Capítulo 5 ♡

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4 de março de 2001
         7h30

Passou um tempão desde a última vez que escrevi e quase nada mudou. Passei
todos esses meses me arrastando, carregando nos ombros a minha incapacidade de me
adaptar ao mundo; só vejo mediocridade ao meu redor e só a idéia de sair já faz com
que eu me sinta mal. Para ir aonde? Com quem?
Nesse meio tempo, meus sentimentos por Daniele aumentaram. Agora sinto que
o desejo de fazer com que ele finalmente seja meu está explodindo.
Nunca mais nos vimos desde aquela manhã em que fui embora da casa dele
chorando e só ontem um telefonema dele rompeu a monotonia que me acompanhou esse
tempo todo. Espero tanto que ele não tenha mudado, que tudo nele tenha ficado igual ao
que era naquela manhã em que travei conhecimento com o Desconhecido.
Ouvir sua voz despertou-me de um longo e pesado sono. Perguntou como eu ia,
o que tinha feito naqueles meses e depois, rindo, perguntou se meu peito tinha crescido
e eu respondi que sim, embora não seja verdade. Depois de ter usado todas as palavras
de praxe, eu disse a mesma coisa que tinha dito naquela manhã, isto é, que eu estava
com vontade de transar. Naqueles meses a vontade tinha se tornado torturante; eu me
toquei como uma louca, e tive milhares de orgasmos. O desejo tomava conta de mim até
durante as aulas, e nessas horas, segura de que ninguém estava me olhando, apoiava o
meu Segredo no pedestal de ferro do banco e fazia uma leve pressão com o corpo.
Estranhamente, ontem ele não riu de mim, pelo contrário, ficou em silêncio
enquando eu confessava minha vontade e disse que não tinha nada de estranho, que era
justo que eu tivesse certos desejos.
- Aliás disse ele -, como eu já te conheço faz um tempinho, posso te ajudar a
realizá-los.
Eu suspirei e sacudi a cabeça:
- Em oito meses uma menina pode mudar e compreender certas coisas que não
entendia antes. Daniele, é melhor você dizer logo que não tinha ninguém disponível e
que de repente (e finalmente, pensei comigo) se lembrou de mim - estourei.
- Você está completamente maluca! Vou desligar, não tem sentido ficar falandocom uma pessoa que nem você. Com medo de que ele batesse outra vez a porta na minha cara, respondi
submissa com um não implorante e depois:
- Está certo, tudo bem. Desculpe.
- Bem, estou vendo que você ainda consegue raciocinar... tenho uma proposta
para você - disse ele.
Curiosa pra saber o que ele ia dizer, pedi de maneira infantil que ele falasse logo
e ele disse que faria o que eu queria, mas só se não houvesse nada entre nós além de
uma história de sexo e que a gente só se procurasse quando sentisse vontade. E eu
pensei que, a longo prazo, também uma história só de sexo pode se transformar em
história de amor e afeto. Mesmo que não aconteça no início, vai acontecer com o
costume. Eu me dobraria à sua vontade, desde que ele realizasse os meus caprichos:
seria a sua pequena amante com prazo de vencimento; quando ele cansasse, poderia me
dispensar sem problema. Vista dessa maneira, a minha primeira vez podia parecer um
verdadeiro contrato, só ficava faltando um documento escrito para carimbar e selar um
acordo entre uma criatura muito esperta e uma criatura muito curiosa e desejosa, que
aceitou o pacto de cabeça baixa e com o coração que por pouco não explodia.
Mas espero que corra tudo bem, porque essa lembrança eu quero conservar
dentro de mim para sempre e quero que seja bonita, luminosa, poética.

