E eu ainda não te ensinei a dançar valsa!
O rapaz fez cara de chateado:
_Valsa mãe!Mas que velharia!
Desde pequeno,desde que o pai era vivo,Toni tinha aprendido a gostar de música. De todo tipo de música,mas,depois que atingiram a adolescência,seu gosto estava mais para popular do que para clássicos.
Marta não ligou para a objeção do filho e pôs-se a procurar na pequena estante.
Você estuda num colégio tradicional,querido. Ninguêm pode imaginar um baile de formatura no Cidinha sem valsa...-afastou as fitas e começou a examinar uma pilha de velhos discos.-Deixa ver...valsa só tenho em vinil... Há quanto tempo a gente não ouve esses discos! Aqui está: Valsas inesquecíveis-johann Strass!
_ Valsas inesquecíveis,mãe...?! Isso todo mundo já esqueceu faz tempo..._mentiu Toni,que ja ouvira aquele disco umas mil vezes.
Marta ligou o toca-discos. Um som de violinos,cheio de chiados,preencheu a sala e a mãe apraximou-se do filho. O rapaz sorriu,aceitando o jogo. Tinha extrema facilidade para aprender novos passos e, depois de duas voltas, já estava guiando a mãe em círculos pela pequena sala da casa.
A mãe fez uma cara gozadora:
_ Não é gostozo, Toni? Em toda formatura tem valsa. A das madrinhas é minha. E com quem você vai dançar a valsa dos namorados?
O rapaz parou de dançar subitamente.
_ O que foi,filho?
Toda a alegria do momento parecia ter desaparecido. O rapaz ficou vermelho e explodiu:
_ Eu não sou como os outros,mãe! Nunca poderei ser como os outros! Quem vai querer namorar alquém como eu?
...........Já estava mais calmo guando a mãe saiu do quarto,depois de beijá-la.Ela sabia como animar animar o filho. Repetiu mais algumas vezes que ele era igual a qualquer um,que poderia fazer o que quisesse na vida. Não freqüentava a melhor escola da cidade? E sempre se saindo muito bem,embora fosse o único aluno " especial" que já tinha estudado na Cidinha em todos aqueles cem anos? Não tinha até consequido aprender a usar computadores,enquanto a maioria de seus colegas ainda estava só nos videogames? Não dançava melhor do que qualquer um? Não nadava melhor do que todos?
O único aluno "especial" do Cidinha! A moderna pedagonia,para garotos como ele, recomendava a educação integrada e não segregada. Tradicionalmente,a direção reserva uma parte de suas vagas para bons alunos sem recursos, era "especial". O Cidinha era duro demais e continuava recusando-se a ampliar as vagas para outros como ele. Toni era uma exceção na história daquele colégio.
Chip dormia quietinho,ao pé da cama,sempre no mesmo lugar,ao lado dps chinelos do garoto.
Toni começou a sentir o sono chagar,acariciando a idealização daquela menina que ele acompanhava há anos no colégio,sem nunca ter encontrado coragem para abordá-la. Daquela menina com quem ele gostaria de dançar a tal valsa. Daquela menina com quem ele gostaria de viver o resto da vida. Daquela menina chamada Carla...
Já tinha aprendido o que queria dizer"amor platônico",mas não era esse tipo de amor que ele gostaria de trocar com Carla. Ah,ele queria mais,muito mais!
O cachorrinho ressonou,como se sonhasse.
Alquém como Toni poderia sonhar com a chamce de um dia ter Carla a seu lado?
Sonhou que sim.
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O Grande Desafio
ActionTomi era um garoto muito especial. Intelegente, excelente nadador e fera em computadores. Com muito bom humor, podia fazer melhor tudo o que um grande garoto de sua idade fosse capaz... ou quase tudo. O que fazer então para conquistar Carla? Estav...