15h18

Sinto meu corpo arrasado e pesado, inacreditavelmente pesado. É como se
alguma coisa muito grande tivesse caído em cima de mim e me esmagado. Não me
refiro à dor física, mas a uma dor diferente, por dentro. Dor física eu não senti nem
quando estava por cima...
Hoje de manhã peguei meu scooter na garagem e fui até a casa dele no centro.
Ainda era bem cedo, metade da cidade dormia e as ruas estavam quase vazias; de vez
em quando algum caminhoneiro buzinava forte e gritava um elogio. Eu sorria um pouco
porque pensava que os outros estavam percebendo a minha alegria, que me deixa mais
bonita e luminosa.
Quando cheguei na frente da casa, olhei o relógio e me dei conta de que estava
tremendamente adiantada. Me sentei no scooter, abri a pasta e peguei o livro de grego
para repassar a lição que deveria ter feito na aula dessa manhã (se meus professores
soubessem que matei aula para ir pra cama com um menino!). Mas eu estava ansiosa e
folheava e voltava a folhear o livro sem conseguir ler uma palavra, sentia o coração
pulsando rápido, sentia o sangue escorrer velocíssimo dentro das minhas veias, debaixo
da pele. Larguei o livro e fui me olhar no espelhinho do scooter. Pensei que ele ia adorar
os meus óculos cor-de-rosa em forma de gota e que o poncho preto nos meus ombros ia
deixá-lo de boca aberta; sorri mordendo os lábios e me senti orgulhosa de mim mesma.
Faltavam só cinco para as nove. Não seria nenhum drama se eu tocasse a campainha um
pouco adiantada. Logo depois de ter interfonado, eu o vi de relance atrás da janela, sem camisa.
Ele levantou a persiana e disse com uma cara e um tom duros, irônicos:
- Faltam cinco minutos, fica aí esperando, eu te chamo às nove em ponto.
Naquele momento, eu ri estupidamente, mas agora, pensando na história, acho
que era uma mensagem esclarecendo quem é que decidia as regras do jogo e quem tinha
que respeitá-las.
Ele apareceu na varanda e disse:
- Você já pode entrar.
Nas escadas senti cheiro de xixi de gato e de flores apodrecidas, ouvi uma porta
abrir e subi os degraus de dois em dois, porque não queria atrasar nada. Ele tinha
deixado a porta aberta e eu entrei chamando baixinho por ele; ouvi uns barulhos na
cozinha e fui naquela direção, ele veio a meu encontro e me parou com um beijo na
boca, rápido, mas ótimo, que me fez recordar o seu gosto de morango.
- Vai por ali, eu chego em um segundo - disse indicando o primeiro quarto à
direita.
Entrei no quarto dele, completamente bagunçado, era evidente que tinha
acordado há pouco, junto com seu dono. Na parede, umas placas de carro americanas,
cartazes de mangá e várias fotos de suas viagens. Na mesinha-de-cabeceira, uma foto
dele quando criança que eu toquei devagarinho com um dedo. Atrás de mim, ele deitou
a moldura dizendo que não era para eu olhar.
Agarrou-me pelos ombros e me fez girar, examinou-me atentamente e exclamou:
- Mas que porra de roupa é essa?!
- Vá se foder, Daniele! - respondi, mais uma vez magoada.
O telefone tocou e ele saiu do quarto para atender; eu não conseguia ouvir
direito o que ele estava dizendo, só uns pedaços de palavras e risinhos sufocados. Mas
numa hora eu ouvi:
Espera aí. Vou lá olhar e já te digo.
Enfiou a cabeça pela porta e olhou para mim. Voltou para o telefone e disse:
Está em pé perto da cama com a mão no bolso. Agora eu vou comer ela e depois
te conto. Tchau!
Voltou com uma cara sorridente e eu respondi com um sorriso nervoso.
Sem dizer nada, ele abaixou as persianas e fechou a porta do quarto a chave; olhou-me por um instante e abaixou as calças, ficando de cueca.
- E então, o que você está fazendo vestida? Tira a roupa, né? disse com uma
careta no rosto.
Ficou rindo enquanto eu tirava a roupa. Quando fiquei completamente nua, ele
falou inclinando um pouco a cabeça:
- É, até que você não é tão ruim assim. Acabei fazendo um acordo com uma
gata...
Dessa vez eu não ri, estava nervosa, olhava para meus braços brancos e
imaculados que brilhavam com os raios que passavam pela janela. Ele começou a me
beijar no pescoço e foi descendo mais pra baixo, até os seios e depois até o Segredo,
onde o Leres* tinha começado a correr.

* O Leres é um dos cinco rios do Inferno, cujas águas dão aos mortos que dela bebem o
esquecimento da vida terrena. (N. da T.)

- Por que você não se depila? sussurrou ele.
- Porque não - falei com o mesmo volume de voz - eu prefiro assim.-
Abaixando a cabeça, eu podia ver a sua excitação e então perguntei se ele queria começar.
- Como é que você quer fazer? perguntou ele sem perder tempo.
- Sei lá, fala você... eu nunca fiz antes - respondi com um pouquinho de
vergonha.
Deitei na cama desfeita e nos lençóis frios. Daniele deitou por cima de mim,
olhou direto dentro dos meus olhos e disse:
Fica por cima.
Não vai me machucar se eu ficar por cima? perguntei com um tom que era quase
uma censura.
Não tem importância! - exclamou sem me olhar.
Montei em cima dele e deixei que sua haste mirasse bem no centro do meu
corpo. Senti um pouco de dor, mas nada de terrível. Aliás, senti-lo dentro de mim
também não provocou aquela loucura que eu estava esperando. O sexo dele dentro de
mim só provocava queimação e incômodo, mas agora eu tinha que ficar grudada nele
daquela maneira.
Nem um gemido saiu dos meus lábios, mas dei um sorriso. Querer que ele
soubesse da minha dor seria expressar os sentimentos que ele não queria conhecer. Ele
quer usar o meu corpo, não quer conhecer minha luz.
- Calma, menina, não vou te machucar - disse.
- Fica tranqüilo, não estou com medo. Você não quer ficar por cima? - pedi com
um leve sorriso. Ele concordou com um suspiro e se jogou por cima de mim.
- Está sentindo alguma coisa? - perguntou quando começou a se mexer
devagarinho.
- Não - respondi, pensando que ele estava falando da dor.
- Como não? Será a camisinha? - Sei lá - continuei -, não estou sentindo
nenhuma dor.
Ele me olhou desgostoso e disse:
- Mas você não é virgem, porra!
Eu não respondi logo, olhando-o embasbacada:
- Como não? Desculpe, como assim?
- Com quem você transou, hein? - perguntou, enquanto se levantava apressado,
catando as roupas pelo chão.
- Com ninguém, juro! - disse bem alto.
- Bem, por hoje é só.
O resto é inútil contar, diário. Fui embora sem coragem nem pra chorar ou gritar,
só com uma tristeza infinita apertando meu coração e devorando-o bem devagar.

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